Cidades

Defesa Civil de Maceió admite rever mapa de risco do caso Braskem

Órgão diz que “havendo necessidade, haverá a ampliação do mapa” para exclusão ou inclusão de áreas

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 10/12/2024 15h29
Defesa Civil de Maceió admite rever mapa de risco do caso Braskem
Foi realizada recentemente uma nova campanha para saber situação do solo na zona crítica atingida - Foto: Edilson Omena

A Defesa Civil de Maceió informou ontem (9/12), por meio da sua assessoria de comunicação, que foi realizada recentemente uma nova campanha para saber a situação do solo na zona de risco e um novo relatório será emitido ao final de dezembro. No entanto, ainda não há informações sobre mudanças no mapa de criticidade, que pode incluir novas áreas ou excluir outras que já não estariam mais dentro de zona de risco de afundamento do solo.

Por enquanto, “a recomendação do sistema de defesa civil, que inclui a Defesa Civil Nacional, Municipal e Serviço Geológico do Brasil (SGB) é que toda a área de criticidade 00 seja, e permaneça realocada”. Em nota sobre o assunto, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Maceió disse ainda que o mapa atual (versão 5) foi atualizado em novembro de 2023 e continua válido.

A assessoria da prefeitura, que é responsável pelas ações da Defesa Civil Municipal, disse ainda que “toda a região afetada [pela mineração da Braskem], tanto a área de realocação (00) quanto a de monitoramento (01), são monitoradas ininterruptamente por equipamentos que medem o movimento do solo em milímetros. Além dos equipamentos, há a visita periódica do Comitê de Acompanhamento Técnico, destinado exclusivamente para este fim”.

Questionada se tem algum estudo novo sobre o comportamento da zona de risco e com base nele a possibilidade de mudança no mapa de criticidade, a prefeitura disse que o monitoramento da área afetada pelo afundamento do solo é constante. Segundo as entidades em defesa das vítimas da Braskem, esse mapa estaria ultrapassado, mas a Defesa Civil negou essa informação e garantiu que mapa foi atualizado em 2023.

O questionamento foi feito pelo pastor Wellington Santos, da Igreja Batista do Pinheiro. Ele defende que o mapa de risco seja revisto para retirar o templo da zona de risco e colocar a comunidade dos Flexais, que está muita mais próxima das minas de sal-gema desativadas. “Se a igreja foi interditada porque se encontra numa área de risco, por que o trânsito na região, que é tão intenso e pesado, não foi interrompido?”, questionou o pastor.

“Nestes últimos tempos o argumento apresentado é apenas que toda área 00 seja e permaneça realocada. A questão é simples: O território segue em afundamento? Se sim, de que forma e em que velocidade? Se o território segue afundando ou é uma área de criticidade 00, logo muito perigosa, por que o trânsito segue fluindo na região? Prédios e equipamentos públicos seguem periodicamente sendo ocupados, com eventos e atividades que envolvem centenas de pessoas, e apenas o espaço da Igreja Batista do Pinheiro segue interditado?”, voltou a questionar o religioso.

IGREJA INTERDITADA

O pastor Wellington argumentou ainda que “se o território está sendo monitorado medindo em milímetros a movimentação do solo, qual a dificuldade de liberar nossas reuniões [na Igreja Batista do Pinheiro] uma vez por semana se é possível perceber que algo pode vir a acontecer com tempo hábil? Qual a movimentação racional aceitável de terra que possa ser possível ter atividades neste território? Quais às fontes citadas que justifiquem estas medições”.

Outro detalhe – acrescentou o pastor – “a propaganda da Braskem é que segue tamponando as minas em observação aos termos do acordo com Ministério Público Federal (MPF). O prazo final para este tamponamento está previsto para final de 2025 e meados de 2026. Ela afirma que o solo segue estabilizando. A Braskem estaria mentindo? O território segue estabilizando ou não? Tivemos alguma área que afundou e derrubou construções para justificar que numa área como a que estamos como Igreja, seja necessário manter nossa interdição?”.

“Redefinição do mapa de criticidade é muito mais política do que técnica”

Para o pastor Wellington Santos, a questão da redefinição do mapa de criticidade é muito mais política do que técnica. “O fato inconteste é que toda a área do Pinheiro em disputa é uma grande pérola imobiliária. Essa é uma grande realidade. Eu me refiro ao quarto crime em andamento, que é exatamente o crime da especulação imobiliária. Ninguém na sua racionalidade, nem a ciência, aceita essa história de que não tem como prevê se a terra estará estável daqui há 10 anos ou 100 anos. Afinal, nós temos tecnologia no país capaz de prospectar petróleo em águas profundas, no alto mar; será que não temos tecnologia para atestar a atual situação da estabilidade do solo nessa região?”.

Segundo ele, depois de pagar uma indenização de R$ 1,7 bilhão à Prefeitura de Maceió [em meados do ano passado], a Braskem se acha a dona de todo esse território considerado como área de risco. “A sensação que a nossa comunidade tem é que a Braskem exige [da prefeitura de Maceió] que essa área seja entregue limpa de problemas (entre aspas), limpa de pessoas que questionem todo esse processo de interdição. E nós nos sentimos interditados também do ponto de vista político”, destacou o pastor.

Ele disse ainda que a interdição de determinadas áreas não se deu por conta da preocupação com a vida das pessoas, se fosse assim outras áreas públicas ao redor, como uma creche instalada a poucos metros da Igreja, também teriam sido interditadas, mas não foram. A Defesa Civil Municipal alegando que essas áreas teriam como ser evacuadas em tempo hábil. “O cenário mudou, a comunidade dos Flexais continua sofrendo mais risco que a gente, que ser se realocada e não é. Enquanto isso, a gente pediu por ofício que o culto seja liberado pelo menos uma vez por semana e até agora nada de resposta. Vamos continuar resistindo e cobrando a reabertura do nosso tempo sagrado”, concluiu.

NOTA DA DEFESA CIVIL

“A Defesa Civil de Maceió informa que o atual Mapa de Linhas de Ações Prioritárias (v5) foi atualizado em novembro de 2023, e este é o mapa válido. O Mapa versão 3 foi atualizado em 2020, o atual é a versão 5.

Toda a região afetada, tanto a área de realocação (00) quanto a de monitoramento (01), são monitoradas ininterruptamente por equipamentos que medem o movimento do solo em milímetros. Além dos equipamentos, há a visita periódica do Comitê de Acompanhamento Técnico, destinado exclusivamente para este fim.

Unindo as informações colhidas em campo das visitas nas residências, com os dados dos equipamentos instalados na região e os dados da interferometria captada por satélites, havendo necessidade, há a ampliação do Mapa. Uma nova campanha foi realizada recentemente e o relatório será emitido ao final de dezembro.

A recomendação do sistema de defesa civil, que inclui a Defesa Civil Nacional, Municipal e Serviço Geológico do Brasil (SGB) é que toda a área 00 seja, e permaneça realocada”.