Cidades

Hortas Urbanas unem a alimentação saudável ao combate à fome

Ação desenvolvida pelo Governo do Estado auxilia na nutrição de várias famílias e no desenvolvimento sustentável

Por Ana Beatriz Rodrigues / Agência Alagoas 21/10/2024 11h46
Hortas Urbanas unem a alimentação saudável ao combate à fome
Hortas Urbanas criam espaços comunitários onde a população pode cultivar várias espécies de plantas - Foto: Thiago Sampaio / Agencia Alagoas

As folhas verdes e os primeiros legumes chamam a atenção das crianças. Ao sujarem as mãos, elas descobrem que a terra não é apenas o lar de minhocas, mas também o berço de sementes que se transformam em alimentos que vão fazer parte do almoço de dezenas de famílias todos os dias.

Fornecer alimentos frescos e promover uma alimentação mais saudável são alguns dos objetivos do programa Hortas Urbanas, uma das iniciativas do Alagoas Sem Fome, programa inovador do Governo de Alagoas para combater a extrema pobreza no estado. As Hortas Urbanas criam espaços comunitários onde a população pode cultivar várias espécies de plantas, ampliando assim a oferta de alimentos. O estado já conta com 45 hortas espalhadas por diversas localidades, sendo 43 hortas com colheitas já feitas.

A Horta Urbana localizada na Escola Municipal de Educação Básica Pedro Pereira da Silva, que fica no povoado Olho D’Água, na zona rural de Junqueiro, é um exemplo dessa realidade. Com 152 alunos, a unidade prepara as refeições com os cultivos realizados atrás da escola.

O cultivo reforça o entendimento sobre o desenvolvimento dos alimentos, desde a semeadura ou plantio das mudas até o momento da colheita dos frutos maduros. A aluna da unidade, Eloá Vitória, de apenas 6 anos, disse que amou o novo espaço da escola e, dentre tantas plantas e folhas diferentes, a do tomate foi a mais bonita. “Eu nunca tinha visto um pé de tomate, achei tão fofinho. A professora me disse que tem berinjela. Nunca provei, será que vou gostar?” questiona Eloá enquanto comia a merenda.

A produção da horta ainda não atende a demanda da escola, mas auxilia bastante na produção da merenda. A diretora da unidade, Adriana Barbosa, pretende ampliar a plantação e fazer com que toda a merenda da escola seja cultivada no local.

A horta da escola conta com plantação de couve-flor, couve, berinjela, batata, cenoura, coentro, cebolinha, pimentão, tomate, pimenta de cheiro, sem falar no pé de mamão e de abacate, além das medicinais, como erva-cidreira, hortelã e capim-santo. “As crianças adoraram, mas quem fez a festa mesmo com tanta variedade foram as merendeiras, que antes dependiam do fornecimento de verduras do município, e agora podem pegar quando quiserem, a quantidade que puderem”, comemora Adriana.

Com mais de uma década de experiência na cozinha, a merendeira Ana Paula colhe com alegria as hortaliças frescas. Na dúvida de quais alimentos utilizar para não haver desperdícios, ela tenta inovar, seja com receitas clássicas ou até lanches ‘arriscados’ para o paladar dos alunos.

“É tão bonito ver os ingredientes que a gente colhe lá [na horta]. Os meninos fazem fila pra comer quando é salada, omelete de tomate e cebola com cuscuz ou até mesmo bolo de cenoura ou beterraba. Eles matam a fome e ficam fortes e saudáveis. A gente fica feliz demais”, comenta Ana Paula.

Através das hortas, as crianças desenvolvem o senso de responsabilidade e uma conexão mais profunda com a natureza. Os quintais agora fazem parte da realidade de 16 escolas, complementando o conteúdo didático abordado em sala de aula e contribuindo para a alimentação orgânica de centenas de alunos.

Combatendo a fome em Alagoas

O programa Alagoas Sem Fome é uma política pública que envolve várias secretarias com o objetivo de reduzir a pobreza no estado. Alagoas vem se destacando com planos de ação voltados para pessoas em situação de vulnerabilidade social, conforme mostra a pesquisa do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). Utilizando dados do IBGE, o instituto revela queda na extrema pobreza em Alagoas, que passou de 13,2% da população em 2022 para 8,8% no ano passado.

O quintal produtivo, como também são conhecidas as Hortas Urbanas, funciona de maneira bastante simples: o Estado incentiva a criação de um espaço multifuncional que integra técnicas de cultivo de diversas plantas em escolas, creches ou igrejas, promovendo a conscientização da comunidade sobre a importância das hortas em áreas urbanas.

Uma das grandes vantagens de ter uma horta urbana é o incentivo à alimentação saudável, que pode ser desenvolvida até mesmo em pequenos espaços. O superintendente do Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Daniel Lima, responsável pelo programa, destaca que a iniciativa oferece benefícios tanto a curto quanto a longo prazo.

"Estamos escolhendo comunidades específicas para a implantação de hortas comunitárias, fazendo com que espaços vazios se transformem em áreas produtivas. A ideia é possibilitar uma colheita totalmente natural e orgânica, que possa ser utilizada a curto prazo na alimentação saudável, mas também a longo prazo, conscientizando e incentivando a replicação dessas hortas, especialmente em seus próprios quintais, melhorando a alimentação do dia a dia”, reforça Daniel.

Colhendo bons frutos

As Hortas Urbanas já chegaram a 26 cidades, levando hortaliças e plantas medicinais para mais de 10 mil pessoas. O quintal produtivo que fica no Conjunto Residencial Graciliano Ramos, na parte alta de Maceió, fortalece não só a alimentação de dezenas de moradores próximos ao conjunto, mas também o espírito comunitário de quem está trabalhando diariamente para manter as plantas saudáveis.

Em quase um mês os moradores vem, literalmente, colhendo bons frutos da horta. Valéria Cavalcante, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Graciliano Ramos, conta que a presença do quintal trouxe muita novidade para o conjunto, e que o cultivo de hortaliças e plantas medicinais movimenta a rua onde fica a sede da associação.

“Quando assumi a presidência em 2022, já pensava em montar uma estrutura como essa, pois sempre amei plantas e sei da importância desses nutrientes na mesa. A ideia se estendeu para o cultivo de tomate cereja, quiabo, beterraba, alface crespa, repolho, pimentão, rúcula, coentro, cebolinha, berinjela e pimenta de cheiro. Há também a produção de ervas medicinais, como boldo, mirra, camomila, capim santo, capim citronela, babosa, manjericão, erva-cidreira e hortelã. Vamos deixar estes itens a disposição, quem precisar vem e pega, aqui é para uso de todos”, reforça Valéria.

Para que a iniciativa seja contínua, o Governo do Estado oferece capacitação para promover a educação ambiental, fortalecendo a relação das pessoas com a produção de alimentos e o meio ambiente. No caso do Graciliano Ramos, Cícero fica responsável por regar, podar e proteger a plantação de insetos indesejados. Já na Horta Urbana que fica no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da cidade de Batalha, todo o cuidado é feito pela Valéria Freitas, assistente social, e outras 6 mulheres que frequentam o local.

“A horta aqui tem sido uma bênção. Já realizamos mais de sete colheitas, incluindo tomate, pimentão, coentro, alface e quiabo, além de ervas medicinais como boldo, capim santo, cidreira e hortelã. Distribuímos os produtos para as famílias em situação de vulnerabilidade que atendemos, e, às vezes, a colheita é tão abundante que conseguimos compartilhar com os vizinhos e fazer receitas aqui para o CRAS,” relembra alegre a Valéria Freitas.

A ação, que parece pequena aos olhos de uma criança, é uma das várias ações que o Estado vem desenvolvendo para garantir que a segurança alimentar deixe de ser um sonho distante e vire uma realidade, e que possa, literalmente, estar presente em qualquer quintal.