A sessão ordinária do Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), realizada na terça-feira (6), teve como pauta central a crescente insegurança no Campus A.C. Simões, em Maceió, especialmente no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca), onde as aulas chegaram a ser suspensas no início deste semestre. Ainda não saiu a decisão sobre a entrada da Polícia Militar no campus, mas o colegiado superior autorizou aproximação com a Secretaria de Segurança Pública (SSP).

A reunião teve início pela manhã e se estendeu até a tarde, quando foi discutida a temática da segurança. Presidida pela vice-reitora, professora Eliane Cavalcanti, a reunião foi marcada por intensos debates e, após ampla discussão, o Consuni deliberou autorizar a gestão universitária a iniciar tratativas com as forças de segurança do estado, com o objetivo de buscar alternativas para a crise vivida no campus.

No entanto, a decisão sobre uma possível entrada da Polícia Militar nas dependências da Ufal foi adiada. Para acompanhar o processo, foi criada uma comissão emergencial composta por dois professores, dois estudantes, dois técnicos e representantes da Reitoria, responsável por acompanhar o diálogo da gestão com a SSP e trazer à próxima reunião do Consuni as propostas, equipamentos e termos de possíveis acordos.

O caso

A decisão vem em resposta às situações de violência relatadas pela comunidade universitária. Técnicos do Ichca denunciaram, em janeiro deste ano, ameaças diretas e a paralisação das atividades por falta de segurança. “Havia pessoas alheias à universidade circulando diariamente e nos intimidando. Chegamos a ter medo até de sair do prédio, sentindo-nos constantemente vigiados”, relataram os servidores durante a reunião.

Estudantes também se manifestaram, expressando preocupações tanto com os episódios de violência quanto com a estigmatização crescente da comunidade acadêmica. Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) citaram casos de busca e apreensão de drogas no campus em 2024.

Os estudantes também exemplificam um episódio de espancamento de um aluno pela PM, apontando para uma escalada da violência e para os riscos de soluções simplistas. “Não é só colocar a PM no campus. A experiência mostra que isso pode piorar o problema. Precisamos de diálogo e alternativas estruturais”, disseram.

Críticas também foram feitas ao modo como estudantes da Ufal vêm sendo retratados na mídia, especialmente após uma reportagem publicada em 30 de janeiro de 2025, que associou indevidamente alunos a tráfico de drogas, fato repudiado por vários segmentos da Universidade.

O Fórum de Diretores das Unidades Acadêmicas e dos campi fora de sede da Ufal divulgou nota de apoio à direção do Ichca, à professora Sandra Nunes e ao professor Marcos Moreira, além de reafirmar o compromisso com ações emergenciais e estruturais de segurança, com respeito à dignidade da comunidade universitária.

A professora Taynam Bueno, coordenadora do curso de Filosofia, ressaltou que não se pode tratar a insegurança apenas com medidas repressivas: “O prédio do Ichca está abandonado, sem infraestrutura mínima, sem iluminação, sem salas adequadas. A entrada da PM, sem reformas estruturais, não resolverá o problema,” disse ela.

Ao final da sessão, a professora Eliane Cavalcanti reforçou o compromisso da gestão com a decisão coletiva. “Não tomaremos nenhuma decisão unilateral. Vamos trabalhar juntos, com responsabilidade e diálogo. Estamos lidando com vidas. Esta é uma comunidade que precisa de união para superar os desafios”, justificou a vice-reitora.