Cidades

Alagoas tem 20 traficantes refugiados no Rio

Entre os criminosos, o líder é Nem Catenga, que controla o tráfico em bairros de Maceió, direto do Morro do Alemão

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 19/07/2024 09h05
Alagoas tem 20 traficantes refugiados no Rio
“Nem Catenga” chefia grupo de traficantes foragidos; Zé Moreno, seu pai, também está foragido - Foto: Reprodução

Em entrevista coletiva online, o subsecretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, tenente-coronel PM Uirá do Nascimento Ferreira, confirmou que Alagoas tem mais de 20 traficantes refugiados nos morros cariocas. Entre eles, Nem Catenga, que controla o tráfico em alguns bairros de Maceió, diretamente do Morro do Alemão, na capital fluminense.

Nascimento, que já comandou o Bope, é subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro e foi convidado pelo secretário Flávio Saraiva, da SSP/AL, para falar com os jornalistas sobre o avanço das facções nos Estados.

“O crime organizado é o mesmo, o que mudou foi o domínio territorial”, afirmou o tenente-coronel Nascimento, por vídeo conferência. Segundo ele, facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) estão espalhadas pelo País. Em Alagoas, não é diferente, tem representantes das duas facções.

“Tem para mais de 20 traficantes foragidos de Alagoas refugiados nas comunidades do Rio”, afirmou o subsecretário. O chefe dessa turma é o traficante alagoano José Emerson da Silva, mais conhecido como Nem Catenga. O criminoso possui cinco mandados de prisão em aberto e fugiu para o Rio de Janeiro.
Mesmo vivendo fora de Alagoas, ele comanda o tráfico nas regiões da Cambona, Levada e Brejal, em Maceió. A SSP/AL, em parceria com a polícia do Rio, já fez algumas operações para tentar prendê-lo, mas toda vez ele foge. Por isso, as forças policiais decidiram unir esforços e apertar o cerco para desmantelar o grupo liderado por ele.

De acordo com o subsecretário, é uma questão de tempo, mas Nem Catenga será preso. Na entrevista, coronel PM Maurilio Nunes disse que o tráfico de drogas expandiu seus tentáculos e se diversificou. Não por acaso é considerado uma das atividades comerciais mais organizadas no mundo.

“A guerra entre os traficantes existe, mas é pelo controle e o comando de território, mas quando a repressão policial chega, eles se unem por uma questão de sobrevivência”, afirmou o subsecretário. Por isso, segundo ele, é difícil chegar até os chefões do crime, porque eles são protegidos por uma rede de informantes.

No Rio de Janeiro e São Paulo, onde estão as sedes das duas principais facções, os criminosos atuam no consumo e na distribuição. É por meio desses dois Estados que a expansão da rota do tráfico acontece. Por isso, os chefões precisam de gente, os “soldados do tráfico”, para expandir os negócios, pelas as demais regiões.

Quando existe briga entre eles, a luta é por território, onde as facções criminosas atuam. “As organizações se falam, se comunicam e compartilham rotas”, disse. Por isso, quando a polícia tem uma informação e vai checar, para fazer uma apreensão de fuzis, muitas vezes, a operação não logra êxito, porque eles ficam sabendo antes e mudam o esconderijo.

Subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, tenente-coronel PM Uirá do Nascimento Ferreira, falou em entrevista coletiva on-line na SSP (Foto: Sandro Lima)

Polícia chegou a ir no esconderijo de “Nem Catenga”, mas ele fugiu deixando tudo para trás

A prisão do Nem Catenga, o traficante alagoano que se encontra refugiado no Morro do Alemão, já estava certa, mas quando a polícia chegou no seu paradeiro, ele tinha acabado de fugir, com a mulher, deixando tudo para trás, conforme revelou o subsecretario. O traficante está há mais de dez anos foragido de Maceió.

Quando ele foi preso, junto com o pai, conhecido na região da Brejal e da Virgem dos Pobres, como Zé Moreno, estava com vários mandados de prisão no nome dele, por assaltos e tráfico de drogas. Mas conseguiu fugir e foi se esconder no Rio, onde se encontra protegido pelo Comando Vermelho.
Nos morros cariocas, as facções atuam de tal forma que têm determinada regiões onde só entra quem eles querem ou pagam uma espécie de pedágio. Por mais preparada que estejam as forças policiais, o crime consegue se safar, pois tem informantes infiltrados.

“O Comando Vermelho e o PCC estão muito bem estruturados”, disse. Além de cooptar a juventude para o trabalho no tráfico, os chefões contam com uma rede de profissionais de apoio, bons advogados, contadores competentes e até policiais, que se bandeiam para o mundo do crime.

Questionado se as facções estão envolvidas com política, lançando candidatos ou financiando candidaturas, o subsecretário Nascimento confirmou. “Como este ano teremos eleições municipais, com certeza as facções vão lançar seus candidatos ou financiar candidaturas em várias cidades”, afirmou.

Em Maceió, recentemente, o delegado Thiago Prado, da Polícia Civil de Alagoas, em entrevista coletiva, revelou que pelo menos uma candidatura à Câmara Municipal está sendo financiada por uma facção criminosa.

Por isso, a Justiça Eleitoral e demais autoridades precisam estar atentas para evitar esse tipo de candidatura. “O poder do crime organizado é muito grande”, reforçou o tenente-coronel Nascimento.

Secretário de Segurança Pública de Alagoas, Flávio Saraiva (Foto: Sandro Lima)

Crime organizado está infiltrado no Rio de Janeiro há cinco décadas

O subsecretário Nascimento disse ainda que o crime organizado está infiltrado no Rio há cerca de cinco décadas. “Só o Comando Vermelho vai completar 50 anos, em 2029. Quando entrou em atividade, tinha como lema paz, justiça e liberdade”.

Para o subsecretário, que foi o chefe do Bope no Rio, vários fatores dificultam o combate ao crime e fazem com que a polícia leve desvantagem na guerra contra o tráfico de drogas e de armas. Entre esses fatores estão as questões política e jurídica.

A luta contra a bandidagem muitas vezes não avança porque, por atrás do crime, há sempre uma teia de interesses políticos, partidários e ideológicos, além das limitações legais. A burocracia para mandar prender é grande e quando a autorização judicial chega é tarde, o bandido já tem fugido.

A questão da letalidade também é desproporcional. O crime pode matar, a polícia, na maioria das vezes, não. Pois se mata, mesmo em situações de conflito ou tiroteio, estará sempre sujeita aos questionamentos das organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos.

Guerra contra o tráfico

A guerra contra o tráfico, na opinião do subsecretário, só terá existo se as forças policiais estiverem unidas, bem armadas e atuarem de forma integrada, com um serviço de informações eficiente, dando suporte às operações.

Segundo ele, a guerra hoje se dá no campo das informações, nas redes sociais e no controle das narrativas. O crime avança atraindo os jovens, que estão ingressando nas facções cada vez mais precocemente.

A cooptação acontece não só como oportunidade de “emprego” e “renda”, mas por meio de manifestações culturais como a música, a dança e as artes visuais.

Por isso, o subsecretário destaca a importância do trabalho social, educativo e cultural desenvolvidos por organizações não-governamentais que trabalham com a juventude, para evitar que os jovens enveredem para o crime.

O secretário de Segurança de Alagoas, Flávio Saraiva, este presente na entrevista.