Cidades

Alarme falso da Braskem provoca pânico no Pontal

Por meio de nota à imprensa, petroquímica admitiu que houve erro no aviso de evacuação

Por Ricardo Rodrigues - colaborador com Tribuna Independente 06/07/2023 10h02
Alarme falso da Braskem provoca pânico no Pontal
Quando o aviso errado foi emitido, alguns moradores passaram mal, mas não houve atendimento médico - Foto: Divulgação

A Braskem tocou um alarme de evacuação da fábrica por engano, na manhã de ontem (5), provocando pânico, desespero e apreensão nos moradores dos bairros Pontal da Barra e Trapiche, na Zona Sul de Maceió. O incidente registrado foi assumido pela petroquímica, que lamentou o ocorrido e disse que o alarme teria sido acionado por engano, por volta das 10 horas.

O aviso sonoro da Braskem falava em vazamento químico e pedia para os moradores deixarem a região. No entanto, por meio de nota, a petroquímica negou qualquer vazamento de produto químico e assumiu que houve um erro no acionamento do alarme, mas sem dar muitos detalhes de como tudo aconteceu. Não disse, por exemplo, se o erro foi mecânico ou manual.

Na nota à imprensa, a Braskem disse que ocorreu uma falha técnica de comunicação no teste de alarme que é efetuado toda quarta-feira, sempre às 10 horas. Segundo a empresa, era para ter soado apenas o som da sirene, emitindo o sinal sonoro de rotina, como acontece toda quarta-feira pela manhã, mas foi emitido, por engano, um aviso pedindo aos moradores que deixassem suas casas.

Quando o aviso errado foi emitido, os moradores do Pontal da Barra entraram em pânico, pensando que algum acidente ou vazamento de cloro tinha ocorrido na Braskem, que fica de frente para a principal avenida de saída de Maceió pelo Litoral Sul. A empresa disse também que, após o erro, foi emitido um novo aviso sonoro informando que a fábrica operava normalmente.

No entanto, moradores do bairro Pontal da Barra, ouvidos pela imprensa, disseram que o novo avisou demorou para ser acionado, só foi emitido quase uma hora depois do primeiro. “Quando a sirene tocou e veio o aviso para a gente evacuar o bairro, todo mundo se desesperou. As pessoas começaram a sair de casa. Muita gente passando mal. Foi uma loucura”, relatou a moradora Marieda Santana.

Segundo ela, a assessoria da Braskem também entrou em contato com os alguns moradores do Pontal da Barra, por meio de grupos no Whatsapp, para fazer alguns informes e pedir apoio às lideranças comunitárias, no sentido de manter a calma. Também foram acionados alguns integrantes do Conselho Comunitário Consultivo, que foi preparado para agir em casos de acidentes e sinistros.

Vídeos mostram desespero das pessoas do bairro

O desespero dos moradores e o corre-corre nas ruas do Pontal da Barra, logo após o aviso sinistro, foram mostrados em vídeos, que circularam nas redes sociais. Nas imagens compartilhadas é possível ver uma viatura do Corpo de Bombeiros e outra da Defesa Civil na região.

No entanto, os moradores reclamaram não chegaram ambulâncias e as pessoas que passaram mal tiveram que se virar sozinhas, não receberam atendimento de saúde da empresa.

As imagens mostram uma criança chorando desesperada, uma cadeirante sendo levada às pressas para a rota de fuga e outras pessoas sentadas no chão, passando mal após o susto. A maioria dos moradores que deixaram suas casas se concentrou na quadra de esportes do Pontal. Outros moradores se dirigiram para a Ponte Divaldo Suruagy, que fica na divisa de Maceió com Marechal Deodoro.

De acordo com a assessoria de comunicação da Braskem, as ambulâncias não foram acionadas pela Defesa Civil porque não houve necessidade, já que foi identificado que o alarme havia tocado por engano.

A empresa não soube informar quem acionou o Corpo de Bombeiros e disse que “segue monitorando a situação e que está em constante contato com a comunidade local para tomar as medidas necessárias”.

Na nota à imprensa, a assessoria da Braskem disse também que a já iniciou uma investigação sobre a falha e que manterá a comunidade informada. “A empresa reafirma seu compromisso com a segurança das pessoas e comunidades no entorno das suas operações”, garantiu a petroquímica, no seu comunicado.

Para os integrantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, a mineradora precisa ser mais transparente na sua rotina de operação e em casos de incidentes, como este ocorrido na manhã desta quarta-feira (5/7), quando o alarme da fábrica trocou, como se um acidente tivesse acabado de acontecer. Ou teria acontecido algum vazamento, como chegou a ser denunciado por alguns moradores, mas a empresa não quis admitir.

“Mesmo com o esclarecimento feito pela Braskem, para muitos moradores ainda há dúvidas sobre o que realmente aconteceu. O fato é que a comunidade do entorno convive diariamente com o risco de acidentes na unidade do Pontal da Barra, como o último ocorrido em maio de 2011, com o vazamento de cloro que chegou a intoxicar 152 pessoas e ferir 5 funcionários”, afirmou a professora e bióloga Neirevane Nunes, coordenadora do MUVB.

Ocorrência tira a credibilidade do sistema de segurança da empresa

Segundo o professor e urbanista Dilson Ferreira, ocorrências como essa colocam em xeque a credibilidade do sistema de segurança da Braskem. “Como uma multinacional do porte da Braskem, com sistema de gestão de riscos certificado internacionalmente, erra nas sirenes e erra nas mensagens à população?”, questionou.

O professor Dilson e a bióloga Neirevane esperam que as autoridades façam uma investigação minuciosa sobre o realmente aconteceu com o alarme da mineradora, para evitar que ocorrências como esta dessa quarta-feira se repitam.

Associação dos Moradores

A Associação dos Moradores e Amigos do Pontal da Barra debateu o incidente registrado na Braskem, no início da noite de ontem, na Colônia de Pescadores. Participaram moradores, comerciantes e prestadores de serviço que trabalham no bairro.

A reunião, convocada pelo presidente Eduardo Antônio, teve como objetivo avaliar os esclarecimentos prestados pela mineradora à comunidade, em decorrência do tumulto causado pela empresa Braskem, obrigando os moradores a se deslocarem para quadra de esportes, usada como rota de fuga.

Para o presidente da entidade, a desculpa da indústria de que o sinal sonoro foi acionado por engano, precisa ser melhor esclarecida. Segundo ele, não basta assumir o erro, a empresa precisa melhorar sua rotina de segurança, mas evitar que situações de riscos se repitam.

Antes da reunião, em contato com a imprensa, o presidente Eduardo Antônio informou que não iria tirar conclusões precipitadas, mas deixou claro que um aviso sonoro não é acionado por acaso. No entanto, ele espera que o incidente seja melhor esclarecido e o problema resolvido.

Segundo o líder comunitário, os moradores do Pontal da Barra e Trapiche da Barra já vivem em constante estado de alerta, com receio de um acidente ou de um vazamento de produtos químicos. Por isso, qualquer alarme que toca, fora de hora, é motivo da apreensão e pânico.

“A gente espera que essa situação não se repita, que esse erro seja investigado, que as autoridades tomem as providências e os culpados sejam punidos”, concluiu o líder comunitário.