Cidades

Cratera cresce em favela no Jacintinho e amedronta moradores

Na Grota do Pau d’Arco buraco cresce a cada dia e algumas casas sofrem ameaça de serem engolidas

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 21/06/2025 09h01 - Atualizado em 21/06/2025 12h52
Cratera cresce em favela no Jacintinho e amedronta moradores
Com o período chuvoso, perigo de deslizamento cresce e moradores temem que residências sejam atingidas - Foto: Adailson Calheiros

A comunidade da Grota do Pau d’Arco, no Jacintinho, está assustada com a cratera gigante que divide as duas principais ruas do local. O buraco não para de crescer.

A voçoroca faz uma espécie de divisão entre os vizinhos. Deixando ambos os lados da rua incomunicáveis, especialmente, nos dias de chuva quando aumenta consideravelmente a vazão dos canos por onde passa o fluxo intenso de esgotos.

A auxiliar de serviços gerais Jeane da Silva, 51 anos, mora em frente ao buraco gigante. Com uma vista nada privilegiada e assustadora, ela acompanha, a cada inverno, a cratera ganhar mais centímetros de diâmetro e profundidade.

Com o segundo neto nos braços, não se preocupa muito com o bebê de alguns meses. Sua atenção recai sobre o neto mais velho que costuma, junto aos amigos, pedalar e correr “ladeira abaixo”, ignorando o perigo. Em dias de chuvas, chega a formar lodo no chão.

“Quando chego do trabalho, tenho os afazeres domésticos dentro de casa, mas sempre passo maior parte do tempo na calçada, vendo o meu neto mais velho e os amigos deles brincarem. Os meninos não têm culpa. Querem se divertir e não tem onde. A única opção é correr na rua mesmo. O problema é esse precipício bem na porta da minha casa e bem no meio da rua”, reclamou.

Jeane da Silva contou que já viu um vizinho morrer, há alguns anos, bem diante da sua casa. Segundo ela, o senhor, um idoso, saiu de casa, se desequilibrou e caiu ribanceira adentro. Teve o corpo resgatado e nada foi feito para tentar conter o avanço do buraco gigante.

“Já perdi a conta de quantos gatos e cachorros caem na ribanceira. Alguns são salvos pela boa vontade dos donos que logo chamam os vizinhos para ajudar a segurar a corda e tentar puxar o animal. Claro que quem cria animal, tem amor pelo bichinho, mas também ninguém quer arriscar a própria vida. Se ficar muito difícil puxar o bichinho, o jeito é deixar a vontade do Senhor prevalecer”, contou, sem muita esperança.

O perigo parece ser ainda maior quando por um espaço bastante estreito e totalmente “oco” por baixo passam, além de pedestres, bicicletas e motocicletas.

A Defesa Civil de Maceió informou que já acompanha a situação do local.

Situação grave deixa os habitantes do local sem esperança

Ao ouvir o barulho das motos, os pedestres se espremem nas calçadas para darem lugar à passagem das motocicletas. Primeiro porque realmente o espaço não cabe, segundo porque ou o pedestre ou o motociclista ficará a poucos e perigosos centímetros da ribanceira.

O estudante Eduardo dos Santos Rocha, tem 22 anos, e é um dos que faz parte do revezamento dos vizinhos que ficam acordados em noites chuvosas.

“Essa cratera já é temerosa em dias de verão. Nos dias de inverno, então, nosso receio dobra. O esgoto corre junto à água de chuva fazendo um barulho assustador. Uma zoada que parece uma enxurrada, nunca vi tanta água junta. E esse volume vai aumentando a profundidade e a largura da cratera. Não acho que vá demorar muito para engolir as casas mais próximas”, desabafou.

A cozinheira Joselda Amorim, 40 anos, é obrigada a atravessar todos os dias com a família bem pertinho da cratera. É o único caminho que tem para fazer para ir e vir do trabalho.

Ela admitiu que a travessia é um dos momentos mais tensos do dia. Nada a aflige tanto quanto passar pelo local. Nem mesmo, disse ela, a correria dos afazeres no trabalho.

“Já não tenho mais esperanças de que vão fazer nada para conter esse buraco. Só cresce e, claro, fica mais perigoso a cada dia. Mais uns meses e acho que a gente vai ficar ilhado em casa, sem opção de deslocamento”, afirmou.

A comunidade disse que, após várias denúncias, a prefeitura esteve no local e fez um “isolamento precário” com um material de plástico na cor laranja que parece uma “rede de pescador”, todo vazado.

A cratera no Jacintinho é uma das 17 existentes em Maceió e mapeadas por um estudo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). As pesquisas da Universidade mostram também voçorocas no Tabuleiro dos Martins, na Chã da Jaqueira, na Chã de Bebedouro, no distrito de Fernão Velho, na Serraria, no Feitosa, no Sítio São Jorge em Jacarecica, em Ipioca, Riacho Doce e na Pescaria.

A voçoroca é um fenômeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão causados pela chuva e intempéries. A erosão acontece em solos onde a vegetação é escassa, deixando o solo vulnerável ao carregamento por enxurradas.

A água da chuva, ao invés de infiltrar no solo, corre pela superfície e, em áreas sem cobertura vegetal, começa a escavar sulcos. Esses sulcos vão se tornando maiores e mais profundos, formando buracos ou crateras. Práticas como o desmatamento, a construção de estradas, a mineração e a agricultura intensiva podem acelerar a erosão e a formação de voçorocas.

Prefeitura de Maceió – A Defesa Civil de Maceió informou que já acompanha a situação do local e está realizando os encaminhamentos necessárias à Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), para que sejam realizadas as intervenções necessárias.