Cidades

Ruas de Maceió ganham 25 novos veículos por dia

Número de automóveis cresceu 18 vezes em 30 anos em Alagoas

Por Valdete Calheiros - colaboradora com Tribuna Independente 16/08/2023 08h25 - Atualizado em 16/08/2023 09h56
Ruas de Maceió ganham 25 novos veículos por dia
Em Maceió, estão emplacado 376.815 veículos; com tantos veículos nas ruas, qualquer protesto, acidente ou obra em via pública é suficiente para travar o trânsito - Foto: Edilson Omena

Maceió ganha diariamente uma média de 25 novos veículos nas ruas. O cálculo feito pelo arquiteto e doutor em Urbanismo, Renan Silva, reflete a sensação de motoristas e pedestres de que o trânsito na capital está sempre sob sinal vermelho e com um congestionamento em cada esquina.

A frota de veículos em Alagoas conta com 1.054.651 unidades. Essa é quantidade de veículos emplacados no Estado, conforme dados disponibilizados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AL). Em Maceió, estão emplacados 376.815 veículos. E a cada mês, de acordo com números fornecidos pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado de Alagoas (Sincodiv), uma média de 1.500 veículos são vendidos no Estado. Frota nova, zero quilômetro. Sem contar com a quantidade de veículos usados que são comercializados.

Em 2022, Alagoas tinha 1.036.837 veículos emplacados. Em 2021 eram 990.011 e em 2020 eram 943.062. Em 1990 quando o Detran deu início à série histórica, o Estado contava com 54.790 veículos.

Do total de veículos registrados no estado, 606.560 têm quatro ou mais rodas e 448.091 têm duas ou três rodas.

Em Alagoas, as vendas de veículos cresceram 20% desde o anúncio dos incentivos por parte do governo federal. O programa para renovação da frota é custeado por meio de créditos tributários, descontos concedidos pelo governo aos fabricantes no pagamento de tributos futuros, no total de R$ 1,5 bilhão. Em troca, a indústria automotiva comprometeu-se a repassar a diferença ao consumidor. Existem no Estado 56 lojas concessionárias, das quais 28 sediadas na capital.

Na avaliação de Renan Silva, que é também especialista em mobilidade e mestre em desenvolvimento local, as ruas não comportam e certamente vai haver, em pouco tempo, saturação com essa pressão espacial que os veículos geram no espaço público.

De acordo com Renan Silva, uma pessoa que utiliza um automóvel ocupa 50, 60 vezes mais espaço público do que uma pessoa que utiliza um ônibus.

“Esse aumento da frota pressiona demais a malha viária da capital. Para absorvermos a demanda de uma média diária de 25 novos carros que entram nas ruas todos os dias teríamos que construir 10 quilômetros de novas vias com duas faixas por sentido para poder comportar. O que é insustentável tanto do ponto de vista espacial quanto do ponto de vista econômico. As cidades que conseguem manter minimamente um trânsito harmônico sem tanta saturação tem como estratégia criar um ambiente de desenvolvimento focando também na infraestrutura de transportes com a maior diversidade de meios de transporte possível. E olhe que 40% dos deslocamentos de Maceió são feitos a pé ou em bicicleta”, discorreu Renan Silva.

Mensalmente o Brasil ganha cerca de 160 mil veículos e as cidades não têm estrutura para acompanhar esse fenômeno. O presidente do Sincodiv, Luiz Pires de Almeida, destacou que houve uma procura maior, uma pequena retomada da retração que o mercado de automotivos amargou no primeiro semestre.

“De janeiro até maio as vendas foram muito baixas. Em junho e julho as vendas melhoraram um pouco. Estamos aguardando novos cenários, acompanhando o que o governo irá apresentar. Houve, na semana passada, uma pequena redução na taxa Selic, o que já deixa o consumidor um pouquinho mais otimista, mas mesmo que acontece uma grande retomada fica ainda muito distante dos números que nós tínhamos antes da pandemia da Covid-19”, comparou.

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. A Selic é a taxa básica de juros da economia. É o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.

Sensação de motoristas e pedestres é que existem mais carros que pessoas

A sensação de motoristas e pedestres que protagonizam o trânsito nas ruas da capital é a de que existem mais carros do que pessoas. A realidade ainda não é essa. Maceió tem 957.916 habitantes, segundo o Censo Demográfico 2022.

No entanto, basta um protesto de populares, um acidente ou alguma obra em via pública para travar o trânsito e causar congestionamentos quilométricos. No início da semana passada, um acidente na Avenida Durval de Góes Monteiro parou o trânsito no sentido Centro-Tabuleiro durante oito horas.

Quem dirige em Maceió apenas para se deslocar já sofre com a realidade do trânsito travado, imagine, então, quem dirige para ter a renda mensal. Como é o caso dos motoristas de aplicativo.

A abertura de novas vias ou alargamento das existentes não acompanha o crescimento da população nem do número de novos veículos.

O engenheiro especialista em Segurança Viária, Antônio Monteiro, lembrou que na década de 90, Maceió tinha cerca de 60 mil veículos e hoje tem mais de 360 mil. O número de veículos foi multiplicado por 18 em 30 anos.

O grande gargalo no trânsito é, segundo o especialista, as falhas no transporte de massa. Não existem corredores de grande fluidez de ônibus. Na falta de transporte de massa adequados, a população busca sempre o transporte individualizado como as motos ou carros com, no máximo, duas pessoas. Há diversas famílias com um carro para cada membro adulto e para cada filho quando atinge a idade para tirar a habilitação.

“Isso sem falar nos problemas da falta de grandes projetos, a cidade cresceu e temos apenas com grandes corredores as avenidas Menino Marcelo, Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro. Perdemos a região do Bebedouro. Recentemente ganhamos a Rota do Mar que não necessariamente liga a parte alta à parte baixa da cidade”, considerou.

Ele chamou a atenção para a falta de calçadas adequadas que garantam aos pedestres segurança ao caminhar. “Um provável pedestre que iria comprar seu pão caminhando precisa tirar seu carro da garagem, virar motorista e ir à padaria de carro porque não sente segurança para andar na calçada”, comparou.
O processo de ciclovias recém-iniciado foi citado pelo engenheiro Antônio Monteiro como algo em quantidade ainda insuficiente sem estar seguindo, em sua totalidade, o manual do espaço cicloviário, que é uma lei federal.

“Precisava ter VLT [veículo leve sobre trilhos], BRT [ônibus de transporte rápido, em tradução livre], bondes para garantir o transporte de massa da população. Eu não falo nem em abrir novas vias, falo em investir muito em transporte de massa”, frisou. BRT é um corredor de ônibus de alta capacidade que pode proporcionar um serviço rápido, confortável e de alto custo-benefício, com capacidade equivalente aos sistemas de metrô.