Cidades

Emissário corre risco de colapsar

Especialistas alertam para ameaça de tragédia ambiental grave com danos para a orla na região sul de Maceió

Por Valdete Calheiros - Colaboradora / Tribuna Independente 25/09/2024 08h54
Emissário corre risco de colapsar
Estrutura do Emissário Submarino, na Praia do Sobral, está corroída e pode sofrer colapso, causando um grande desastre ambiental na orla da região sul da capital alagoana - Foto: Edilson Omena

O emissário submarino de Maceió está em situação precária e agoniza com sua estrutura corroída pela ferrugem e pela ação do tempo. Na avaliação de engenheiros e biólogos, a armação de concreto está bastante deteriorada e pode colapsar em pouco tempo, o que causaria um dano ambiental seríssimo. O emissário leva os efluentes da capital para o oceano.

O engenheiro representante do Ibape – Instituto Brasileiro de Avaliações e Pericias de Engenharia –, Marcelo Daniel, afirmou que a estrutura está bastante comprometida e que trabalhos de manutenção já deveriam ter 0 ido feitos, sob pena de acontecer um dano ambiental gravíssimo se ações de reparo não forem iniciadas o quanto antes.

A bióloga Neirevane Nunes realiza algumas visitas esporádicas ao local para acompanhar a situação e já constatou que as vigas e as colunas que sustentam o sistema estão em estado crítico, com partes expostas e severamente corroídas, elevando o risco de rompimento e vazamentos.

Segundo ela, o quadro ameaça a biodiversidade marinha, a saúde pública e as praias da região.

O biólogo Marcos Bonfim afirmou que o processo de degradação da estrutura já foi apontado em denúncias feitas pelo menos há dois anos.

“Desde então, a situação tem se agravado sem que qualquer medida concreta de manutenção tenha sido adotada.

Na avaliação dos biólogos, a falta de fiscalização por parte do poder público e a ausência de ações corretivas por parte da BRK Ambiental são alarmantes.


Para Neirevane Nunes, é impossível o engenheiro da BRK não reconhecer que houve piora nas condições da estrutura de 2022 pra cá.
O casal de biólogos mora nas proximidades do emissário e, juntos, têm o hábito de acompanhar a situação no local. “É evidente que durante os últimos anos houve uma piora no estado da estrutura, como também é evidente que o sistema não recebeu a manutenção necessária, tanto que os pontos de oxidação das tubulações estão se expandindo e as vigas e as colunas estão cada vez mais expostas. O que estamos observando é uma evolução do comprometimento do sistema”, detalhou.

Os biólogos chamam também a atenção para a necessidade de investigar possíveis vazamentos nas tubulações do emissário submarino.

Segundo eles, desde 2019, eles observam manchas no mar que podem ser indícios de vazamento de efluentes do emissário submarino.
“Semana passada mesmo, observamos essas manchas. O esgoto precisa ser levado para longe e ser diluído em alto mar em grandes profundidades. A situação é muito séria. Não pode haver vazamento no emissário submarino”, salientou a bióloga Neirevane Nunes.
Para os biólogos, a BRK precisa ser mais transparente e fornecer a população os laudos técnicos que, segundo o engenheiro da BRK, atestam que não há riscos de colapso da estrutura.

“Precisamos saber quais as condições reais dessas tubulações e das estruturas de sustentação antes da conexão do sistema do emissário com o projeto Renasce Salgadinho. Porque é uma preocupação dos especialistas sobre o suporte de carga do emissário. Uma grande preocupação é em relação ao aumento da demanda do emissário com a alteração da composição dos efluentes devido as diversas reações entre os compostos. Vale lembrar que além disso o emissário submarino vem recebendo o chorume através da empresa V2. Algo que nós, como biólogos, discordamos”, explicou.

Na avaliação do biólogo Marcos Bonfim, são dois pontos de vazamento. Um primeiro que fica bem próximo da ponte do emissário. E outro vazamento menor. Entre os pontos de vazamento, o biólogo estima uma distância de 200, 300 metros.

“A tubulação, o dispersor de esgoto, que é tipo uma flauta, tem que ficar no mínimo a três quilômetros de distância da costa. Temos amigos que passam de lancha por ali e já confirmaram o mau cheiro e a coloração característica da água”.

Segundo a BRK, o esgoto tratado pela Estação de Condicionamento Prévio é lançado pela estrutura submarina a uma profundidade mínima de 15 metros, em um ponto onde a distância da praia e a direção da corrente marítima são adequadas para a diluição, dispersão e decaimento das cargas poluentes.

O gerente de engenharia da BRK, Heitor Resende, estima que os trabalhos de manutenção deverão ser iniciados no primeiro trimestre do próximo ano e que as atividades deverão durar, aproximadamente, 10 meses.

“Contratamos uma empresa para fazer o diagnóstico da situação. O estudo foi feito em 20212, 2022. Podemos garantir que não há risco de colapso. Tem alguns problemas e patologias no local, mas nada que comprometa a estrutura”, finalizou.