Cidades

Queda de quase 90% nos casos de dengue deixa Alagoas de fora de 1ª distribuição de vacina

Ministério da Saúde vai priorizar municípios brasileiros com alta transmissão da doença

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 27/01/2024 10h28
Queda de quase 90% nos casos de dengue deixa Alagoas de fora de 1ª distribuição de vacina
Água parada é ambiente propício para a proliferação do Aedes aegypti e maior transmissão é no verão - Foto: Edilson Omena / Arquivo

Alagoas não receberá as vacinas contra a Dengue. Pelo menos não nessa primeira etapa de distribuição. A decisão é do Ministério da Saúde e está baseada na expressiva redução de quase 90% nos casos da doença registrados no ano passado em relação ao ano de 2022.

Conforme a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), em 2023, o Estado registrou 4.287 casos de dengue e quatro óbitos, marcando uma considerável diminuição em comparação com os 33.609 casos e 21 mortes registrados em 2022.

De acordo com os critérios do Ministério da Saúde, receberão as vacinas os municípios brasileiros de grande porte (com mais de 100 mil habitantes) e com alta transmissão de dengue. Além de maior incidência de casos em 2023 e 2024 e predominância do sorotipo DENV2 em dezembro de 2023.

A vacina contra a Dengue será aplicada no público-alvo de regiões endêmicas, em 521 municípios, abrangendo 16 estados e o Distrito Federal, a partir de fevereiro.

Serão vacinadas as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalização por dengue, depois das pessoas idosas.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não autorizou a vacinação para os idosos. O esquema vacinal será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre ambas.

A imunização faz parte de uma série de ações iniciadas ainda no ano passado para enfrentamento da doença.

Desde 2023, o Ministério da Saúde está em constante monitoramento e alerta para o aumento de casos de dengue no Brasil. Nesse cenário, a pasta coordenou uma série de ações para o enfrentamento das arboviroses, intensificou os esforços e reforçou a conscientização sobre medidas de prevenção.

O processo foi organizado com Conass e Conasems – órgãos representantes das Secretarias de Saúde dos estados e municípios – seguindo as recomendações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal.

A Qdenga (TAK-003) é um imunizante contra a dengue desenvolvido pelo laboratório japonês Takeda Pharma. A vacina contém vírus vivos atenuados da dengue. Por isso, ela induz respostas imunológicas contra os quatro sorotipos do vírus da dengue.

Nos ensaios clínicos, a Qdenga mostrou ter uma eficácia geral de 80,2% contra a dengue causada por qualquer sorotipo após 12 meses da segunda dose. A vacina também reduziu as hospitalizações em 90%. A aplicação é subcutânea.

Desde agosto do ano passado, a vacina contra dengue já está disponível na rede particular em Alagoas. O imunizante promete ser a grande arma contra o número de casos da doença.

Imunização está disponível apenas em clínicas particulares de Alagoas

O imunizante é, para os especialistas, a grande aposta na luta pela diminuição no número de casos da doença. O médico infectologista Fernando Maia destacou a eficácia da vacina no combate à doença.

“O mosquito é muito difícil de ser erradicado. O mosquito que acaba de nascer, já nasce infectado. Não precisa picar uma pessoa infectada para a partir daí transmitir o vírus. A vacina veio em muito boa hora. Sem uma vacina efetiva, não há como combater esse mal”, explicou.

Ainda segundo o médico, a vacina é apenas uma das ações para combater a doença. Vencer o mosquito, avaliou o médico, depende do poder público juntamente às ações da população.

“O Aedes aegypti se adaptou muito bem ao ambiente urbano e se reproduz em qualquer lugar, um copo, um prato, um caco de telha. Qualquer volume mínimo de água acumulada em um lugar minúsculo vira um ambiente propício à reprodução do mosquito, por isso é tão difícil erradicá-lo”, considerou o médico que fez ainda um alerta ao lembrar que a vacina é só mais uma aliada no combate à dengue. “As medidas de proteção e prevenção para acabar com o mosquito Aedes aegypti (como não acumular água parada, por exemplo) precisam continuar”, finalizou.

A dengue é uma doença cujo período de maior transmissão coincide com o verão, devido aos fatores climáticos favoráveis à proliferação do mosquito Aedes aegypti em ambientes quentes e úmidos.

Vacina em Alagoas

Em Alagoas, a vacina contra dengue já está disponível em três das cinco clínicas particulares de vacinação procuradas pela reportagem da Tribuna Independente. O investimento médio para cada dose é de R$ 470,00, podendo variar entre R$ 20,00 e R$ 40,00 de uma clínica de vacinação para outra. Em todas elas, o valor pode ser parcelado em até seis vezes, sem juros. Para a imunização completa, são necessárias duas doses.

Apesar do tamanho minúsculo, o mosquito Aedes aegypti é causador da dengue, zika e chikungunya. Arboviroses são as doenças causadas pelos arbovírus, que incluem os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

Conheça a doença, sintomas e sua forma de transmissão

O vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti infectado e possui quatro sorotipos diferentes — todos podem causar as diferentes formas da doença. O inseto que, por ser muito adaptado ao ambiente urbano, pode ser facilmente encontrado dentro de casas em diferentes cidades do país.

Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém as pessoas mais velhas e aquelas que possuem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.

Os principais sintomas são: febre alta (acima de 38°C), dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas.

A dengue hemorrágica, forma mais grave da doença, é mais comum quando a pessoa contrai o vírus pela segunda vez.

Ao apresentar os sintomas, é importante procurar um serviço de saúde para diagnóstico e tratamento.

Para evitar a dengue o mais importante é não deixar água parada. O mosquito pode usar como criadouros grandes espaços, como caixas d’água e piscinas abertas, até pequenos objetos, como tampas de garrafa e vasos de planta.