Cidades

Abel Galindo detalha erosão do solo em Maceió

Livro do engenheiro civil, especialista na área, detona mineração predatória

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 20/08/2024 08h37
Abel Galindo detalha erosão do solo em Maceió
Todo o processo de exploração do sal-gema que resultou no afundamento do solo de Maceió é contado no livro do professor Abel Galindo - Foto: Edilson Omena

Perto de completar 50 anos de profissão, o professor Abel Galindo lançou, na semana passada, um livro de memórias, com relatos sobre seus trabalhos e reservou um capítulo especial sobre o afundamento do solo provocado pela Braskem, na capital alagoana. No livro, o experiente professor, especializado em estudos de solo, esmiúça a “lavra ambiciosa” e trata o Caso Braskem como “um megacrime ambiental, social e econômico praticado por uma mineração de sal-gema em Maceió”.

Nesse capítulo de “Vivências - Conhecimentos e Experiências de um Engenheiro Civil Geotécnico”, ele começa com um registro histórico, dizendo que em 1975, em plena ditadura militar, os governos federal e estadual autorizaram a exploração de sal-gema no subsolo da capital alagoana “em discrepância com o parecer do então secretário de governo, professor José Geraldo Marques”.

Segundo o autor do livro, “na época, havia um grande interesse econômico [pela implantação da petroquímica em Maceió], pois na concepção dos gestores governamentais, o sal-gema, matéria-prima do plástico, do cloro, ácido clorídrico. soda cáustica e de outros produtos, seria a redenção econômica do Estado de Alagoas”.

O livro foi lançado na noite da última terça-feira (13), o auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea/AL). A obra resgata cinco década de carreira do engenheiro, que se formou em Engenharia em dezembro de 1974, pelo Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Com mestrado em Geotecnia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Galindo foi professor do curso de Engenharia da Ufal de 1977 a 2014, ministrando sempre disciplinas na área de geotécnica. Atualmente, ele é o dono e responsável técnico da empresa AGM Geotécnica, empresa especializada em fundações.

Referência na área onde atual em todo o País, principalmente na região Nordeste, Galindo foi o primeiro profissional de engenharia a responsabilizar a Braskem pela tragédia.


A prática da chamada “lavra ambiciosa”

Foi observando as rachaduras nas casas dos amigos no Pinheiro que ele matou a charada e constatou que aquele problema estava relacionado à mineração.

No livro, ele relata essa e outras histórias, como engenheiro civil, em paralelo com a ascensão dos prédios verticais em Maceió, construídos entre as décadas de 70 e 80. Ao longo das páginas, Galindo narra também suas experiências profissionais relacionadas a casos importantes para o desenvolvimento da engenharia em Alagoas.

CPI DA BRASKEM

O engenheiro foi um dos especialistas ouvidos pela CPI da Braskem, no Senado, no início de maio. Com base depoimento dele e outros estudiosos no assunto, a Comissão concluiu que “a Braskem sabia da possibilidade de subsidência do solo e mesmo assim decidiu deliberadamente assumir o risco de explorar as cavernas além da capacidade segura de produção.

As jazidas poderiam ter sido exploradas sem risco, estima-se em até 125 milhões de toneladas de sal-gema, cerca de um terço do que vinha sendo extraído anualmente. Por isso, ao praticar a chamada ‘lavra ambiciosa’, a mineradora teria provocado o afundamento do solo e colocado em risco a vida de mais de 60 mil pessoas - segundo informações da Agência Senado.

No livro, o professor Galindo explica que “o sal-gema é uma rocha salina, que em boas condições pode ter resistência à compressão igual ou um pouco superior a 20 Mpa, que corresponde à resistência de um bom concreto”.