Cidades

Alagoas tem 1.423 pessoas desaparecidas

Dados do Sinalid apontam que mais de 30% dos casos envolvem crianças e adolescentes e 29%, a faixa etária de 36 a 65 anos

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 26/10/2021 08h35
Alagoas tem 1.423 pessoas desaparecidas
Reprodução - Foto: Assessoria
Dados do Sistema Nacional de Identificação e Localização de Pessoas Desaparecidas (Sinalid) apontam que Alagoas tem 1.423 registros de desaparecidos. Mais de 30% destes casos envolvem o sumiço de crianças e adolescentes. Outros 29% correspondem a faixa etária de 36 a 65 anos. De acordo com a promotora responsável pela gestão do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid) em Alagoas, Marluce Falcão de Oliveira, os casos seguem geralmente três tipos de padrão. “Tenho 20 anos de experiência como promotora criminal e o desaparecimento de uma pessoa se dá por três formas: ou voluntariamente porque a pessoa está com algum problema e resolve desaparecer, mas a família tem direito de saber a verdade, e quando localizamos informamos a família e a pessoa decide se vai aparecer ou não. Temos o desaparecimento forçado quando há casos de intervenção policial inadequada ou provocada por criminosos ou crime organizado. E ainda os casos que envolvem violência doméstica ou familiar”, explica. A promotora explica que com a pandemia de Covid-19 houve sobressalto de casos de desparecimento voluntário devido a problemas de saúde mental. “A questão do aumento no número de desaparecidos é um fenômeno que ainda precisa ser estudado. A pandemia trouxe a questão do estresse e de doenças mentais, de pessoas que saem de casa, desaparecem, perdem o contato do convívio familiar. Não podemos jamais fechar os olhos para o sofrimento da família e daqueles que estão em desespero e somem. Tivemos um caso emblemático de uma senhora que realmente surtou e cometeu o suicídio. Na pandemia também tivemos vários casos de idosos que desapareceram e foram encontrados e devolvidos a família. Mas tivemos três casos graves em que os idosos haviam sofrido acidentes que não os mataram, mas os imobilizaram e eles morreram por falta de socorro”, pontua Marluce Falcão. A agilidade nas investigações pode muitas vezes determinar o sucesso nos desfechos dos casos. “Nunca houve um sistema, quando assumimos em 2017 tínhamos mais de 2 mil casos de pessoas que tinham virado estatística e até hoje temos casos desses em aberto. A partir de 2019 mudanças na lei determinam que no desaparecimento de crianças e idosos a busca deve começar de imediato. A autoridade policial não pode dizer para esperar. Quando vamos investigando é que vamos descobrindo se há caso de violência doméstica ou se existe outra motivação. E as providências precisam ser tomadas”, salienta a promotora. “Nós tomamos conhecimento através de um Boletim de Ocorrência que a pessoa desapareceu, então inserimos no Sinalid e acionamos uma rede que criamos em alagoas de órgãos públicos e privados que visa exatamente localizar pessoas desaparecidas. É muito importante que essa busca seja rápida e quando mais imediata for para a manutenção da vida”, diz. Jovem é salva de sequestro após sair do trabalho na capital   Um dos casos mais recentes de atuação do Plid no estado foi de uma jovem sequestrada pelo ex-companheiro na última sexta-feira (22) e mantida em cárcere num motel no bairro do Feitosa. A família relatou o desaparecimento após a moça não retornar do trabalho. A vítima foi sequestrada, dopada e sofreu violência física e sexual. O autor dos crimes foi preso. “Esse caso concluído foi muito grave, tomamos conhecimento do desaparecimento de uma pessoa e, durante as primeiras investigações, tomamos conhecimento que tinha sido sequestrada e conseguimos diligenciar através do Comando da Capital e conseguimos localizar o cativeiro e recuperamos a vítima que estava muito machucada, muito mal e o acusado foi preso. É um dos exemplos da importância de ter essa política bem estruturada no estado porque só assim conseguimos salvar vidas e impedir que crimes graves aconteçam. A pessoa corria risco de vida e pela rapidez a vítima foi salva”, destaca a promotora. Apesar do desfecho positivo deste caso, outros casos emblemáticos seguem sem solução. É o caso do desaparecimento de Alan Teófilo, Jonas Seixas e Davi Silva, os dois últimos vítimas de violência policial. “Muitos desses casos emblemáticos nós iniciamos e por se tratar da existência de crimes passamos para a autoridade policial competente. Os casos que estão em aberto no Plid também estão sob investigação. Esse desaparecido não entra no hall de esquecidos, estamos sempre sendo avisados pelo sistema da necessidade de cobrança de explicações. Periodicamente nós estamos cobrando resultados, revendo esses casos para um dia dar resposta a família. E uma vitória muito importante foi a implantação de um perfil de DNA onde todas as pessoas que passam pelo programa estão tendo o DNA coletado e os familiares e um dia havendo algum achado, pode ser colocado imediatamente e identificado. Isto é um avanço, até pouco tempo não tínhamos essa ferramenta”, enfatiza.