Cidades
Avanço do mar aumenta na Ilha da Crôa
Moradores temem o pior e pedem construção de novo muro de contenção; Prefeitura diz que não há verba para realizar obra
O mar continua avançando e causando estragos em residências na Ilha da Crôa, no município de Barra de Santo Antônio, Litoral Norte de Alagoas. A reportagem da Tribuna Independente esteve no local no mês de setembro do ano passado. De lá para cá, a situação piorou.
O quintal de José Carlos Sales foi tomado pelo mar e a casa está repleta de rachaduras. “A situação está pior, se agravando cada vez mais. A casa, hoje, está cheia de rachaduras. Quintal já não temos porque o mar tomou conta. Durante a noite, não conseguimos nem dormir tranquilo por conta do barulho das fortes ondas do mar. A situação tá muito séria”, contou.
A casa da família de José Carlos fica situada no fim de um muro de contenção construído há cerca de dez anos justamente para impedir o avanço do mar. Com a “quebra” das ondas, a água é jogada para as residências. Segundo o morador, eles não têm nenhum apoio da prefeitura.
“Todas as vezes que solicitamos a máquina retroescavadeira, a prefeitura inventa uma história. Não temos outro lugar para ir. Meu pai é pescador, teve toda a sua história de vida nesse lugar. E o pior de tudo é que o muro de contenção está quase todo destruído, não há um serviço de reparo. O que nós, moradores, queremos da Prefeitura é que dê continuidade ao muro e também pense na possibilidade de começar o serviço de manutenção”, afirmou.
A dona de casa Vera Lúcia da Silva disse que não consegue mais dormir com medo de acontecer algo pior dentro de casa. “Quando a maré está cheia, a gente sente o chão estremecer. A primeira vez que avançou, o muro estava todo completo, aí derrubou tudo de uma vez e está do jeito que está hoje. Eu só vivo com a pressão alta, preocupada com essa situação que, cada vez mais, está piorando. A casa está toda rachada e ninguém faz nada pela gente”, contou.
Especialista diz que é preciso buscar alternativas para problema que deve agravar
O especialista em gestão costeira e dinâmica de oceanos Ricardo César explicou que o fenômeno de erosão marinha é um sinergismo de fenômenos naturais e a situação deve piorar. “Temos a elevação do nível dos oceanos; um déficit de sedimento, ou seja, não temos areia para formação de praia; e as ocupações urbanas próximas a praia. Então, o sinergismo disso tudo traça um cenário futuro de agravamento dos processos erosivos”, afirmou.
Ricardo César disse ainda que as mudanças climáticas colaboram para o agravamento do processo de erosão e que é necessário buscar alternativas de engenharia para as áreas urbanas já consolidadas, além de um planejamento de ocupação para as áreas ainda não ocupadas.
“Por si só, a elevação do nível dos oceanos já representa essa ameaça. Então, somando-se isso a falta de sedimento, porque quem fornece areia para composição das praias é o continente e nós não temos rios com aporte necessário de suprimento de areia para manutenção das praias, e às mudanças climáticas que têm afetado também a altura das ondas, maiores tempestades, o cenário é de avanço do mar”, contou.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura da Barra de Santo Antônio informou que não tem recursos para obra “grandiosa”, uma vez que pode se estender por toda à ilha. “Só podemos resolver esse problema através de emenda parlamentar ou com recursos oriundos do
Estado de Alagoas. Vamos fazer apenas um paliativo”, diz a prefeita Livia Carla Alves.
Prefeitura afirmou que vem tentando há algum tempo resolver o problema, buscando informações junto ao Governo do Estado.
Ainda de acordo com a Prefeitura, há um processo em andamento e, por isso, o órgão não pode realizar nada, a não ser que haja a destinação de uma verba federal, mas tem buscado viabilizar recursos para conseguir realizar, pelo menos, um paliativo.
Erosão costeira também atinge praias de Maceió
Na capital alagoana, a situação não é muito diferente. Há anos, o avanço do mar na Orla de Maceió vem causando estragos e afetando a passagem de pedestres e ciclistas no calçadão. Em áreas como o Pontal da Barra, a erosão atinge inclusive a Avenida Assis Chateubriand. Na Jatiúca, o mar já atinge de forma severa a ciclovia.
Desde 2017 a Tribuna Independente vem noticiando os problemas e a falta de ações de longo prazo que minimizem os danos da erosão costeira que já afeta onze pontos da orla da capital.
No mês passado, a Prefeitura de Maceió iniciou a intervenção de urgência para frear o processo erosivo na costa da capital em oito pontos da orla marítima, começando pela Jatiúca nas imediações do empresarial JTR.
Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), o processo de implantação dos grandes sacos de areia seguirá diariamente, de acordo com a tábua da maré presente em Maceió e deverá ser finalizado dentro do prazo de 90 dias.
Logo após haverá a aplicação de duas tecnologias definitivas nos 12 pontos de erosão, que vão do Pontal da Barra até a Praia da Sereia, em Riacho Doce.
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