Cidades

Braskem suspende fechamento da mina 27 no Mutange

Defesa Civil de Maceió diz que houve movimentação atípica do solo, próximo ao antigo hospital José Lopes

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / com Ascom ANM 22/10/2024 08h26
Braskem suspende fechamento da mina 27 no Mutange
Medida foi tomada, diz a mineradora, para garantir segurança dos operários que atuam ns minas - Foto: Edilson Omena / Arquivo

A Braskem confirmou ontem que suspendeu o tamponamento da mina 27, no Mutange, depois que foi registrado um desnível superficial no solo em um ponto do canteiro de obras do preenchimento das cavidades interditadas por decisão judicial. Segundo a assessoria de comunicação da empresa, a operação foi interrompida preventivamente, para a realização de avaliações técnicas sobre as operações no entorno da unidade quanto ao preenchimento da mina 27.

A mineradora informou também que já tinha comunicado o fato às autoridades que monitoram a operação de tamponamento das minas, a exemplo da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Defesa Civil de Maceió. Disse ainda que, apesar desse pequeno afundamento solo, as demais ações previstas no Plano de Fechamento de Mina seguem em andamento.

“O sistema de monitoramento permanece sendo acompanhado normalmente, de forma ininterrupta, e não há registro de atividades microssísmicas atípicas na região, neste momento”, afirmou, em nota, a Braskem. Ainda de acordo com a empresa, a interrupção do tamponamento da mina 27, situada onde funcionava o antigo Hospital Psiquiátrico José Lopes, entre os bairros de Bom Parto e Bebedouro, é temporária, mas não revelou quando os trabalhos serão retomados.

A assessoria de comunicação da Braskem assegurou que a mina 27 não estaria para entrar em colapso como aconteceu com a mina 18, no final do ano passado. No entanto, até que o desnível do solo, registrado no último dia 9 de outubro, seja melhor entendido, a empresa, preventivamente, teria suspendido os trabalhos de tamponamento dessa cavidade. A medida foi tomada, segundo a mineradora, para garantir a segurança dos operários que realizavam esse trabalho.

“Todas as autoridades competentes foram informadas sobre o ocorrido e o preenchimento das demais minas que ficam no entorno continua acontecendo”, garantiu a empresa, em nota encaminhada à imprensa.

DEFESA CIVIL

Para o coordenador-geral da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, esse tipo de protocolo já é esperado diante do trabalho de preenchimento das minas e qualquer movimentação fora do normal pode resultar na suspensão das atividades, com o objetivo de garantir a segurança dos trabalhadores.

Questionada sobre as causas desse desnível do solo, cuja profundidade não foi divulgada, a Defesa Civil Municipal afirmou que ainda não sabe ao certo o que ocorreu, mas que a empresa está avaliando a movimentação atípica para depois se posicionar. Por isso, por enquanto, não dar para saber se o afundamento ocorreu por uma movimentação decorrente do processo de subsidência do solo ou pela presença de equipamentos pesados na superfície.

“Estamos avaliando se essa situação é resultante do processo de subsidência ou se foi algo por causa dos equipamentos na superfície. Temos um DG [equipamento de alta precisão que mede, em milímetros, qualquer movimentação do solo] instalado na região e estamos aguardando o acúmulo dos dados para que seja gerado um gráfico, mas enquanto não tivermos a certeza do que ocorreu, as atividades ficam suspensas, pois a segurança dos trabalhadores está em primeiro lugar”, disse Abelardo Nobre.

O chefe da Defesa Civil de Maceió descartou qualquer risco para os moradores da região, que se encontra praticamente toda desabitada. Ele disse ainda que não foi registrado nenhum tipo de abalo sísmico ou qualquer movimentação atípica do solo que necessite uma maior atenção das autoridades com a região.

Cavidade fica submersa na Lagoa Mundaú e é próxima da 18, que colapsou

A Braskem informou à Agência Nacional de Mineração (ANM) sobre o ocorrido e, após a conclusão das avaliações, deverá compartilhar os resultados com o órgão, além de indicar a data de retomada das operações. O comunicado, datado de 4 de outubro, foi assinado pela engenheira Aline Milani Medeiros Carvalho e pela gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, Silvia Albuquerque Correa de Araújo.

A mina 27 está situada em uma área submersa da Lagoa Mundaú, perto da mina 18, entre o antigo campo do CSA e o prédio histórico onde funcionava o Hospital Psiquiátrico José Lopes, em Bebedouro. À ANM, a Braskem informou que não foram registrados tremores de terra na região, e o sistema de monitoramento segue em operação.

Em julho de 2023, a Defesa Civil de Maceió declarou que não havia mais risco de colapso iminente em nenhuma das 35 minas localizadas na capital alagoana, incluindo a mina 18, que havia sofrido um rompimento parcial. Na ocasião, o solo sob a mina 18 cedeu, formando uma grande cratera sob a lagoa Mundaú.

Devido ao afundamento do solo causada pela mineração, em pelo menos 5 bairros de Maceió, mais de 15 mil imóveis foram fechados em Maceió, afetando cerca de 60 mil pessoas. Um Programa de Compensação Financeira foi estabelecido pela Braskem para indenizar os proprietários das áreas desocupadas, porém alguns moradores que discordaram dos valores oferecidos entraram com ações judiciais contra a empresa.

RELATÓRIO

Relatórios da Agência Nacional de Mineração (ANM), que acompanha desde 2020 o planejamento da mineradora para fechar as 35 cavidades que operava às margens da Lagoa de Mundaú, apontam que a Braskem levou quase dois anos para definir o fechamento da Mina 18 com areia, mesmo método usado em outros oito poços. A empresa alega que cumpriu as recomendações das autoridades.

O preenchimento desta mina, porém, nem começou, estava previsto para o final de 2023, mas foi interrompido antes da Defesa Civil de Maceió emitir o primeiro alerta de risco de colapso. Mesmo nos outros poços, que tiveram o trabalho iniciado, o Ministério Público Federal apontou irregularidades no material usado e chegou a suspender a extração de areia usada pela mineradora, que estava sendo retirada das Donas do Cavalo Russo, na Praia do Francês, em Marechal Deodoro.

Agência Nacional de Mineração realizou recomendações para fechamento

Em fevereiro deste ano, a Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgou um parecer técnico com conclusões e recomendações ao Plano de Fechamento da Mina de Sal-Gema da Braskem em Maceió. Um grupo de trabalho (GT-AS), composto por especialistas da ANM, foi criado para monitora a situação das minas.

A partir de avaliação da documentação juntada aos autos nos meses de dezembro de 2023 e janeiro de 2024, a ANM enfatizou a necessidade de atualizações periódicas das informações apresentadas à agência, com intervalos máximos de 30 dias, incluindo avaliações técnicas do contexto de cada frente de lavra monitorada.

Segundo o relatório da ANM, o sistema de monitoramento foi eficaz por ter alertado com antecedência de cerca de 15 dias tanto o início do abatimento quanto o subsequente colapso da frente de lavra da mina 18. No entanto, o grupo recomenda uma avaliação técnica mais aprofundada para compreender as causas e possíveis consequências do ocorrido, bem como as implicações na própria cavidade e nas cavidades adjacentes.

A recuperação do talude da encosta do Bairro Mutange segue conforme o projeto apresentado pela Braskem, sem descontinuidades significativas. O GT-SAL, grupo de trabalho composto por especialistas da ANM, que monitora a situação das minas da empresa em Maceió, destaca a importância de medidas cautelares e estudos adicionais após a desinterdição da área de segurança, garantindo o retorno seguro de pessoal e equipamentos.

O GT-SAL propôs uma série de exigências à Braskem, a serem cumpridas no prazo de 60 dias, incluindo a elaboração de um relatório detalhado sobre as causas e consequências do abatimento na mina 18, uma análise de risco para possíveis eventos futuros e justificativas para o não preenchimento de outras frentes de lavra não pressurizadas.

EXIGÊNCIAS DA ANM

Relatório com análise das causas e consequências bem como justificativas sobre o abatimento abrupto na área da mina 18, cuja ocorrência era considerada improvável por consultorias contratadas pela empresa;

Análise de risco acerca da possível ocorrência de novos eventos de movimentação do terreno ou abatimentos, envolvendo a própria frente de lavra da M#18, frentes de lavra adjacentes a essa ou de possíveis colapsos em outras cavidades não pressurizadas;

Justificativa técnica para o não preenchimento de outras frentes de lavra não pressurizadas, não contempladas no grupo específico planejado, especialmente que tenham migrado para fora da camada salina, considerando que qualquer outra metodologia de fechamento a ser executada não oferece garantia de estabilidade, eliminação do processo de subsidência e eliminação do risco de sinkhole (buraco);

Gráfico de tendência contemplando as leituras de subsidência antes e após o evento ocorrido na área da frente de lavra M#18 e imediações, bem como a interpretação dos resultados;

Relatórios com dados atualizados da geometria e georreferenciamento de todas as cavidades não pressurizadas, bem como resultados consolidados e interpretados das leituras de monitoramento das demais cavidades com o controle de pressão ativo;

Simulações com a utilização do modelo 3D elaborado, considerando os parâmetros envolvendo o abatimento ocorrido na mina 18 (M#18) e a possibilidade de ocorrência de outros eventos semelhantes;

Atualização da representação gráfica dos grupos de cavidades, contemplando vistas superiores e inferiores, e vistas laterais nas quatro direções, incluindo as dimensões aproximadas dos pilares remanescentes e a integração e verificação de possíveis interligações ou interferências entre elas;

Previsão de prazo para a apresentação da proposta de fechamento das frentes de lavra sem definição do método de fechamento, que estão em monitoramento recorrente (M#03, M#15, M#20, M#21, M#29 e M#34).