Cidades

Moradores dos Flexais denunciam documento

Lideranças afirmam que pode ser manobra da Braskem para maquiar situação

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 11/04/2024 08h39
Moradores dos Flexais denunciam documento
Moradores dos Flexais, em Bebedouro, querem realocação como solução - Foto: Edilson Omena

A Moradores dos bairros atingidos pelo afundamento do solo provocado pela petroquímica Braskem procuraram a reportagem do jornal Tribuna Independente para denunciarem que receberam um documento “suspeito” intitulado de “vistoria agendada”. Conforme os moradores, ao assinarem tal documento, receberão a visita de técnicos que farão uma vistoria no imóvel.

A Tribuna teve acesso ao documento, onde consta que “a Passarelli Engenharia e Construção Ltda, responsável pela execução da requalificação viária das ruas Tobia Barreto e Faustino da Silveira, e da requalificação dos espaço livres de lazer e seus equipamentos, Praça Nossa Senhora das Dores, Flechal [sic], no bairro Bebedouro, em Maceió, Alagoas, solicita autorização para realizar o serviço de vistoria cautelar, um procedimento de verificação das condições de conservação e estado geral do imóvel, visando garantir sua segurança e de seu patrimônio”.

Ainda no corpo do documento, segue, “para a execução das vistorias cautelares, a Passarelli contratou a Projetar Projetos e Consultoria Ltda. Engenheiros e técnicos da Projetar, devidamente identificados, verificarão as condições de conservação e estado geral do imóvel, vistoria que poderá ser acompanhada por vossa senhoria. No decorrer da visita, serão feitas fotografias para registro, contendo todas as informações e condições de vosso imóvel que serão anexados ao relatório técnico ao final da expansão. Vossa senhoria poderá, ao final, se manifestar a respeito das observações feitas durante a vistoria cautelar”.

A carta é assinada pela engenheira Amara Midian C. Alves, da Projetar. No documento tem o espaço em branco para cada morador escrever o endereço da unidade vistoriada, além de espaço para preencher seu nome e assinatura. O texto diz ainda que caso necessário agendar a vistoria cautelar, o morador pode entrar em contato com a Projetar pelos telefones (82) 99141-9182 ou (82) 3435-0333.

O coordenador do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), Cássio Araújo Pinheiro, afirmou que ninguém tem autorização para entrar na casa alheia, só quando o morador permite ou por ordem judicial, então esse documento não tem sentido.

“Querem maquiar para dizer que estão tratando das pessoas, das casas. Na verdade, essas rachaduras são por conta dos buracos das minas. Querem esconder das autoridades uma investigação mais profunda”, disse.

Carta chegou a 3.400 pessoas da região

Valdemir Alves dos Santos, também representante do MUVB, acredita que a carta chegou às mãos de pelo menos 3.400 pessoas que ainda residem nas áreas descritas no texto.
“Estamos orientando aos moradores que nem assinem. Aliás que, na verdade, nem recebam. “Isso é mais um golpe para vitimar ainda mais os oradores atingidos pela Braskem. Ninguém pode entrar na nossa residência e tirar fotos das rachaduras”, afirmou.

“Ao final da tal vistoria, pedem documentos, solicitam a assinatura do proprietário e, depois, se ainda surgir mais alguma rachadura posteriormente, dirão que o responsável pelo imóvel assinou um documento dizendo que a partir daquela data, nada mais é de responsabilidade da Braskem”, alegou a liderança.

“Já estamos tomando as providencias cabíveis para formulamos mais essa denúncia. Até quando vão continuar a desrespeitar nossos direitos?”

A empresa Projetar se negou a prestar esclarecimentos sobre o caso.

A Braskem esclareceu que o documento citado pelos moradores é referente à vistoria cautelar que vem sendo realizada em algumas residências dos Flexais e não tem qualquer ligação com o Bom Parto.

“Essa vistoria antecede as obras de requalificação viária das ruas Tobias Barreto e Faustino Silveira, previstas no Projeto Flexais, e que serão iniciadas neste mês de abril. O registro da condição atual das casas próximas a essas vias visa somente garantir a segurança de moradores da região”, afirmou a nota.