Cidades

Em caso de incêndio, carros elétricos causam mais dificuldade para apagar chamas

Especialistas explicam os benefícios e dificuldades para quem adquire esse tipo de veículo que tem circulação crescente

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 03/02/2024 08h35 - Atualizado em 03/02/2024 17h17
Em caso de incêndio, carros elétricos causam mais dificuldade para apagar chamas
Comercialização de carros elétricos está em crescimento no Brasil e aumenta também em Alagoas - Foto: Divulgação

Eles são quase dois mil em Alagoas, transitando pelas ruas e avenidas da capital e pelas rodovias estaduais. Despertam a curiosidade de alguns, acendem o desejo de outros. E fazem uma certa quantidade de pessoas torcer o nariz para sua ascensão. O fato é que os carros elétricos chegaram com força no Estado. E, ao que tudo indica, vieram para ficar.

Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), em 2023, as vendas no Brasil tiveram aumento de até 83% em relação ao ano de 2022. A expectativa é que esse número continue subindo, com a chegada de novos modelos e a expansão da infraestrutura de recarga. A estimativa da entidade é de que o país alcance a marca de um milhão de carros elétricos e híbridos em circulação até 2030.

A tecnologia trouxe, junto aos carros elétricos, alguns questionamentos. Afinal, tudo o que é “novidade” desperta muita curiosidade. Uma delas é quanto à segurança desse tipo de automóvel.

Afinal, os carros elétricos são ou não seguros em relação à ocorrência de incêndios? Esse tipo de automóvel é ou não mais suscetível à incidência de sinistros?

A reportagem do jornal Tribuna Independente ouviu especialistas no assunto. E a resposta é não! No entanto, quando acontecem os incêndios em carros elétricos, são muito mais perigosos do que os registrados em um veículo à combustão.

Embora não haja nenhum registro em Alagoas, não é raro se deparar com notícias sobre incêndios em carros elétricos e híbridos. Para se ter uma ideia, nos últimos seis anos, foram registrados pelo menos quatro casos de incêndios em navios cargueiros que começaram nas baterias de veículos transportados.

Vídeos e fotos de automóveis elétricos incendiados também estão viralizando com frequência nas redes sociais, deixando a população receosa sobre esse tipo de modelo. É um tipo de fogo que “nem a água apaga”, garantem os especialistas.

De acordo com o engenheiro eletricista e especialista em Segurança do Trabalho, Edson Martinho, a explicação encontra respaldo no tipo de bateria.

“Isto porque a bateria de íon lítio tem como componente eletrólito. Quando pega fogo, o oxigênio presente nele fomenta o incêndio. Nesse contexto, a água pode alimentá-lo, já que é composta por moléculas de hidrogênio e oxigênio, substância que vai fomentar mais ainda a queima”, frisou.

O engenheiro diz os carros elétricos são mais seguros do que os carros movidos a combustível.

Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas alerta para se fazer manutenção

A orientação do Corpo de Bombeiros Militar é de que, ao se deparar com um incêndio em um carro elétrico, é crucial priorizar a segurança pessoal. Primeiramente, manter uma distância segura do veículo em chamas e evitar tocar nas partes metálicas para evitar riscos elétricos e ou ser atingido por eventuais objetos projetados com uma possível explosão. O isolamento da área é essencial, assim como a evacuação das pessoas em um raio seguro para protegê-las.

Conforme o major Fernando Holanda, do Corpo de Bombeiros de Alagoas, os carros elétricos seguem padrões construtivos normatizados. Logo, o risco está associado a eventuais falhas no padrão construtivo e ou cuidados associados à manutenção, desde a realização de serviços em locais não especializados e ou não uso de peças genuínas.

O major, que é presidente da Comissão Técnica de Ensino e Pesquisa de Incêndio e perito de incêndio, explicou que como os carros elétricos representam uma realidade recente, não há dados consistentes para que análises e conclusões possam ser concretizadas acerca das quantidade de ocorrências e suas consequências.

Uma dica crucial é que seja “seguido, impreterivelmente, o protocolo estabelecido pela vendedora do veículo, tanto correlato ao correto dimensionamento das instalações elétricas, quanto dos procedimentos operacionais no manuseio dos equipamentos para recarga”, completou o oficial.

Dificuldades para quem adquire veículo e mora em condomínio

Quem mora em prédio o que deve fazer ao adquirir um carro elétrico? “A primeira coisa a ser feita é fazer um estudo para saber se o prédio tem condições de acrescentar essa carga, já que há carregadores que têm potência maior do que três chuveiros elétricos ligados na maior potência juntos, ou seja, 22kW. Após esse estudo a instalação deve ser feito levando em consideração a localização. É sugerido que os carregadores e as vagas dos veículos elétricos fiquem próximo a pontos de acesso, caso seja necessário entrar para uma emergência, e a instalação deve ser realizada por profissionais qualificados”, orientou o engenheiro eletricista Edson Martinho que atua como coordenador pedagógico da Fluke Academy e é sócio da Lambda Consultoria.

O bancário R.A.G., 43 anos, adquiriu seu carro elétrico há cerca de dois meses. Por enquanto, está deixando o veículo na residência da sogra. Não está conseguindo fazer com que os condôminos do prédio onde reside aceitarem mudanças no prédio para que o veículo seja recarregado no prédio. Por isso, ele preferiu o anonimato.

“Apesar desse obstáculo, estou muito satisfeito com minha aquisição”, convencional”, considerou ao afirmar que está tentando marcar uma assembleia no condômino para discutir o assunto.

Sobre a vida útil das baterias, Edson Martinho garantiu que os veículos e os bons carregadores informam a condição da bateria e se ela está acabando a vida útil. “Mas como todo equipamento a bateria, você perceberá à medida que começa a falhar”, pontuou.

Ele diz que ao iniciar um incêndio nessas baterias é praticamente impossível apagar, o que se pode é esperar ela se consumir toda.