Cidades

Chuvas no Nordeste: tragédias se repetem

Gestores descuidam de políticas públicas e adotam apenas medidas paliativas e passageiras nas enchentes

Por Mário Lima, Gabriely Castelo e Milena Cerqueira de Melo 16/07/2022 01h38 - Atualizado em 16/07/2022 18h36
Chuvas no Nordeste: tragédias se repetem
Cidade alagoana de Branquinha sofreu com enchentes após fortes chuvas - Foto: Edilson Omena

Em quase todos os estados do Nordeste o inverno transforma as chuvas em um inferno molhado. Muitos mortos e milhares de desabrigados perderam tudo que tinham, além da própria vida. Todo ano, na mesma época, a região passa por tragédias já anunciadas, desde os anos 1970, 1990, 2007, 2010 e 2022, elas se repetem. E os problemas continuam os mesmos: políticas públicas negligenciadas, projetos não concluídos e a falta de prioridade política e de verbas. Esses gestores, municipais e estaduais, preferem tomar medidas paliativas (necessárias, porém passageiras) de prevenção, limpeza, retirada de lixo, desobstrução de galerias pluviais, distribuição de auxílio emergencial em dinheiro, contenção de encostas por lonas plásticas.

No Recife, a prefeitura criou, em 2001, o projeto Guarda-Chuva, considerado um grande marco na melhoria de risco dos morros recifenses, com políticas efetivas de controle urbano preventivo nas áreas afetadas; reestruturação na Defesa Civil; políticas públicas de desenvolvimento urbano e habitacional; projetos educativos e sociais para prevenção; além da participação popular.

“O projeto foi abandonado. Aqui em Recife passou um tempo que você tinha políticas para esse tipo de processo de morros. Houve mapeamento e investimento. Em 2000, nós tínhamos 10 mil pontos de risco e passamos a ter 3 mil em quatro anos. E zerou as mortes. Daí o que acontece: assume outro governo. A ausência dos gestores públicos é muito grande. São sempre criadas medidas paliativas”, disse o geólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco Mário Filho.

E a incapacidade dos gestores também se repete, como as chuvas de ontem e de agora. As ocupações de áreas de risco se multiplicam, junto com uma população pobre e faminta; o perigo iminente das cheias nos mananciais da região, principalmente nos rios Mundaú e o Paraíba, cuja bacia começa em Pernambuco e lança sua vazão em Alagoas, que continua a assustar a população ribeirinha.

Em 2022 não foi diferente. As chuvas, que começaram no mês de maio, causaram marcas irreparáveis. Em Pernambuco e Alagoas, fatores meteorológicos e ambientais, como queda de barreiras, transbordamento de rios que cortam os dois estados, rodovias e pontes destruídas pela fúria das águas, provocaram quase 140 vítimas fatais – sendo 128 só em Pernambuco e seis em Alagoas - com mais de 80 mil desabrigados ou desalojados.

Nesses dois estados, outros fatores agravam mais ainda a situação de caos, antes e depois das chuvas e das enchentes, com sua alta densidade habitacional, principalmente nos mocambos e nas grotas das regiões metropolitanas. É o “bate e volta” de todos os anos: durante o período das chuvas, as populações pobres que sobrevivem em áreas de risco perdem suas habitações e sem lugares para morar voltam para o lugar onde sobreviviam.

Olinda: cadê o canal?

As chuvas em Pernambuco tornaram-se a maior tragédia da história do estado, principalmente em Recife e sua região metropolitana. Essas catástrofes na região são causadas principalmente por deslizamento de barreiras nos morros. Ao todo, foram 50 mortes somente na capital pernambucana. Olinda, a Cidade do Frevo e do Carnaval, também é conhecida pelos transtornos causados pelas chuvas anualmente, sofre com inundações que acontecem principalmente no bairro de Jardim Fragoso, próximo do conhecido Canal do Fragoso.

“A cada enchente que enfrentamos, a impressão que tenho é que o volume de água vai aumentando. Dentro de casa a gente sobe os materiais que temos, mas continua batendo água. É assustador”, disse a moradora do bairro há 26 anos Eliane Borges. “Enquanto há vida, há esperança de mudar. Então a gente crê que um dia possa mudar. Vamos continuar a vida. Difícil é para quem perdeu vidas. Infelizmente os governantes não fazem nada, só fazem depois que acontece”, adverte Eliane Borges.

recif
Eliana Borges: “Cheias foram assustadoras e o Canal continua parado e poderia evitar essa situação” - Foto: Edilson Omena

Eliane também reclama da obra que até agora só trouxe dificuldades para a região em tempos chuvosos. “Eu passo por enchentes desde 1996, quando vim morar em Olinda. A primeira enchente foi terrível. Mas as enchentes aumentaram depois das obras do canal”, pontuou.

Com as críticas voltadas à obra, o canal passa por reformas desde 2013, mas ainda não existem melhorias. São nove anos de obras que contam com responsabilidades de órgãos públicos diferentes, prevista para dezembro de 2022, com objetivo de resolver questões de escoamento causado pelas chuvas, principalmente nos bairros de Bultrins, Jardim Fragoso, Bairro Novo e Casa Caiada. Mesmo com objetivo benéfico, a falta de cuidado com o canal, como sujeiras, trazem malefícios ainda mais profundos.

Questionada sobre a falta de políticas públicas efetivas, a Prefeitura de Olinda não respondeu sobre as ações. Em nota, a assessoria de imprensa falou sobre as medidas paliativas feitas durante os desastres. Ainda de acordo com a Prefeitura de Olinda, várias ações vêm sendo feitas nesse período chuvoso. Segundo a Defesa Civil do município, tem trabalhado 24h, de domingo a domingo. As equipes de lonas e outra de corte estarão a postos para atender a população. Diversas famílias foram acolhidas nos abrigos oficiais da gestão por conta das chuvas. Um esquema especial foi montado. Atualmente, está sendo realizado o cadastramento nos bairros para o recebimento do pagamento do Auxílio Municipal e Estadual.

ENCHENTES HISTÓRICAS

A confirmação da 132ª morte por causa das chuvas no Grande Recife levou a tragédia deste ano a superar o número de vítimas da cheia de 1975, quando foram registrados 107 óbitos. Ainda assim, o maior desastre ocorrido em Pernambuco continua sendo a enchente de 30 de maio de 1966, na qual 175 pessoas perderam a vida.

Nas maiores cheias do século passado, tanto a de 1966 quanto a de 1975, o Rio Capibaribe transbordou. Segundo historiadores, a maioria das vítimas morreu, principalmente, por afogamento, por problemas cardíacos e por contaminação de água. Na tragédia deste ano, quase todas as vítimas morreram soterradas por barreiras que deslizaram.

adal
Marinha do Brasil: operação solidariedade em Branquinha em 2010 - Foto: Adailson Calheiros

Em junho de 2010, uma tromba d´água provocada pelas chuvas torrenciais que desabaram sobre os rios vindas de Pernambuco chegaram a Alagoas deixando 15 municípios em estado de calamidade pública, com cheias nos rios Mundaú e Paraíba. Há 12 anos não havia monitoramento e nem medição de vazão, mas quem sofreu com essas enchentes sabe bem o que aconteceu. Em uma dimensão muito maior que as chuvas de 2022, a de 2010 deixou 270 mil pessoas afetadas, das quais 44 mil ficaram desalojadas e mais de 28 mil desabrigadas. O número de mortes chegou a 36 e o de feridos, a 1.131, segundo dados do Governo de Alagoas.

Em junho de 1996, outra tromba d´água deixou a cidade de São José da Laje totalmente destruída. O motivo foi o rompimento de uma barragem da usina Serra Grande. Em pânico, os moradores subiam às cumeeiras das casas na tentativa de proteção. Alguns escaparam, mas a maioria foi arrastada pela violenta correnteza que sucedeu a enchente.

BRANQUINHA: TRAGÉDIA MUDA GEOGRAFIA LOCAL

Em Alagoas, mais de 50 dos 102 foram atingidos, doze anos depois da tromba d´água que deixou um rastro de mortes e destruições, em 2010, em um cenário que parecia mais escombros de uma bomba lançada em meio à população civil. O município de Branquinha, na Zona da Mata alagoana, ficou inteiramente destruído nas enchentes de 2010, e doze anos depois, nessas chuvas de junho e julho, a cidade foi mais uma vez atingida pela força do Rio Mundaú. Em uma volta pela cidade, o que se vê são tratores passando por cima de escombros, um mau cheiro vindo da lama, um campo de futebol gramado que se transformou em um charco lamacento. O menino Cauã, 13 anos, lamentava não poder bater uma bola com os amigos. Ele mostrou as traves e os travessões submersos numa cratera aberta cheia de água. “Aqui eu vi o pessoal do time marcar um monte de gol”, lamenta Cauã.

hfdhdfhd
Após tragédia de 2010, Branquinha ganhou uma cidade alta, no fundo da foto acidade baixa que sofreu a enchente - Foto: Edilson Omena

Branquinha ficou conhecida na cheia de 2010. A então prefeita Renata Freitas, vendo que seria impossível levantar a cidade à beira do rio Mundaú, tomou uma atitude ousada: levantou Branquinha em outro lugar, alterando até mesmo a geografia local. Voluntários nacionais e internacionais atuaram ajudando as vítimas na cidade, incluindo as ações da organização Médicos sem Fronteiras. O país inteiro assistiu pela televisão ao caso das chuvas em Alagoas. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Rio Largo, para se solidarizar com as vítimas e anunciar verbas para a reconstrução.

Naquele dia 18 de junho de 2010, a enchente varreu do mapa a cidade de Branquinha, nenhum prédio público ficou de pé. A grande maioria de seus 13 mil habitantes passou a sobreviver em cenário pós-guerra, em um campo a céu aberto formado por centenas de abrigos e barracas de lona cedidas pelo governo federal, que ainda aguardava uma definição dos órgãos públicos sobre o novo local para reconstrução. O governo de Alagoas anunciou seu Programa da Reconstrução, prometendo 20 mil habitações para os flagelados. Somente três anos depois, a prefeitura e o governo entregaram as 307 casas do Conjunto Raimundo Nonato Lopes, localizado no alto da cidade. Hoje o conjunto tem posto de saúde, escola e quadra de esportes.

O ex-cortador de cana José Vieira Peixoto, 60 anos, vive com duas filhas e um neto, em uma das casas que foram reconstruídas após a cheia de 2010. José Vieira foi um dos que passaram quase três anos vivendo nas lonas junto com sua família. “Senhor, foi um sofrimento, um calor do cão durante o dia, e à noite um frio danado. Foram três anos vivendo nesse acampado, com a família, comendo pouco e mal. Até que ganhei minha casinha aqui”, disse Peixoto.

Mas, infelizmente, José Vieira está triste: sua filha Maria Quitéria tinha acabado de comprar e mobiliar sua casa, quando as chuvas levaram tudo que ela tinha. Trabalhando em São Paulo, ela soube da tragédia pelo pai. Seu José desceu a cidade alta com a reportagem da Tribuna Independente e mostrou como ficou a casa dela. Precavido, seu José leva a chave com ele. A casa está toda de pé, com os muros sujos pela marca, que bateu em 1.8 de altura. Quitéria perdeu tudo: cama, televisão, armários, mas sua geladeira ainda estava lá, mas seu pai falou que ia tentar recuperar, já que a bicicleta estava comida pela lama.

O prefeito de Branquinha, Neno Freitas, estava na sede do CadaÚnico. Ele orientava os servidores a cadastrar os desabrigados. Entre os documentos requeridos está a obtenção de um Boletim de Ocorrência Policial na delegacia. Ele também afirmou que vai tentar junto à Caixa Econômica uma linha crédito para comerciantes que perderam seus estabelecimentos.

gsgsdgsgs
José Vicente, na casa da filha Quitéria: “Ela perdeu tudo, a água chegou a 1,8 metros” - Foto: Gabriely Castelo

Um deles é o comerciante Carlos Antonio Cavalcanti, 67, dono do maior mercadinho do local: Nossa Senhora de Fátima. Seu Carlos perdeu quase tudo, e estava arrumando os pacotes e sacos com os produtos e falou sobre seu prejuízo: “vamos saber quando a gente der uma olhada na besteira que sobrou”.

Seu Carlos é como pode-se dizer: um sobrevivente, aos trancos e barrancos conseguiu escapar de quatro grandes enchentes: 1979, 2000, 2010 e 2022. Carlos sabe tudo sobre as cheias no Mundaú. Ele inclusive faz um relato dramático da ocasião do ápice das chuvas:

“Os bambus fecharam a passagem da água pela ponte, que teve destruídas as cabeceiras. Mas quem provocou tudo isso foi o Rio Canhoto, lá em Pernambuco. O Mundaú aguenta com tudo isso, o Canhotinho é que vem com muita força, derrubando tudo”, define Carlos.

Maria das Neves da Silva, 69 anos, pensionista, que teve a casa destruída, não sabe que cheia foi a maior entre as que sobreviveram, “mas essa veio varrendo tudo”. Ela diz que o mais importante foi não ter vítimas fatais na cidade dessa vez. Dona Maria agradece ao Padrinho Cícero, com sua imagem em uma pequena capela, na pracinha em frente à de Maria. Ela conta o exato momento do pânico que terminou em graça:

“Nessa hora correu todo mundo, só ficou o Padrinho Cícero, ele agora está aqui intacto para todo mundo ver. Em todas as cheias ele nunca saiu aqui da praça, e nunca foi levado pelas águas. Muita gente até fotografa ele”, contou Maria das Neves.

BACIAS HIDROGRÁFICAS: PERIGO CONSTANTE

Que a chuva vai passar não existe dúvida, mas após o rescaldo da lama, das casas destruídas, da população tendo que renascer no meio do quase nada, um perigo vai continuar rondando e ele mora nos mananciais e na bacia hidrográfica, no caso em questão, entre Alagoas e Pernambuco, irmãos federativos unidos por águas umbilicais de seus principais rios. Em cada estado desses, os nomes e a trajetória podem até mudar, mas as águas de lá de cima, em Pernambuco, correm para desembocar em Alagoas, e podem provocar novas tragédias. O coordenador da Sala de Alerta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, Vinícius Pinho, confirma que o grande perigo está relacionado com as chuvas no estado de Pernambuco.

“Nossa grande preocupação é com as chuvas no estado de Pernambuco, que podem impactar os rios em Alagoas. Nos últimos 60 dias tivemos um volume de chuvas de 1.000mm, que corresponde ao esperado para o ano inteiro. Só nesses últimos dias choveu 75% do que estava previsto para todo mês de julho”, explicou Vinícius.

gergewrgerger
Águas vindas de Pernambuco podem ter provocado enchentes na Bacia Hidrográfica no sistema lagunar Mundaú e Manguaba. Na foto, Marechal Deodoro inundada, nas margens da Manguaba - Foto: Edilson Omena

Para Pinho, a previsão é de que haja uma redução significativa do nível de chuvas em Alagoas, mas o nível dos rios e seu impacto sobre as bacias hidrográficas continuam preocupando os meteorologistas.

“As chuvas já estão com intensidade fraca e moderada. Mas as cidades estão muito fragilizadas, e os rios estão com volume elevado. Qualquer chuva que impacte nossas bacias hidrográficas pode impactar novamente esses municípios ribeirinhos. A situação permanece crítica, mas se comparar com os dias anteriores, o volume esperado para os próximos dias é bem inferior. A gente ainda espera um pouco de chuva no estado, principalmente no litoral, na Zona da Mata e no Agreste.

Essa trégua nas chuvas, segundo Vinícius, deve amenizar a situação dos rios, e a Sala de Alerta já vem observando que o volume dos principais rios já está baixando, mas as águas continuam a escorrer em direção às lagoas Mundaú e Manguaba, que vão continuar sofrendo o impacto da descida dessas águas do rios, pelo menos mais alguns dias.

TRIBUNA SE ANTECIPA

O jornal Tribuna Independente na edição de 14 e 15 de maio, com a chuva ainda no começo, antecipou o assunto do perigo das bacias hidrográficas para agravar a enchente. Nessa edição, foi divulgado o resultado do 1º Debate sobre a Região Metropolitana de Maceió, que reuniu especialistas, professores e pesquisadores. Esses especialistas alertaram sobre o problema. Na semana seguinte, o governador Paulo Dantas decreta o Estado de Emergência.

O principal debate se deu sobre o colapso do sistema hídrico e os problemas com a vazão dos rios. Um dos alertas sobre o que aconteceria a seguir foi do engenheiro, professor da Universidade Federal de Alagoas e especialista em remediação de solos e águas subterrâneas, recuperação de bacias Hidrográficas Manoel Maia Nobre, durante sua conferência no 1º Ciclo de Debates. Para ele, é preciso promover ações na bacia hidrográfica da região metropolitana como um todo, incluindo os rios Mundaú e Paraíba.

Manoel Maia Nobre alertou para esse período de chuvas em Maceió e nos municípios que estão sob a influência das lagunas Mundaú/ Manguaba. O desequilíbrio entre a vazão do mar e o sistema hídrico de superfície pode se agravar com o aumento do volume de chuvas:

“Pode chegar um momento de muita chuva, e o Rio Mundaú descarregar com toda força, e provocar uma mudança de circulação hidrodinâmica: o mar vai entrar com mais força e provocar um fenômeno de ruptura, consequência de outros fatores que foram construídos; vai desequilibrar de vez o sistema”, afirmou o professor. Para ele, o ponto mais crítico é o despejo desses rios nas lagoas Mundaú e Manguaba.

“Primeiro ponto é que a Mundaú está sendo assoreada, porque todo rio que sai nela – principalmente o maior, que é o Mundaú –

vem trazendo sedimentos ao longo de 50 anos, com muito mais intensidade. Isso foi provocado por programas como o Proálcool (programa do governo federal de incentivo ao plantio da cana de açúcar nos anos 1950 e 1960), com os tabuleiros todos desmatados para plantar a cana, que antes era cultivada em várzeas. As matas ciliares não seguraram, e a exploração da cana foi feita sem olhar para esses rios, para os drenos deles. Todos eles foram sendo mortos, na medida em que o plantio da cana não observou essa erosão, cada vez maior. E as descargas na lagoa fizeram com que ela ficasse cada vez menos funda. E as águas do mar entram mais, pois o tempo de vazão da lagoa é menor. Esse processo de assoreamento vem diminuindo a qualidade da água”, disse Maia Nobre.

ARTIGO DE ALEX GAMA - CHUVAS EM ALAGOAS: PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

Os principais problemas que influenciam nos eventos de cheias com desastres, nos rios Mundaú e Paraíba, são: os grandes volumes de chuva em um curto intervalo de tempo e a grande velocidade das águas, devido à grande declividade de descida da água. Na enchente de 2010, entre os dias 17 e 18 de junho, choveu cerca de 240 mm, de forma bem distribuída em toda a área das bacias dos rios Paraíba e Mundaú. Apenas no dia 18 deste ano, teve registros de precipitação pluviométrica, superior 180 mm, em Correntes (PE), e 170 mm, em São José da Laje.

Uma avaliação estimativa daquele evento, se obteve um volume de água da cerca de 170 milhões de metros cúbicos de água para o rio Mundaú, numa chuva de 80 mm em 18 horas. Esta mesma chuva, aplicada ao rio Paraíba, estimou-se um volume de cerca de 80 milhões de metros cúbicos; tudo isso em apenas 18 horas. Somado aos volumes expressivos, tem-se as velocidades com que estas águas descem as bacias hidrográficas, desníveis de cerca de 660 metros em 100 km de percursos destes rios.

Desta forma, se faz necessário se trabalhar alguns aspectos importantes, para se resolver a convivência com estes eventos, os quais serão sempre recorrentes, e até mais intensos, cada vez mais, devido ao processo de uso e ocupação do solo, com a diminuição da retenção de água no local. Estas ações podem se resumir em: ações físicas e não físicas.

Soma-se às bacias hidrográficas dos rios Mundaú e Paraíba, a bacia hidrográfica do rio Ipanema, que, apesar de uma menor frequência de eventos de cheias, também tem graves problemas de cheias nos municípios de Alagoas que o margeiam, a exemplo de Santana do Ipanema. O rio Ipanema tem uma bacia hidrográfica duas zes maior que a bacia do rio Mundaú, chegando a aproximadamente a uma área de drenagem de 7.800 km², sendo 6.150 km² em Pernambuco e 1.650 km² em Alagoas.

Em pontos gerais, as ações que defendo para solucionar os problemas de cheias, e ampliar a oferta de água para o desenvolvimento econômico estão: zoneamento das áreas de inundação e de restrição de ocupação; planejamento, estudos e projetos de obras hidráulicas; mapeamento das áreas de inundação em toda a calha dos rios; estudos e projetos de obras hidráulicas para conter as cheias; sistema de monitoramento e alerta para as bacias hidrográficas. E ações estruturais como obras de amortecimento de energia das águas; barragens de Usos Múltiplos com Volumes de Espera de Cheias na bacia hidrográfica do rio Mundaú, nas barragens no rio Paraíba e do rio Ipanema. 

Veja no vídeo relatos de moradores que presenciaram as enchentes em Alagoas e Pernambuco.