Cidades

Após seis horas de ato, reivindicações de vítimas da Braskem são atendidas

O ato teve como objetivo solicitar uma reunião junto à mineradora com intermediação do MPF; manifestantes conseguiram marcar um encontro com procuradoras e outro com a Braskem

Por Assessoria 17/06/2021 15h51
Após seis horas de ato, reivindicações de vítimas da Braskem são atendidas
Reprodução - Foto: Assessoria

Nesta terça-feira (15), às 9h, cerca de 200 representantes da Associação dos Empreendedores no Pinheiro e Região Afetada e do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem não se intimidaram com a chuva e realizaram uma manifestação em frente ao prédio do Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas. O objetivo era solicitar uma reunião com a Braskem, intermediada por procuradores e defensores, para a revisão do acordo firmado acerca das indenizações devidas pela mineradora por danos morais e patrimoniais, que custam a ser pagas em tempo e valor adequados aos moradores e empresários atingidos pelo crime socioambiental que assola Maceió. Os manifestantes deixaram o local após seis horas em frente ao órgão, quando, finalmente, os membros do MPF agendaram uma reunião com as lideranças e outra entre as vítimas e a Braskem.

Em cima do trio elétrico montado à Av. Juca Sampaio, no bairro de Barro Duro, as lideranças envolvidas com a organização do evento discursaram para os manifestantes presentes. Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores, foi o primeiro membro organizador a fazer um pronunciamento, denunciando a conduta de defensorias e ministérios públicos. “Entre o natal e o ano novo de 2020, as autoridades se reuniram com a Braskem sem comunicar a nenhuma liderança comunitária ou empresarial. Depois, foi feita uma audiência pública para nos informar sobre o acordo firmado, mas, nela, não tivemos sequer a chance de falar, podendo apenas fazer perguntas por escrito”, declarou. Sampaio ainda alertou para a ineficácia do acordo feito, uma vez que só 30% das indenizações foram pagas até o momento. “No ritmo atual, os pagamentos só serão finalizados em 10 anos. Porém, após um ano e meio da assinatura desse acordo, a maioria das empresas não aguentou e faliu, o que acontece porque, às vítimas, não foi permitido participar das negociações.”

Na sequência, Neirevane Nunes, ex-moradora de Bebedouro, pertencente ao Movimento Unificado, tomou a palavra. “Nós estamos aqui para dizer que esse acordo não atende às nossas necessidades e que precisamos de muito mais do que foi feito, pois a maioria das indenizações é proposta com valores totalmente injustos”, alegou. A professora ainda afirmou que a maioria das avaliações de imóveis são feitas “sem critério algum”, usando seu caso como exemplo. “A Braskem quer comprar a casa da minha família por menos da metade do preço que ela realmente vale. Nós estamos sendo desapropriados pela Braskem”. Nunes, que também participou da comissão organizadora do ato, finalizou sua fala com uma indagação às instituições do país. “Como o MPF e os demais poderes podem ser coniventes com isso? Como as mídias nacional e internacional estão caladas diante do maior desastre urbano em curso no mundo?”.

O presidente da Associação dos Empreendedores retomou a fala para tratar sobre os valores indenizatórios injustos propostos pela mineradora, que faz a avaliação dos imóveis baseada no ano de 2017, desconsiderando qualquer atualização monetária. Ele destaca que o êxodo urbano de cerca de 60 mil pessoas na cidade, provocado pelo crime socioambiental, elevou os preços do mercado imobiliário. “Maceió, hoje, é a capital brasileira onde ocorreu a maior valorização imobiliária, com 14% de aumento do preço médio dos imóveis”, informou. Sampaio ainda citou o crescimento “drástico” da inflação e do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), concluindo que “até mesmo as avaliações que determinam o preço exato do imóvel em 2017 não são suficientes, pois o cenário socioeconômico atual reduziria o valor pago em mais de 30%”.

Mailda Farias, associada dos Empreendedores no Pinheiro e uma das organizadoras do evento, que residia e tinha seu negócio na região afetada pelo afundamento do solo, também ressaltou as proporções da tragédia provocada, fazendo um apelo à sociedade civil como um todo. “Eu gostaria de falar às pessoas que estão em seus carros ou nos transportes públicos do outro lado da avenida: juntem-se a nós, pois a sua casa pode ser a próxima a ser atingida!”, conclamou a empresária. Farias referiu-se ao fato de o processo de afundamento do solo permanecer em curso, espalhando-se gradativamente por outras áreas da capital. “A Defesa Civil está muito atrasada na divulgação do quinto mapa de realocação, em que prometeu também considerar as regiões afetadas por isolamento social, onde o esvaziamento dos bairros vizinhos afetou a segurança de moradores e a sobrevivência financeira de empreendedores”, cobrou. A empresária finalizou seu discurso reforçando os valores indenizatórios abaixo do ideal, citando que a proposta recebida por ela “não paga sequer as dívidas trabalhistas geradas em função do desastre”.

Em meio a inúmeras faixas com reivindicações e gritos de palavras de ordem, os manifestantes cumpriram a promessa feita no início do dia de que apenas iriam dispersar o ato e desobstruir a Av. Juca Sampaio quando houvesse resposta do MPF quanto à solicitação de reunião junto à Braskem. Após impressionantes seis horas de resistência e três tentativas de negociação intermediadas pelo Batalhão de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar, as lideranças, que não foram autorizadas a adentrar o prédio da Procuradoria da República, aceitaram a proposta, apesar de não terem sido atendidas totalmente. Ficaram marcadas duas reuniões: uma na sexta-feira (18), às 13h30, com as procuradoras da Força Tarefa do Caso Braskem e outra na segunda-feira (21), às 15h, com a Braskem.