Cidades
Erros comuns cometidos pela família no tratamento de dependente químico podem comprometer a evolução do paciente

No processo de dependência química, o círculo familiar é o primeiro a ser afetado pela condição de um indivíduo. Essa situação provoca uma série de reações na família, que chega até mesmo a adoecer e fragilizar as relações familiares e afetivas, criando a necessidade de intervenções terapêuticas. Nesses casos, por diversos e complexos motivos, a família pode cometer erros que prejudicam o processo de tratamento do dependente.
Por não serem profissionais no assunto, os familiares atribuem a dependência às mais diferentes causas, podendo ir de falta de caráter até a obsessão espiritual. A busca por tratamento especializado tende a ser muito adiada, ocorrendo apenas quando a doença já está em fase mais avançada.
Ao TH Entrevista, o psicólogo Jefferson Goes, que atua em clínica de reabilitação para dependentes químicos, explicou que o adiamento em obter ajuda profissional é um dos maiores impedimentos para uma intervenção precoce, pois as famílias acreditam que podem resolver o problema dentro de casa.
“Normalmente a família não quer se distanciar do paciente, se remete a um senso de apego. Muitas vezes esses familiares promovem conscientemente o uso da substância química dentro de casa, até mesmo dando dinheiro para que o dependente não saia de casa. Isso porque, a ausência por dias daquele ente familiar faz com que todo o ambiente doméstico fique angustiado”, relatou.
Esse processo pode desencadear ferramentas de manipulação por parte do dependente, que enxerga a família como refém do seu vício e vai se utilizando desse manejo como algo para sobreviver dentro das drogas. A família entende que esse paciente está correndo riscos fora de casa, já que existe um misticismo do vínculo droga e marginalização, não enxergando que o verdadeiro perigo é a continuação do uso das substâncias.
No entanto, também existe a situação inversa, onde a família não sabe que aquele indivíduo está envolvido com drogas. O psicólogo salienta que é necessária uma atenção maior aos detalhes. “É importante estar atento a mudanças de rotina e incluir situações que normalmente ele não faria. Mudanças radicais de amigos e pessoas próximas a ele também é um sinal de alerta. É sempre bom a família ter um diálogo com o parente, para que a pessoa dependente entenda que a casa dele é um local seguro e que a família o apoia para buscar o tratamento”, contou.
Entre alguns erros cometidos por pessoas próximas, é possível identificar a negação da doença e a demora em buscar um tratamento, o que acaba retardando a solução. Colocar muitas expectativas na intervenção também pode atrapalhar e levar a questionamentos da efetividade a até mesmo da duração do processo terapêutico, o que pode gerar ansiedade no paciente e frustrações na família quando ocorrem recaídas. Torcer por melhoras rápidas também não é considerado um bom caminho, já que cada indivíduo tem o seu tempo para começar a se sentir melhor, assim como subestimá-lo e atribuir uma proteção que não permita o paciente assumir responsabilidades.
“A dependência não tem essa ferramenta em nenhum modelo de tratamento que traga a convicção de uma recuperação. É necessário observar tudo o que tenha uma temporalidade ou que traga um diagnóstico pronto, pois dentro do tratamento isso não é possível de ser atestado. Por isso não é possível afirmar que existe uma cura para vício”, observa o profissional.
Durante o período de tratamento, que envolve também a internação, é importante ter a consciência de que a família do paciente é codependente e também precisa de acompanhamento. “A conduta mais íntegra é sempre informar o diagnóstico desse dependente, como ele se encontra, qual é o desempenho, envolvimento e evolução desse paciente. Isso dá a essa família informações para que eles próprios se cuidem também. Antes de iniciar um tratamento com um dependente, é necessário que os familiares estejam bem. Por isso a importância de um acompanhamento psicológico também da família”, destaca Jefferson Goes.
Há também um senso crítico por parte da família em se questionar e se culpabilizar pelo o que o ente familiar está passando. É necessário que eles entendam que nem são culpados e nem salvador quando se envolve a dependência. Assim, a família tende a negar a existência para pessoas que podem colaborar e acreditam que fazer isso veladamente vai ser mais assertivo.
“Uma das primeiras falas da família é se questionar onde foi que errou. E na verdade, é uma falta de ajuste familiar, não há culpados. A gente sempre informa que os pais não ocasionam o uso do filho, mas existe algo que leva o filho à dependência. É comum ver que eles tentam atribuir a culpa a uma possível ausência”, comentou o psicólogo.
Por último, é importante que o familiar não se deixe dominar pela emoção, levando a reações como gritar, discutir ou ameaçar. É necessário ser o mais racional possível, pois o tratamento é contra intuitivo, deixando o paciente sofrer as consequências da dependência.
“Os pais sempre cometem um erro drástico que é ameaçar e impedir. Essa informação é necessária para que não haja uma aceitação da situação de dependência, mas que eles estão cientes do quadro que está acontecendo. Isso dá a possibilidade dele reconhecer o estado ao qual ele se encontra. Quando há ameaças, agressões e discussões podem terminar afastando o jovem que pode buscar ajuda longe da família”, finalizou.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo:
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