Cidades

Vítimas da Braskem pedem na Justiça novo cemitério em Maceió

Entidade diz que crime socioambiental provocou colapso funerário na capital e não existe solução à vista

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 18/12/2024 08h56 - Atualizado em 18/12/2024 15h37
Vítimas da Braskem pedem na Justiça novo cemitério em Maceió
Cemitérios de Maceió estão com capacidade esgotada, como o São José, no Trapiche da Barra, que realiza sepultamentos em covas rasas - Foto: Edilson Omena

A Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) ajuizou uma ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, na Justiça Federal em Alagoas, contra a Braskem e a Prefeitura de Maceió.

A ação destaca o colapso do serviço funerário municipal, agravado pela interdição do Cemitério Santo Antônio, situado em uma área de risco causada pelo desastre geológico associado à exploração mineral da Braskem.

“A crise funerária se reflete em enterros em covas rasas, longas filas para sepultamento e outras violações ao princípio da dignidade humana. Apesar do acordo firmado em 2023, que destinou R$ 1,7 bilhão da Braskem à Prefeitura de Maceió para solucionar problemas socioambientais, nenhuma medida concreta foi tomada para implementar um novo cemitério, conforme previsto no pacto”, afirmou o MUVB.

Diante da proximidade do pagamento da última parcela desse acordo, o coordenador do Movimento, Cássio Araújo, disse que, na ação, pediu o bloqueio judicial do valor até que seja apresentado um projeto efetivo para a construção de um cemitério fora da área de risco, com cronograma detalhado. Segundo Araújo, essa medida é essencial para garantir o direito a um sepultamento digno às famílias afetadas.

O coordenador do Movimento ressaltou ainda que a ação judicial tem como objetivo assegurar justiça às vítimas da Braskem e à população de Maceió, “que continuam a sofrer as consequências do desastre sem respostas adequadas das autoridades”.

A ação foi protocolada no início desta semana na 3ª Vara da Justiça Federal do Tribunal Federal da 5ª Região (TRF5).

Acordo

Na ação, o MUVB cita o acordo entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem, assinado em 20 de julho de 2023, cabendo ao município, na gestão do prefeito JHC (PL), receber uma verba indenizatória da mineradora no valor total de R$ 1,7 bilhão.

A última parcela desse acordo, no valor de R$ 250 milhões, teria que ser depositada na conta da prefeitura até 15 de dezembro.

“Com esse dinheiro, a Prefeitura de Maceió ficou de realizar uma série de obras na cidade que beneficiassem direta ou indiretamente a população atingida pelo afundamento do solo provocado pela Braskem. No acordo, além de escolas, creches, centros de referência social e obras de mobilidade urbana, a gestão JHC se comprometeu a construir pelo menos um cemitério, mas até agora nada”, relatou Cássio Araújo.

Ele lembrou que a crise funerária se arrasta desde o início do ano, foi denunciada à CPI da Braskem e é objeto de uma ação movida pela Defensoria Pública do Estado (DP/AL), mas até o momento está longe de ser resolvida. “Com isso, a população é penalizada, passando constrangimento, aguardando numa fila até três dias ou mais por uma vaga num cemitério público; e quando acha, o sepultamento é feito em cova rasa”.

Para comprovar essa realidade, Cássio Araújo destacou que, na ação, há uma série de reportagens sobre o assunto publicadas na mídia local e nacional.
Ele disse ainda que o MUVB encerra a ação solicitando da Justiça que dê um prazo de 15 dias à Prefeitura de Maceió para apresentar um plano de execução de obras que inclua a construção de um cemitério público na cidade.

Túmulos e jazigos no Cemitério Santo Antônio não podem mais ser visitados por familiares e parentes (Foto: Edilson Omena)

MUVB quer compensação a donos de jazigos do Cemitério Santo Antônio

Na ação, o Movimento pede ainda que a Braskem inclua no Programa de Compensação Financeira as famílias proprietárias de jazigos no Cemitério Santo Antônio, localizado em Bebedouro, que foi fechado por conta do afundamento do solo na região. A indenização deve ser feita considerando a lista dos proprietários de jazigos encaminhada este ano à Prefeitura de Maceió.

“Como nada de concreto e de efetivo aconteceu, a Defensoria Pública do Estado de Alagoas, atendendo a pedido formulado pelo MUVB, que ainda não tinha formalizado o seu pedido de registro no cartório de pessoas jurídicas, ingressou em 05/04/2024 com uma Ação Civil Pública para tratar da questão do Cemitério Santo Antônio e das medidas urgentes que precisariam ser tomadas”, disse Cássio Araújo.

A ação da DP/AL foi proposta na Justiça Estadual Comum, mas o juízo declinou da competência e remeteu para a Justiça Federal, onde tramita.

“Em 28 de novembro de 2024, foi realizada uma audiência de conciliação, determinando o magistrado que a prefeitura providenciasse a construção de um novo cemitério sob pena de ter a última parcela da indenização da Braskem bloqueada para garantir a resolução do problema”, acrescentou o coordenador do MUVB.

Outro Lado

Dentro do prazo determinado, a Prefeitura de Maceió apresentou um cronograma de atividades referente à “solução provisória, consistente na ampliação do Cemitério São Luiz, no bairro Santa Amélia”. Conforme o acordo firmado com a Braskem, seriam garantidos os direitos dos titulares da concessão de uso dos jazigos do Cemitério Santo Antônio.

“Para a manutenção da disponibilidade de jazigos, a indenização prevista no Termo de Acordo já contempla tanto a solução provisória, consistente na ampliação do Cemitério São Luiz, no bairro Santa Amélia, fora da área atingida pelo fenômeno geológico, como a solução definitiva de um novo cemitério fora da área atingida”, afirma a defesa da Prefeitura.

“O Município garantirá aos indivíduos que comprovarem ter direitos sobre jazigos no Cemitério Santo Antônio, a qualquer título que seja, jazigos no cemitério definitivo a ser implementado com fundamento no presente Termo de Acordo, comprometendo-se a manter a Braskem isenta de quaisquer responsabilidades perante os indivíduos, seja na esfera administrativa, seja na esfera judicial”, acrescentou.

Cássio Araújo quer novo cemitério com recursos repassados à prefeitura (Foto: Sandro Lima)

Ação pede bloqueio de dinheiro pago ao Município

Em razão da última parcela do Acordo entre Município de Maceió e Braskem ter vencido no último dia 15 e o Município de Maceió não ter adotado nenhuma providência para a “implementação de um novo cemitério fora da área atingida”, os dirigentes do MUVB decidiram pedir, na ação, que os recursos dessa parcela sejam destinados à construção do novo cemitério.

“O MUVB pede que esta parcela seja totalmente bloqueada e depositada em juízo, até que o Município resolva a questão”, disse Cássio.

Para isso, o Movimento sugere ainda a aquisição de um terreno para instalação do novo cemitério, fora da zona de risco.

Sugere ainda que a construção desse novo cemitério siga um cronograma físico e financeiro, devendo o valor específico para dar início às obras continuar bloqueado, sendo liberado paulatinamente de acordo com a evolução dos trabalhos realizados, devendo só então a diferença entre o custo da implementação do novo cemitério e o valor restante ser liberado.

A ação do MUVB foi protocolada é assinada pelos advogados Kleber dos Santos Silva e Pedro Brabo dos Santos.

NOVONOR

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo condenou a Novonor (a antiga Odebrecht) a pagar uma indenização de mais de R$ 8 bilhões à Braskem.
A decisão foi proferida na primeira instância e os advogados da Novonor ainda podem recorrer.

A ação foi movida em 2018 por dois minoritários da Braskem, incluindo o investidor Lírio Parisotto, que alegam que a Odebrecht exercia seu poder de controle de forma abusiva, causando danos à empresa.

A ação alega que houve três situações de danos: o desvio de R$ 513 milhões, além de outras situações.

O financiamento do processo foi feito pela Prisma Capital, uma gestora de investimentos alternativos.

A decisão pode estabelecer um precedente relevante na fiscalização da ação dos controladores e pode permitir que os minoritários invoquem a justiça para proteger seus direitos em caso de abuso de poder de controle.