Cidades

Alagoas dispõe apenas de cinco bancos de leite

Número é insuficiente para atendimento em todo Estado; ideal era que cada hospital tivesse um à disposição

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 14/08/2024 16h07 - Atualizado em 14/08/2024 18h10
Alagoas dispõe apenas de cinco bancos de leite
Bancos armazenam e fornecem o leite materno para mães que não conseguem amamentar seus filhos - Foto: Agência Alagoas

O mês de agosto é dedicado ao incentivo à amamentação. Em alusão a cor dourada, relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno, o mês é chamado de Agosto Dourado. Alagoas possui apenas cinco Bancos de Leite Humano. O número é bem abaixo do ideal.

Segundo a coordenadora da Rede Alagoana de Bancos de Leite Humano, pediatra e neonatologista Andréa Maria Pinheiro Tenório de Magalhães, o ideal é que cada hospital público e privado com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal tenha um Banco de Leite Humano ou pelo menos um Posto de Coleta de Leite Humano.

Andréa Pinheiro coordena também o Banco de Leite Humano da Maternidade Escola Santa Mônica, unidade pertencente à Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) e tida como referência para o Estado quando o assunto é doação de leite materno. Nem mesmo a unidade referenciada escapa da escassez do leite materno. Faltam doadoras.

A situação compromete a dieta dos recém-nascidos internados nas Unidades de Terapia Intensiva e nas Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) das maternidades alagoanas.

Estima-se que o aleitamento materno seja capaz de diminuir em até 13% a morte de crianças menores de cinco anos em todo o mundo por causas preveníveis. Nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças nessa faixa etária. Em Alagoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, a cada mil nascidos vivos 12.83 bebês morriam antes de completar um ano de idade.

O Ministério da Saúde destaca que a amamentação é a forma de proteção mais econômica e eficaz para redução da morbimortalidade infantil, com grande impacto na saúde da criança, diminuindo a ocorrência de diarreias, afecções perinatais e infecções, principais causas de morte de recém-nascidos. Ao mesmo tempo, traz inúmeros benefícios para a saúde da mulher, como a redução das chances de desenvolver câncer de mama e de ovário.

Para doar, as mamães devem estar saudáveis e amamentando, com sobra diária mínima, em média, de 50 mililitros.

Muitas mães precisam de acompanhamento para amamentar

Um dos maiores desafios das mães que amamentam é superar a expectativa da amamentação romântica. Nem todas as mulheres vivem uma realidade tranquila. Pelo menos não nos primeiros dias.

Que o diga a empresária Fernanda Trani, 41 anos, mãe do Gabriel, 4 anos e da Carolina, 2 meses. Em plena pandemia do Covid, ela teve alta da maternidade e chegou em casa sem conseguir amamentar o primeiro filho.

Devido às restrições pandêmicas, não recebeu as orientações adequadas ao novo momento.

“Algumas mulheres se preocupam muito com parto normal, com enxoval, mas muitas vezes deixam de dar a devida importância à amamentação. A importância de ter o bebê no peito, na primeira hora de nascimento, acredito ser essencial pra que tudo flua tranquilamente.

Consultora Joyce Katherine com a bebê Carolina nos braços e a empresária Fernanda Trani (Foto: Arquivo pessoal)

Amamentar é ter um encontro com Deus. É a hora que no nosso cantinho, a gente se encontra, a gente ora, a gente chora, a gente dá graças por essa dádiva divina. Por carregar esse milagre de Deus nos braços e poder proporcionar pra eles, filhos, o que hoje temos de melhor, que é o leite materno”, detalhou emocionada.

Para que a amamentação acontecesse de forma tranquila, ela contou com os serviços da Consultora em Amamentação, Joyce Katherine Pereira de Andrade. Formada há 14 anos em Enfermagem, ela é pós-graduada em Obstetrícia e em Cuidados Materno e Infantil, com enfoque em amamentação. E possui certificado internacional em consultoria.

“A dificuldade na amamentação tem início na falta de informação, de uma boa rede de apoio e de profissionais qualificados para atender às mães no puerpério. Como consequência dessa falta de estrutura, ocorrem uma pega incorreta da mama, dores, doença que acomete a mãe ou o recém-nascido, críticas familiares, preocupações, depressão pós-parto, fissuras e mastite”, explicou.

De acordo com Joyce Katherine Pereira de Andrade, amamentar é a maior herança que uma mãe pode deixar para seu filho, os benefícios não são só no presente e sim para todo seu futuro. A principal delas é a proteção contra infecções.

No ano passado, Estado realizou atendimento de 8.800 lactantes

No banco de leite da Maternidade Santa Mônica são prestados serviços de apoio às mães que estão com dificuldade para amamentar, problemas para posicionar o bebê e dificuldade na pega.

“As mães que procuram o serviço do Banco de Leite normalmente estão com dificuldade para amamentar devido a dores causadas por fissura, ingurgitamento mamário [mama empedrada], mastite, abscesso e obstrução de ducto”, esclareceu Andréa Pinheiro. O serviço funciona 24 horas, exceto domingo pela manhã.

Após ser doado, examinado e pasteurizado, leite materno é refrigerado até ser encaminhado para alimentar os bebês.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) realiza várias campanhas para sensibilizar as mulheres que estejam amamentando para se tornarem doadoras de leite humano e, desse modo, possam salvar a vida de bebês internados nas das maternidades.

No ano passado, segundo a Sesau, Alagoas atendeu 8.831 lactantes por meio de seus cinco bancos de leite e dois postos de coleta. Além disso, foram realizados 14.823 atendimentos em grupo e 3.839 mil visitas domiciliares, todos gratuitos e voltados para prevenir o desmame precoce.

O aleitamento está relacionado a inúmeros benefícios, uma vez que o leite materno tem todos os nutrientes de que os bebês precisam até os seis meses de vida, protegendo-os contra várias doenças.

Em Alagoas, os Bancos de Leite Humano estão localizados nas cidades de Maceió, na Maternidade Escola Santa Mônica e no Hospital Universitário. Já no interior, os serviços funcionam em Palmeira dos Índios, na Maternidade Santa Olímpia; em Arapiraca, no Hospital Regional; e em São Miguel dos Campos, na Santa Casa.

“Precisamos entender que o leite materno não é só alimento. É um composto que vai nutrir e, ao mesmo tempo, proteger o organismo dessa criança”, afirmou.