Cidades

Lagoa invade mais a mina 18 e causa redemoinho

Geóloga e professora da Ufal acredita que processo de rompimento é somente início de eventual colapso

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 13/12/2023 09h57 - Atualizado em 13/12/2023 16h14
Lagoa invade mais a mina 18 e causa redemoinho
Lagoa está novamente entrando na mina, mas Defesa Civil diz ser apenas movimento de acomodação - Foto: Edilson Omena

Os desdobramentos do colapso sofrido na mina 18 na Lagoa Mundaú, na região do Mutange, há três dias, parecem ser tão preocupantes quanto as incertezas vividas nos dias que antecederam o movimento. Os próximos acontecimentos são desconhecidos e a população e a natureza seguem em busca de respostas do poder público.

Na manhã de ontem, a mina 18 voltou a apresentar uma movimentação de água formando um redemoinho. O registro, feito através de imagens aéreas por uma emissora local de TV, é bem diferente das imagens captadas na última segunda-feira, quando, aparentemente, a água não estava mais sendo sugada para dentro da mina.

Em nota, a Defesa Civil de Maceió informou que o movimento registrado onde ocorreu o colapso da mina nº18, na Lagoa Mundaú, já era esperado e faz parte do processo de acomodação do evento, que ainda está em andamento.

“O órgão reforça as orientações de que a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização. Assim como os pescadores também devem evitar o trecho demarcado pela Marinha”, reforçou a nota, que afirma ainda que a equipe de análise da Defesa Civil ressaltou que essas informações e recomendações são baseadas em dados contínuos, incluindo análises sísmicas, e que segue monitorando a área 24 horas por dia”, concluiu.

Acomodação

De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, Abelardo Nobre, o movimento faz parte do processo de acomodação e deve ser repetir em outros momentos até que realmente todo o processo se estabilize.

“Continuar não frequentando a área isolada e evitar fake news é a melhor forma de se preservar nesse momento. Em caso de dúvidas, a população pode ser informar, ligando o telefone 199 da Defesa Civil”, completou.

Segundo Abelardo Nobre, um outro DGPS foi colocado na borda da área colapsada. “Não faz ainda 24 horas que ele foi instalado, então ainda há necessidade de um certo tempo para que os dados transmitidos sejam processados e sejam transformados em distância por tempo”, ponderou.

Na última segunda-feira, a Defesa Civil de Maceió admitiu que o equipamento DGPS foi perdido com o rompimento da cavidade localizada na Lagoa Mundaú.

Universidade

Paralelamente ao monitoramento feito pela Defesa Civil, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) aguardam os resultados das análises que mostrarão os danos sofridos pela natureza desde o episódio do rompimento da mina 18.

Os resultados estão sendo esperados para um prazo de dez dias, a contar desde a última segunda, quando as amostras de água foram coletadas. As imagens mostram entulhos acumulados na área da lagoa, bioma que serve como única fonte de renda para muitos pescadores.

Rompimento

Para alguns especialistas, o rompimento da mina 18, localizada no bairro do Mutange, em Maceió, pode ser o começo de um processo em que as consequências ainda não são claras. Segundo a Defesa Civil da capital alagoana, parte da mina se rompeu no início da tarde deste domingo (10/12).

Até agora, a cidade já teve 60 mil pessoas afetadas e 14 mil residências evacuadas desde 2018.

Cinco bairros sofrem com o afundamento do solo causado pela mineração da Braskem, que ocorreu dos anos 1970 até 2019.

A engenheira geóloga Regla Toujaguez La Rosa Massahud, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), acredita que o processo de rompimento é somente o início do eventual colapso da mina, mas afirma que é difícil precisar quando isso pode acontecer.

“Primeiro, tem que romper toda a parte superior, que é o que nós vemos nos vídeos divulgados. O fissuramento faz aquelas bolhas surgirem. Agora, nós temos que aguardar. Estamos monitorando essa situação há semanas e não podemos nos precipitar”, explica.

“Acredito que a chuva que tivemos nos últimos dias pode ter gerado mais peso na área, contribuindo para esse rompimento. De toda forma, não acredito em um efeito que faça as próximas minas colapsarem, porque outras já estão preenchidas. Acredito que deve ficar nessa região, felizmente sem pessoas”, complementa.