Cidades

Morre o jornalista Cícero Santana, o popular Bola Sete, aos 73 anos

Repórter policial e investigativo, ele faleceu na madrugada deste domingo, dia 13 de agosto, no HGE onde estava internado desde o início do mês, depois de sofrer um infarto em casa; deixa a esposa, 5 filhos, 12 netos e 6 bisnetos

Por Ricardo Rodrigues - colaborador 13/08/2023 12h39 - Atualizado em 13/08/2023 19h57
Morre o jornalista Cícero Santana, o popular Bola Sete, aos 73 anos
Cícero Santana morreu neste domingo - Foto: Divulgação

Depois de mais de 50 anos de profissão, o popular Bola Sete, como ele era conhecido, faleceu na madrugada deste domingo (13), Dia dos Pais, depois de sofrer um infarto e ser internado no Hospital Geral do Estado (HGE), no começo do mês. Além de uma legião de amigos, Cícero Santana deixa a esposa, dona Néia, cinco filhos, 12 netos e seis bisnetos.

Filho de operários, a mãe trabalhava na gráfica do Jornal de Alagoas e o pai era estivador no cais do porto, Cícero Santana nasceu em Maceió, no bairro da Ponta Grossa, no dia 21 de julho de 1950. Começou cedo sua trajetória como jornalista e se destacou como exímio repórter policial, investigativo e corajoso.

No dia do aniversário dele de 73 anos, a pressão subiu e ele foi atendido na UPA do Trapiche (Foto: Arquivo pessoal)


De acordo com familiares, o corpo dele será velado no Pontal da Barra e o enterro será na segunda-feira, dia 14, às 10 horas da manhã, mas o local do sepultamento ainda será divulgado. Por conta da superlotação dos cemitérios de Maceió, a família ainda não tinha definido o local do enterro dele.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal), ALexandre Lino deu depoimento sofre a morte do companheiro. "Bola foi um nome importante do jornalismo policial, em uma época muito dura, com reportagens que denunciaram crimes dos poderosos e revelaram esquemas para toda Alagoas. Seu bom humor e tino para notícia vão fazer falta", destacou Lino.

Leia a seguir um pouco da trajetória do Bola, por ele mesmo:

BOLA POR ELE MESMO


"Em 1965, aos 15 anos, como ‘foca’ e aluno do 1º ano de Colégio do Sagrada Família, fui trabalhar no O Correio de Maceió (meu primeiro jornal). Foi o irmão de Valter Oliveira quem me indicou. Meu primeiro editor foi Hélio Nascimento.

Em 1966, fui o primeiro repórter a denunciar a prisão de vários jornalistas, no 1º distrito. Arlindo Tavares - Gazeta de Alagoas- fotografara um delinquente que foi espancado no xadrez e a barra pesou. Fui até a Rádio Difusora, que ficava na praça dos Martírios, e denunciei o fato. Era sábado de carnaval. Após os festejos de carnaval, eu já trabalhava na Rádio Difusora, onde fiquei até março de 1969, quando fui o primeiro repórter a documentar a catástrofe da cheia de São José da Lage.

Quando retornei daquele município, fui contratado, imediatamente, pela rádio Gazeta de Alagoas, através do então diretor artístico, Edécio Lopes. Estava com 19 anos. Na Gazeta fiz rádio, televisão e impresso, onde fiquei até 1974, quando fui para o departamento de Notícias da Rádio Progresso, depois Rádio Palmares. Em 1975, estava no Jornal de Alagoas. Saí em 1976. Retornei em 1978.

Em 1978, descobri o primeiro cemitério clandestino de Alagoas, graças uma informação de um amigo que dava aula de anatomia, na Faculdade de Medicina da Ufal. Essa matéria me fez deixar o Estado, porque o então secretário de Segurança Pública, coronel Amaral, brincando ou não, mandou me avisar.
– Vou mandar quebrar as pernas naquele negrinho.

Me mandei para o interior da Bahia, com carta de referência do então presidente do Sindicato dos Jornalistas, Freitas Neto. Carta a ser entregue a Anísio Félix, presidente do sindicato daquele estado. A imprensa baiana vivia uma safra de demissões, então me mudei para Aracajú, procurarei o amigo e publicitário Walfran Soares, dono da empresa Promoval.

Na capital sergipana, fui trabalhar na Tribuna de Aracaju, onde passei uns seis meses e retornei para Alagoas. Lá em Sergipe, minha primeira matéria, foi entrevistar o ‘Papa do Diabo’, Luiz Haurar.

Não esquentei cadeira, de volta a Maceió, fui trabalhar no Repórter Semanal, do saudoso Nílton Oliveira. Era época de eleições e o prefeito de Maceió, Fernando Collor (que era superintendente da Gazeta nos anos 70, quando ali eu estive), convidou-me para trabalhar na assessoria ele.

Meses depois, fui trabalhar na campanha do Collor, quando ele deixou a prefeitura, para disputar um mandato de deputado federal, nas eleições de 1982. Na chefia de reportagem, José Elias, secretário de comunicação do município.

Na sequência, fui transferido para acompanhar dos candidatos majoritários Divaldo Suruagy para o governo do Estado, e Guilherme Palmeira, para o Senado.

Terminado a campanha – os dois ganharam, Fernando Collor também – fui contemplado com um cargo de assessor na Secretária Estadual da Agricultora, no setor da comunicação, tendo como chefe o jornalista Roberto Vilanova e companheiro de trabalho o radialista Arivaldo Maia.

TRAJETÓRIA

Depois, trabalhei também no Jornal de Alagoas e no Jornal de Hoje, do saudoso Jorge Assunção. Por essa época, faziam parte do nosso ciclo de amizade, os jornalistas Mário Buíque, José Machado e Bartolomeu Dresch, entre outros colegas que já se foram. Buíque ainda vive, mas encontra-se, infelizmente, em depressão profundo.

No jornal de Alagoas, meados dos anos 80, conheci o jornalista Ricardo Rodrigues, alagoano de Maceió, mas formado em São Paulo. Quando ele assumiu o cargo de correspondente do Estadão em Alagoas, realizamos algumas matérias juntos e depois eu tirei as férias dele.

Com o “galego” (é assim que eu chamo o Ricardo Rodrigues), trabalhei também no jornal Extra, logo que o semanário começou, em 1997. Depois também como ele também no jornal A Notícia e colaborei também para o site dele, o Almanaque Alagoas.

(Foto: Ricardo Rodrigues)



Tirei as férias do Toinho, na Tribuna de Alagoas, e trabalhei também na editoria de policial, cidade e geral de O Jornal, quando a redação era na Avenida Comendador Leão.

No jornalismo, fiz de tudo um pouco, dei vários furos, mas nunca me preocupei com prêmios e nem condecorações. Sempre atuei de forma independente, respeitando as fontes e primando pela verdade dos fatos.

Além do batente da redação, trabalhei como assessor de imprensa de vários políticos, empresas e instituições. Trabalhei como assessor de comunicação do então prefeito da Barra de Santo Antônio, Rogério Farias (falecido, recentemente) e com a dona Zoraide Beltrão (no Mafrial), que também nos deixou durante a Pandemia.

Atualmente, mantenho um site na internet, o ‘Revista de Mulher’, abrindo espaço para divulgar a comunidade do Pontal da Barra e a luta das mulheres contra a violência e por melhores dias de vida.
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