Cidades
A importância da engorda natural como solução para muitas praias alagoanas
E por isso é preciso procurar uma solução para resolver a situação.
Da Oiapoque ao Chuí, que é o longo litoral brasileiro, às praias vem sofrendo com o avanço do mar. Enquanto governos tentam encontrar soluções para proteger as valiosas áreas da costa, o engenheiro alagoano Marco Lyra, especialista em proteção costeira, alerta que todo projeto de engenharia para proteção costeira, independente da solução técnica a ser adotada, deve-se observar cinco itens: custo de implantação, custo de manutenção, disponibilidade do material, impacto ambiental e durabilidade. Segundo ele, quando o mar avança em áreas já urbanizadas ocorre um problema a ser resolvido. E por isso é preciso procurar uma solução para resolver a situação.
Para o engenheiro, atualmente muito se discute sobre a eficácia das obras de defesa costeira, principalmente considerando os efeitos das mudanças climáticas, o que aumentará a demanda por essas obras. Com esse cenário, se faz necessário uma nova abordagem exigindo novos conceitos na definição de obras de defesa costeira com o objetivo de promover a recuperação de praias.
``Em Alagoas, foram construídos dissipadores de energia de ondas com uso de geossintéticos desde 2003 para proteção costeira. O uso de dissipadores de energia em doze praias do litoral alagoano, sendo todas elas em condições completamente distintas do ponto de vista geográfico, geológico, morfológico e hidrodinâmico, onde o resultado final foi a contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes, a recuperação da praia com a recomposição do perfil devido à engorda natural, e a facilitação do acesso da população à praia natural recreativa, indicam a necessidade de expandir a experiência para outras praias´´, avalia o especialista em recuperação de praias.
O problema é tão grave que se instalou uma grande polêmica. As praias serão protegidas por engorda natural ou artificial. E onde reside a diferença entre as duas engordas?
O engenheiro indaga: ``Já reparou nas formas do litoral? Será que existem ilhas quadradas? A modelagem da linha de costa deve-se a um conjunto de forças complexas que atuam no ambiente costeiro, formando o padrão existente. A primeira diferença é visual entre as duas obras. Na engorda artificial o formato da linha de costa é retilíneo, diferente da engorda natural induzida na praia, pelo uso do dissipador de energia. A feição da praia se harmoniza com o ambiente, isto é, a modelagem da linha de costa não é retilínea, ela é modelada naturalmente pela dinâmica existente no local´´.
Um bom exemplo do sucesso da engorda natural aconteceu na Praia do Marceneiro, no Passo de Camaragibe, no Litoral Norte de Alagoas, onde após a construção do dissipador de energia Sandbag, que mostra o formato natural e não retilíneo da costa, a praia vai emergindo, o mar vai recuando com o tempo, a berma natural vai sendo formada e a vegetação de restinga volta e recuperar a paisagem local.
Mas outra grande diferença, segundo o engenheiro, é o custo de implantação e manutenção das duas obras costeiras. ``O custo de implantação da engorda artificial é 5 vezes maior que o custo de uma engorda natural. O custo de manutenção da engorda natural é 10 vezes menor que o da engorda artificial. Em 2019 o alargamento de faixa de areia na praia de Iracema, em Fortaleza, teve um custo de implantação de aproximadamente R$ 50 milhões/km´´, afirma Marco Lyra.
Os acontecimentos climáticos nas zonas costeiras nos últimos anos, é um sinal de alerta de que é preciso ação para aumentar a capacidade de resiliência nas praias urbanizadas. A resiliência é baseada em dois aspectos fundamentais: a continuidade e a recuperação de um sistema frente a uma mudança. Os efeitos das mudanças climáticas sobre as regiões costeiras promovem processos erosivos nas áreas urbanizadas. As cidades litorâneas têm sofrido com ressacas cada vez mais fortes, as ondas avançam sobre ruas, casas e comércios.
Para Marco Lyra, é preciso buscar maior eficácia nas obras de proteção costeira, procurando encontrar nas soluções de engenharia a recuperação da praia natural recreativa. ``É preciso ação para conter a erosão costeira. As cidades litorâneas de Alagoas, por exemplo, precisam de adaptação para enfrentar as marés atuais e futuras, frente as mudanças climáticas que serão cada vez mais intensas nos próximos anos´´, finaliza o especialista.
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