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Documentos indicam que a mina 7 já foi 42% preenchida pela Braskem

Relatórios enviados pela mineradora à ANM detalham situação de uma das minas que mais apresentavam riscos à região dos bairros afetados

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 19/03/2022 09h03
Documentos indicam que a mina 7 já foi 42% preenchida pela Braskem
Mesmo com o preenchimento, evolução da cavidade em direção à superfície do solo continua na mina 7 - Foto: Edilson Omena

A cavidade existente no subsolo do bairro do Mutange, em Maceió, conhecida como mina 7, já foi 42% preenchida, conforme apontam relatórios apresentados pela Braskem à Agência Nacional de Mineração (ANM) e obtidos pela Tribuna Independente. Desde 2020 a mineradora iniciou o processo de enchimento dos vazios com areia conforme recomendação para estabilização do processo de afundamento de solo que atinge cinco bairros da capital alagoana.

“De outubro de 2020 (pouco antes do início do preenchimento) até dezembro de 2021 (último sonar disponível) houve uma redução de 143.000 m³ no volume da caverna. Isso significa que a caverna foi 42,8% preenchida durante esse período”, aponta o relatório.

Mesmo com o preenchimento, a evolução da cavidade, isto é, o movimento que ela faz subindo em direção a superfície continua. Conforme aponta o documento a cavidade está 173 metros acima da camada de sal.

“Esta caverna ainda está evoluindo na direção ascendente a uma taxa média de progressão ascendente de 9 m/ano (...) Prevê-se que o preenchimento da caverna nº 7 seja concluído até maio ou junho de 2022, com base em uma taxa média de preenchimento de 30.000 ou 40.000 m³/mês, respectivamente”, diz o documento.

O engenheiro civil Abel Galindo já havia alertado em 2020 sobre a preocupação envolvendo a mina 7, que inclusive se fundiu com outra mina, a 19. Segundo ele, havia uma alta probabilidade de um sinkhole - abertura de cratera de forma abrupta.

A mina 7 foi perfurada em 1979 para a exploração de sal-gema e passou 18 anos em operação, até 1997.

Agora, segundo Abel Galindo, a tendência é que leve dez anos até a estabilização, mesmo após o preenchimento.

PREENCHIMENTO NATURAL

Segundo informações da Braskem, além dos quatro poços que vem sendo preenchidos com areia, outros cinco foram preenchidos “naturalmente”, isto é, o desmoronamento das camadas do subsolo conseguiu completar os vazios antes de chegar à superfície.

“Dos 35 poços, 5 foram preenchidos naturalmente. Esta foi a conclusão das empresas especializadas contratadas, a partir dos estudos realizados. A condição de preenchimento natural também foi aprovada pela Agência Nacional de Mineração. Os outros 30 poços estão em medidas de monitoramento ou em processo de fechamento por meio da técnica mais apropriada para cada um deles. As ações de fechamento convencional (com tamponamento e consequente pressurização) e de preenchimento com material sólido (areia proveniente de jazidas existentes em Alagoas, devidamente licenciadas pelos órgãos ambientais) foram definidas com base em recomendações de instituições independentes e especialistas de renome nacional e internacional, e a execução de suas etapas vem sendo aprovada e acompanhada mensalmente pela ANM. Além disso, todas as cavidades são permanentemente monitoradas com instrumentos de alta tecnologia. Os estudos ajudam a decidir, de forma mais assertiva, as medidas adequadas para acelerar a estabilização do terreno da região”, explica a petroquímica.

A Braskem explicou ainda que desde 2019 encerrou totalmente as atividades de exploração de sal-gema em Maceió.

“Desde 2019, a Braskem paralisou toda a operação de extração de sal em Maceió. Naquele momento, dos 35 poços existentes na região, somente 4 estavam em atividade. Após o encerramento das atividades de extração, foi apresentado o plano de tratativas definitivas para cada poço para a Agência Nacional de Mineração”, disse.

Extração de sal-gema é apontada como causa do afundamento


O processo de afundamento de solo é apontado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como decorrente da extração de sal-gema operada pela Braskem desde a década de 1970. A situação de calamidade pública dos bairros foi decretada no fim de 2018 e vem sendo renovada pela Prefeitura de Maceió diante da evolução do problema.

Segundo os estudos realizados pelo CPRM, 35 minas foram exploradas ao longo de quatro décadas pela Braskem sendo que seis delas se fundiram em cavidades que ultrapassam cem metros de largura. Regiões como o Mutange tiveram afundamentos de mais de 70 cm por ano. Num dos trechos às margens da Lagoa Mundaú o avanço da água chegou a dois metros.

Em outras palavras, a exploração de sal-gema resultou em grandes vazios no subsolo a cerca de 1.000 metros profundidade causando deformação das camadas de solo, movimentação e rachaduras em superfície.

Situação de calamidade pública dos bairros que afundam na capital foi decretada no fim de 2018 (Foto: Edilson Omena)



O engenheiro civil e pesquisador Abel Galindo, que acompanha o caso desde o início, avalia que o processo de movimentação pode durar pelo menos mais uma década até a estabilização.

Como indicação para conter o avanço do afundamento, a petroquímica foi obrigada a realizar o preenchimento de quatro cavidades com alto nível de instabilidade e risco de formação de sinkhole [buraco na superfície]. O processo foi iniciado em 2020 e pode levar até três anos para conclusão.

Em 3 de janeiro de 2020 um acordo judicial firmado entre órgãos de controle e a Braskem estabeleceu a retirada das áreas de maior criticidade dos bairros afetados. Já no início de 2021 todas as áreas tiveram a indicação de realocação e outras como os Flexais em Bebedouro seguem sendo afetadas pela problemática devido ao ilhamento social, sem, contudo, haver definição se a comunidade será retirada do local. As ações, previstas no acordo de indenização das moradias se estendem até o fim de 2022.