Interior

Aumento de vazão muda paisagem do Rio São Francisco

Especialistas não descartam novas ampliações na vazão para liberar volumes que vêm sendo acumulados devido às chuvas

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 22/01/2022 10h53
Aumento de vazão muda paisagem do Rio São Francisco
Reprodução - Foto: Assessoria
O aumento da vazão na região do Baixo São Francisco, em Alagoas, tem mudado a paisagem ribeirinha. O Rio São Francisco encontra-se com 3.500 metros cúbicos por segundo (m³/s) de vazão efetuado neste sábado (22) e, a partir de 24 deste mês, chegará a 4 mil m³/s. Segundo especialistas, é possível que novas ampliações ocorram devido ao alto volume de chuvas na bacia. Todos os municípios alagoanos banhados pelo Rio São Francisco já sentiram os impactos. Nas áreas ribeirinhas o aumento passa dos dois metros. Registros feitos por populares mostram a diferença do início do ano para esta semana. A expectativa é de que áreas como as prainhas em Traipu e Pão de Açúcar, por exemplo, fiquem submersas. Como explica o coordenador da Expedição Científica do Rio São Francisco, Emerson Soares, o monitoramento é constante e o aumento gradual apesar dos transtornos é muito benéfico para a região do Baixo. “Como eu havia dito, quando a gente conhece o que faz, nós conseguimos uma estimativa. Quando chegássemos a 3 mil metros de vazão chegaríamos a um aumento de dois metros. Essas barracas [em Traipu] ficavam à margem e hoje a água está batendo no teto. Basicamente todo o Baixo São Francisco é afetado, porque a região é tomada por água. Onde o rio passava e estava seco agora vai passar novamente. Onde tiver construções, avanços na calha do rio elas vão ser afetadas, a água vai tomar conta”, pontua o pesquisador. Na semana passada, antes do início do aumento da vazão, Soares já havia adiantado os impactos para a região, mas destacou os pontos positivos da chegada de mais água, este é o maior volume em duas décadas. “A última vez que tivemos isso [aumento da vazão] foi no início dos anos 2000. Os impactos positivos são no caso de Alagoas maiores do que os negativos porque vão promover a melhora na qualidade da água, vão aumentar a reprodução e a produção dos peixes devido à cheia, novos organismos sendo disponibilizados para o homem. São fatores muito positivos que vêm sendo trazidos para a população. Apesar do carreamento de sedimentos ele vai ser depositado e essa água nova vai impactar muito, vai ajudar bastante na situação que temos hoje. Até na questão da salinidade vai amenizar. Ali na região da foz, em Piaçabuçu, o aumento da água doce vai afastar um pouco essa salinidade”, detalhou Emerson. Conforme explicou a Chesf, todas as hidrelétricas do São Francisco terão aumento de vazão gradativa. No último dia 14 começou o processo de abertura das comportas. “Depois de 12 anos, as regiões do Submédio e do Baixo São Francisco terão vazões em patamares elevados. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decretou o regime de cheia na Bacia do Rio São Francisco e, dessa forma, temos que atuar com regras específicas, aguardando chegar mais água, pois ainda há grande volume de chuvas acontecendo em Minas Gerais. A previsão é de Sobradinho, nosso maior reservatório, alcançar cerca de 75% de armazenamento no fim de janeiro. Como as chuvas ocorrem até abril, na Bacia do São Francisco, há grandes possibilidades de o Reservatório de Sobradinho voltar a atingir armazenamento próximo a 100%”, informou o diretor de Operação da Chesf, João Henrique Franklin. Continuidade da elevação do Velho Chico não está descartada No próximo dia 25 após a última abertura programada, diversos órgãos responsáveis pela condução da crise irão se reunir para discutir se a vazão deve permanecer elevada. Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), a continuidade não é descartada. “Esse aumento deve se estender inicialmente até o fim do mês. É possível que esse aumento seja dilatado, teremos uma reunião com a ANA, Chef, Comitê, porque como tem havido muita chuva, com cidades baianas e mineiras a quase 10 mil m³/s, pode haver a necessidade de liberar mais água por mais tempo, ou a mesma quantidade ou menor, mas é possível”, diz. O presidente do Comitê, Maciel Oliveira, explica que várias comunidades ribeirinhas foram atingidas, principalmente em locais onde era curso do rio e estavam secas. “Prainhas, como Pão de Açúcar, Penedo e vários outros municípios. Todos foram bem avisados, como foi com bastante antecedência e aumentando aos poucos, deu chance para que prejuízos humanos não ocorram. O rio estava há muitos anos seco e as pessoas não acreditaram no início, mas agora elas começaram a ver que é real, que está aumentando. Para o meio ambiente, para o rio isso vai ser incrível. Esse aumento traz muitos benefícios porque desde 2009 não tínhamos vazão semelhante a essa. Essa água vai chegar em canais, fazer limpeza das algas, ajudar na reprodução, ajudar na navegabilidade. Toda a região vai melhorar significativamente”, esclarece.