Cidades

Pais apostam em livros usados para economizar

Comercialização ocorre em grupos de WhatsApp e eles dizem que conseguem reduzir valor da lista de material escolar em até 70%

Por Luciana Beder com Tribuna Independente 10/01/2023 06h31
Pais apostam em livros usados para economizar
Mãe de Sofia, que está no 9º ano, Rosilda Vasconcelos diz que compra e venda de livros usados há mais de 6 anos - Foto: Adailson Calheiros

Todo início de ano é marcado por muitas despesas como IPTU, IPVA e, para os alagoanos que têm filhos, matrícula e material escolar entram nessa lista. Para economizar nas despesas com os filhos, muitas mães têm comprado livros usados. A economia muitas vezes chega a mais de 50%, como no caso da empresária Ana Lucia Santana, que conseguiu adquirir os módulos do filho com 70% de desconto.

“Meu filho está no 1º ano do ensino médio. O módulo que sairia por R$ 2 mil, eu comprei por R$ 600. Vale muito a pena a economia. Na verdade, ainda nem fui buscar os módulos, mas já comprei para garantir a economia”, contou Santana.

A empresária faz parte de um grupo nas redes sociais criado por mães de alunos com o intuito de comprar e vender material escolar que não utilizam mais. “Já comprei outras vezes e, se não tiver nenhum problema com a escola, como nunca teve, pretendo continuar por causa da economia que é muito boa”, disse.

A engenheira agrônoma Jaqueline Figueiredo faz parte de um grupo com quase 260 mães, desde 2018, e costuma vender os livros do filho Tales. “Já vendi módulos e paradidáticos. Nunca vendi fardamento, porém, algumas mães sim. Outras doam as fardas e módulos ou livros mais antigos”, afirmou.

Para Figueiredo, além da economia, é uma questão socioambiental. “Tem mães que vendem por 50% do preço original, outras por 40%. Então, é uma boa economia e são livros que iriam para o lixo ou algum depósito. Agora, serão aproveitados por mais algum tempo”, ressaltou.

A assistente social Rosilda Vasconcellos é mãe da Sofia, que está no 9º ano do ensino fundamental II, e administradora de dois grupos criados para compra e venda de material escolar usado no WhatsApp. Segundo ela, já são mais de seis anos desde a criação do primeiro grupo.

“Quando buscávamos organizar o material escolar dos nossos filhos, de um ano para o outro, a escola praticamente mantém os mesmos livros, não só os livros didáticos, mas também os paradidáticos. Aí, ao invés de comprar novos, surgiu a ideia das mães se reunirem e uma passaria para a outra os livros da série que o filho já tinha estudado e não precisava mais. Até porque esses livros são muito caros e fica muito pesado, porque no começo do ano sempre tem muita coisa para pagar”, contou.

De acordo com Vasconcellos, durante todos esses anos, vende e compra livros para a Sofia. “Desde o começo, vendo e compro livros. Além da venda, tem também muita doação. Muitas pessoas que os filhos cresceram, que perderam as fardas e estão em bom estado, doam. Agora mesmo, eu ganhei uma farda e os módulos. Foi uma economia de 100%”, brincou.

“Aproveitamento é mais consciente e faz diferença”

Para a assistente social, o aproveitamento dos materiais faz uma grande diferença. “Os livros e as roupas que não servem mais para uns podem ser utilizados muito bem por outros. Então, evita a produção exagerada, é um consumo bem mais consciente, além de que estamos vivendo uma situação de inflação muito grave que, qualquer economia que seja feita, principalmente, para pessoas que têm o poder aquisitivo menor, classe média, faz uma grande diferença”, avaliou.

Vasconcellos disse ainda que a escola em que a filha estuda não interfere nessa compra e venda entre as mães. “Não vejo a escola criando obstáculos se o aluno chega com o livro que não é novo e o professor sabe, tem consciência que o livro não é novo e não cria nenhum tipo de constrangimento, comentário com relação a isso. Não só a escola, mas os outros alunos também. Nunca tive experiência da minha filha ter sido constrangida com relação a isso. Inclusive, os professores quando passam as atividades colocam tais páginas no livro novo e tais páginas no livro antigo. Então, a criança ou adolescente que tem o livro anterior [a reformulação], que não é edição nova, tem esse retorno do professor, qualquer dúvida também é só perguntar qual a página, mas é lógico que a escola não recomenda”, contou.

A assistente social explicou que as mães que costumam comprar, apagam as respostas para os filhos reutilizarem. “Eu acredito que têm pais que exageram, recomendam que o filho não escreva no livro, não faça nenhum tipo de destaque com aquelas canetinhas, acho isso ruim. Nunca peguei nenhum material que estivesse 100% branco, no sentido que não houve escrita, não houve uma leitura, você nota ali a marca de quem usou. Quando as respostas são de lápis, eu apago. O que tiver sido destacado com marcador de texto, vai continuar e a minha filha usa do mesmo jeito. Acho que vale a pena”, afirmou.

ECONOMISTA

Segundo o economista Diego Farias, o mercado de livros usados é uma ótima forma de economizar, podendo chegar a 80% de diferença no valor do livro novo para o usado.
“Infelizmente, no Brasil, não temos essa cultura em detrimento ao restante do mundo que é uma prática recorrente. Um livro usado tem, em média, 60% de diferença em relação a um livro novo, podendo chegar a 80%. E, hoje, plataformas na internet estão ajudando bastante”, afirmou.