O solo veio à tona e levantou parte do asfalto, fazendo jorrar uma lama barrenta, num trecho da Avenida General Hermes, em frente à antiga Igreja Matriz da Paróquia do Bom Parto, que foi desativada por conta da mineração da Braskem.

“A gente tem com medo, porque o chão rachou a surgiram essas bolhas, como essa lama barrenta vindo de debaixo do solo, parecendo lavra de vulcão”, afirmou a dona de Maria Auxiliadora dos Santos, que reside no Bom Parto.

Segundo ela, os moradores ficaram assustados quando o “fenômeno” eclodiu nessa quinta-feira (5/6), pela manhã. Logo em seguida, máquinas na prefeitura estiveram no local e iniciaram o serviço de recomposição da pista danificada.

Para Maurício Sarmento, integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), a situação dos moradores da comunidade do Bom Parto está cada vez mais arriscada, mas a Defesa Civil de Maceió, até o momento, não reconhece esse risco.

“Não temos mais paz. As nossas vidas foram completamente transformadas pelos impactos devastadores da mineração — e essa é mais uma prova do que estamos sofrendo”, afirmou Sarmento, cobrando uma explicação das autoridades.

Segundo ele, a causa deve ser a subsidência do solo, provocada pela mineração predatória da Braskem, durante quase 50 anos de exploração de sal-gema, na região. “A gente aguarda uma explicação da empresa, mas até agora nada”, destacou.

CHUVAS

De acordo com moradores, as rachaduras no solo aumentaram depois das chuvas que castigaram a capital alagoana da semana passa para cá. “Além dessa lama que aparece quando o asfalto vem à tona, várias rachaduras surgiram ao logo da avenida, beirando o meio-fio”, observou um funcionário da Secretaria Municipal de Educação (Semed).

Segundo ele, que pediu anonimato, há rachaduras também no prédio da Secretaria e das casas que ficam na vizinhança. “O defensor público Ricardo Melro já estive aqui, fez imagens e postou as rachaduras do prédio da Semed, nas redes sociais, mas a Defesa Civil insiste em dizer que não há risco”, acrescentou.

No final da manhã, segundo esse servidor público, as máquinas de uma construtora, contatada pela Braskem, trataram de fechar a fenda que se abriu na pista da avenida principal do bairro. O trecho recuperado fica logo depois do Ginásio de Esportes Tenente Madalena, que está completamente deteriorado e abandonado.

Abel Galindo e Braskem atestam tratar-se de problema simples da obra

O engenheiro Abel Galindo, professor aposentado do curso de engenharia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), esteve no local para fazer uma averiguação e disse que não se trata de nada especial ou fora da normalidade. “A Braskem está trocando a tubulação de água, tirando os dutos antigos e colocando tubulação nova. Nesse processo de escavação subterrânea, para a substituição dos dutos, deve ter surgido um vazamento que provocou esse derramamento de lama no asfalto”, explicou Galindo.

Para o defensor público Ricardo Melro, que recentemente fez uma inspeção na Secretaria Municipal de Educação e em residências de moradores do bairro, disse que depois das chuvas outros trechos nos bairros que afundam apresentaram problemas no solo. “Não é só lá no Bom Parto. Ontem (quarta-feira) fui na Rua Miguel Palmeira, no Farol. Várias rachaduras [sugiram] de 15 dias para cá”, afirmou Melro, que defendendo uma revisão no mapa de risco da Defesa Civil Municipal.

OUTRO LADO

A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir a Braskem, para saber o que teria provocado o rompimento da pista e o surgimento dessa lama barrenta, que vem do subsolo, jorrando mole no asfalto e assustando as pessoas, que moram no Bom Parto. Por meio de nota, a empresa se manifestou, por meio da sua assessoria de comunicação, dizendo que está tudo sob controle e que não há risco nenhum para a população.

Por meio de nota, Braskem diz que não há riscos à segurança dos moradores.

Veja, na íntegra, as explicações da Braskem:

“Empresa especializada contratada pela Braskem está trabalhando na instalação de tubulação de aço carbono para substituir parte de uma antiga adutora. Durante uma das etapas da obra, realizada sob a Avenida General Hermes, houve surgimento de lama na superfície decorrente da passagem da tubulação, ocasionando danos ao pavimento da rua.
O método utilizado de perfuração direcional, em substituição ao método tradicional de abertura de valas, é também adotado em obras de saneamento básico.

Importante esclarecer que o ocorrido não tem relação com a subsidência ou com as cavidades em processo de fechamento. O ocorrido não acarretou riscos à segurança dos moradores nem aos trabalhadores da obra. A troca da tubulação também não oferece risco aos imóveis localizados na avenida.

A comunidade foi informada previamente da realização dessa obra, e as medidas para limpeza e recuperação da via já estão em andamento”.