Cidades
Pai doa cinco órgãos de filho e salva vidas em Alagoas
Autônomo perdeu cinco filhos em um ano, mas resolveu fazer doação de um deles, morto em acidente

No último ano, o autônomo José Cícero da Silva, que mora no município de União dos Palmares, em Alagoas, perdeu cinco filhos. Um deles, Márcio Felipe da Silva, de 19 anos, sofreu um acidente de moto e ficou quase três meses internado no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió. Quando os médicos confirmaram a morte cerebral, no dia 5 de abril, José Cícero teve de enfrentar a decisão de doar, ou não os órgãos do filho.
“Ele estava sem capacete, quebrou perna, braço, coluna em dois cantos, teve muitas fraturas. Eu ainda tinha muita esperança dele acordar, mas não teve jeito. Quando o pessoal do hospital falou comigo e com a minha esposa sobre doação, minha esposa não queria na hora, mas depois conversei com ela e assinamos os papéis”, contou Silva.
Após a autorização da família, cinco pessoas foram beneficiadas com a doação. “Fiquei muito feliz porque tem partes dele que salvaram outras vidas. Foram muitas tragédias, uma atrás da outra. Até hoje, ainda não processamos tudo que aconteceu, mas, se eu pudesse, teria doado os órgãos de todos os filhos que perdi. Inclusive, pretendo ser doador porque, se a gente puder salvar outras pessoas, é muito importante e gratificante. Ninguém está livre de precisar”, afirmou o autônomo.
E José Cícero não esconde a vontade de conhecer as pessoas que receberam os órgãos do filho. “A gente sabe que tem algumas partes dele que estão vivas. Eu tenho muita vontade de conhecer algum deles que recebeu, que carrega uma parte do meu filho com ele”, disse.
RECUSA FAMILIAR
Mais de 500 pessoas estão na fila de transplante de órgãos em Alagoas, segundo dados da Central de Transplantes. São 453 aguardando por um transplante de córnea, 48 por um transplante de rim e seis por um de fígado e um por um de coração. E a recusa familiar para doação de órgãos foi de 45% no primeiro semestre deste ano.
Segundo a coordenadora da Central de Transplantes, Daniela Ramos, é importante que as pessoas que desejam doar conversem com os familiares, já que a autodeclaração como doador não é suficiente no Brasil. “Sempre falamos para que declarem ainda em vida para os seus familiares o desejo de continuar deixando um pedacinho, dando continuidade à vida de tantas pessoas que precisam, para que a família no momento da dor diga sim à doação”, afirmou.
Um “sim” fez Denyson receber um coração novo
O agente administrativo Denyson Monteiro, de 43 anos, passou por um transplante de coração há 10 meses. Ele era portador de miocardiopatia, doença do músculo cardíaco (miocárdio) que compromete o bombeamento de sangue para o organismo e, em muitos casos, é provocada por fatores genéticos e hereditários.
Segundo Monteiro, ele ganhou uma nova data de aniversário. “Eu tinha dificuldade para dormir, para falar, sempre apresentava cansaço. Tinha noite que ficava sentado acordado. Fiquei 10 meses e 21 dias na fila de transplante e consegui fazer no dia 25 de outubro do ano passado. Todo mês, a gente comemora. E no dia 25 de outubro deste ano, eu completo meu primeiro aninho”, contou.
O coração doado bate paralelamente ao coração nativo de Denyson. A modalidade cirúrgica em que o coração original do paciente é preservado e conectado ao do doador - ambos funcionam em paralelo - é tecnicamente conhecida como transplante heterotópico.
Para o agente administrativo, receber o novo coração foi uma surpresa. “Tinha passado o dia fora com a minha esposa e quando chegamos em casa joguei o celular em cima da cama. Quando eu dei as costas, ele começou a tocar, chega me assustei. Aí atendi e o médico falou que estava ligando para avisar que o meu coração chegou e estava me esperando. Você não sabe se falta chão, foi felicidade e medo ao mesmo tempo, porque eu pensava que ia viver até os 80 anos sem fazer a cirurgia, aí de repente a notícia, comecei a tremer”, disse.
Reza por órgão novo
De acordo com Monteiro, só quem precisa passar por um transplante entende. “Eu vi o Faustão falando e fiquei todo arrepiado com o depoimento porque só quem passa é quem sabe o preço que é porque você não deseja a morte de ninguém. Você reza querendo a cirurgia, mas não que alguém morra para que você consiga um coração. Você pede uma coisa, mas não imagina que uma família vai ficar triste com aquela perda, é muito complicado. É muita coragem porque não é o ato de doar, mas de fazer uma boa ação no momento que você está destruído. Imagine você sendo pai, mãe, um irmão e ter que tomar uma atitude. Quero muito conhecer a família que doou”, afirmou.
O agente administrativo afirma que, com certeza, será doador de órgãos. “Graças a Deus em primeiro lugar, depois à família que doou e à equipe médica que eu estou bem. Desde os 19 anos, eu doava sangue, de três em três meses, mas precisei parar quando descobri o problema no coração. Sempre gostei de ajudar o próximo, praticar a solidariedade e, com certeza, vou ser doador”.
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