Cidades
Canaã festeja aniversário com exposição de fotos que contam a história do bairro
Bairro da parte alta de Maceió realiza festejos para comemorar seu aniversário
O Canaã está em festa até o próximo domingo, dia 10, em comemoração ao aniversário do tradicional bairro da boemia alagoana que, nas décadas de 70 e 80, reunia políticos, compositores, cantores, boêmios e apaixonados pela boa vida e diversão.
Os cerca de sete mil moradores do bairro, relembram, com peculiar orgulho, as histórias pitorescas dos mais antigos habitantes e frequentadores das famosas boates. Hoje, já extintas, povoam a memória nos relatos frequentemente contados à porta de casa e ouvidos pelos mais jovens do bairro. A maioria dos moradores é nascida no interior do Estado.
Os primeiros moradores do Canaã, contou o presidente da Associação dos Moradores do Canaã, Bonifácio Oliveira, chegaram em setembro de 1966, data em que eles consideram a fundação do bairro e, por isso mesmo, escolhida para celebrar o aniversário.
“Preparamos tudo com muito carinho. Será uma festa para a família do Canaã e para a família alagoana”, explicou Bonifácio Oliveira.
A festa, iniciada, na noite de ontem, movimentará o bairro até domingo e tem como ponto central a Praça São José, em frente à Igreja São José. O local está todo ornamentado, com iluminação especial, trios elétricos. Aos moradores e visitantes dos bairros adjacentes serão exibidas fotos em um telão. Os organizadores do evento, lideranças do bairro, prometem uma viagem ao tempo através das imagens.
Sábado será celebrado um culto evangélico e no domingo haverá um bingo realizado pela Igreja Católica. Ontem, teve apresentações musicais e um bolo para simbolizar o aniversário de 57 anos do Canaã.
Pelas ruas do bairro já circularam nomes importantes da música brasileira como Martinho da Vila, Djavan, Altemar Dutra (falecido em 1983) e Valdikson Soriano (falecido em 2008). Além da atriz Vera Fischer.
Segundo o líder comunitário Filipe Félix, o bairro abriga atualmente pessoas de todas as idades que convivem entre um recente passado de glamour e histórias folclóricas com a modernidade de um bairro dinâmico.
Atualmente, o Canaã representa uma boa fatia da economia de Maceió com cerca de 35 empresas atuantes nos mais diversos ramos de negócios.
Segundo o jornalista e historiador Edberto Ticianeli, o Canaã foi denominado oficialmente como bairro pela Lei nº 395, de 15 de dezembro de 1954, ainda com a grafia Canaan. Era o prolongamento do antigo Areiais. Na verdade, surgiu como um loteamento.
“Entretanto, a ocupação do local havia começado antes. A sua primeira referência foi o Posto Fiscal da Fazenda Estadual que foi construído no final da Avenida Fernandes Lima e início da Avenida Durval de Góis Monteiro, como definiu a Lei nº 125, de 7 de julho de 1950. O bairro também ficou conhecido por ter recebido parte dos bares expulsos de Jaraguá”, recordou o jornalista.
Os mais antigos associam o bairro Canaã ao nome do Mossoró, nascido Benedito Alves dos Santos, que fundou a antiga boate e churrascaria Areia Branca.
O local fazia a alegria dos rapazes mais afoitos que buscavam no local a satisfação com as moças. A boate Areia Branca ficou consagrada como o melhor prostíbulo de Alagoas, nos anos 70 e 80,
Antes de empreender na noite alagoana, era pintor. Deixou a profissão para se tornar dono de bar. No bairro de Jaraguá abriu seu primeiro estabelecimento. Permaneceu por longos anos na Rua Sá e Albuquerque, até o governo da época determinar o fechamento dos prostíbulos, em 1967. Para fugir da fiscalização do governo, abriu um novo bar no terreno que tinha no Canaã.
Mossoró morreu em 1994, vítima de um infarto fulminante. Com a sua morte, o Areia Branca resistiu menos de um ano com as portas abertas.
O apelido Mossoró foi dado pelos fregueses, devido ao nome da boate Areia Branca, que lembrava as dunas de areia na cidade de Natal. O prostíbulo ganhou tanta fama, que virou ponto turístico em Maceió. A boate, inclusive, virou tema de música do sambista Martinho da Villa e do alagoano Djavan.
“... Vou tomar uma azuladinha
E vou convidar vocês
Pra comer uma agulhinha
Lá na Praia do Francês
E um casadinho de feijão
Lá na casa do Seu João
E depois vou vadiar
Com as meninas em Mossoró
Só em Maceió
Só em Maceió
É que se pode vadiar
Com as meninas de Mossoró
Com as meninas de Mossoró Alagoas, Alagoas
Há Alagoas...”, escreveu Martinho da Villa.
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