Cidades

Acesso à educação e chance de trabalho ainda são desafios para pessoas com deficiência

Cerca de 70% dessas pessoas no Brasil não concluíram o ensino fundamental e apenas 5% possuem formação superior

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 03/12/2021 07h27
Acesso à educação e chance de trabalho ainda são desafios para pessoas com deficiência
Reprodução - Foto: Assessoria
Falta de políticas públicas, investimentos e oportunidades. As dificuldades no acesso à educação para pessoas com deficiência no Brasil se refletem nos números. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 70% das pessoas com deficiência no país não concluíram o ensino fundamental. Os dados reforçam a importância da luta pela inclusão no dia da Pessoa com Deficiência, comemorado nesta sexta-feira (3). “Tomando por base o nível de escolarização, a sondagem identificou que nas pessoas com 18 anos ou mais com deficiência, o índice da população com nível superior completo era de 5%, contra 17% das pessoas sem deficiência. Em relação ao ensino médio completo ou superior incompleto em 2019, isso incluía 16,6% da população com deficiência, contra 37,2% das pessoas sem deficiência. Mais de 67% (67,6%) da população com alguma deficiência não tinham instrução ou tinham o ensino fundamental incompleto, percentual menor (30,9%) para as pessoas sem nenhuma das deficiências investigadas”, informou o IBGE. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) este ano, que revelou ainda que havia no Brasil, naquele ano, 17,3 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade com deficiência em pelo menos uma de suas funções. O número correspondia a 8,4% da população nessa faixa etária. “Do total de pessoas com deficiência, 14,4 milhões residiam em domicílios urbanos e 2,9 milhões na área rural; 10,5 milhões eram mulheres e 6,7 milhões, homens; 7,8 milhões eram pardas (8,5%), 7,1 milhões, brancas (8%), e 2,1 milhões, pretas (9,7%)”, afirma o IBGE. Integrante de uma minoria que consegue acesso à educação superior, a psicóloga Telma Rodrigues aponta a falta de políticas públicas como o principal entrave para a garantia dos direitos. “Mesmo com leis que garantem o acesso das pessoas com deficiência a educação (escolas ou faculdades), como a própria LBI [Lei Brasileira de Inclusão/13.146 de agosto de 2015) no seu artigo 27, ainda estamos longe dessa realidade, por falta de efetividade e garantias de qualidade nos serviços prestados. Claro que existem alguns profissionais capacitados em escolas privadas ou até públicas, porém muitas vezes falta a eles recursos tecnológicos, falo de tecnologia assistiva: produtos, equipamentos, dispositivos, metodologias, estratégias que objetivem a promoção e o desenvolvimento de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua independência, autonomia”, enfatiza. A Lei 13.146 assegura o direito ao trabalho para as pessoas com deficiência, mas se acordo com o IBGE o nível de ocupação das pessoas de 14 anos ou mais com deficiência foi de apenas 25,4%, contra 57% na população em geral, atingindo até 60,4% das pessoas sem deficiência em idade para trabalhar. “O desnível entre os dois grupos populacionais foi marcante em todas as regiões. A proporção de pessoas com deficiência em domicílios com renda per capita (por indivíduo) de meio a um salário-mínimo foi de 10,7%, caindo para 6,3% nos domicílios com rendimento de mais de dois a três salários-mínimos; para 5,8% naqueles com rendimento com mais de três a cinco salários-mínimos; e para 4,6% nos domicílios que superaram cinco salários-mínimos per capita”, expôs o Instituto. “Investimentos são raros, quase não existem”, aponta presidente da Adefal   A presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal) Graça Dias diz que a falta de inclusão e investimentos são preponderantes. A entidade realiza nesta sexta-feira (3) um ato em favor da inclusão e contra o capacitismo. “Ainda existe a falta de inclusão dos deficientes nas escolas, por ainda não haver capacitação dos profissionais. Essas com certeza são teclas que precisamos bater, bater e nunca desistir! Os investimentos são raros! Quase não existem. Teremos uma panfletagem no sinal da antiga casa das carnes, para levar ao conhecimento da solidamente ao NÃO CAPACITISMO”, defende. Telma Rodrigues destaca que a pandemia também causou impacto no cenário. Ela reforça que é preciso avançar. “Lembramos o exemplo dos surdos. Que são poucas instituições de ensino onde todos os profissionais têm conhecimento de libras ou as dificuldades que os cegos ainda enfrentam, pois os materiais didáticos não são em braille. Claro que muitas situações melhoraram, mas ainda precisamos avançar. Agora mesmo na Pandemia se foi difícil para as pessoas sem deficiência, imagina para quem tem. Tivemos esse ano uma fala muito triste do Ministro de Educação dizendo que Crianças com Deficiência atrapalham o aprendizado de outros estudantes. Querendo desestimular a educação inclusiva. Nesses anos com a pandemia houve também uma diminuição de pessoas com deficiência prestando o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, diz Telma. A psicóloga defende ainda a importância do ambiente educacional como ferramenta de inclusão. “Com certeza o ambiente Educacional é transformador de vidas, é um espaço de integração e inclusão social, a partir dele o olhar para a pessoa com deficiência pode ser modificado, é uma grande oportunidade de crescimento para todos que estão dentro desse processo (profissionais, alunos). É através desses conhecimentos, desses aprendizados que a pessoa com deficiência pode trilhar outros caminhos ter uma graduação e conseguir ser capacitado para atingir o sucesso profissional, conseguir um emprego, ser independente e se sentir cidadão”, pontua.