Cidades

Suspensão de festas juninas traz impactos a municípios

Para economista, setores mais afetados são comércio e turismo de cidades com menos de 50 mil habitantes

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 12/06/2021 14h41
Suspensão de festas juninas traz impactos a municípios
Reprodução - Foto: Assessoria
Pelo segundo ano seguido, não serão permitidos os festejos juninos em Alagoas, por causa da Covid-19, independentemente do número de público. A decisão da Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas (Sesau/AL) e do Ministério Público (MP) de suspender as comemorações em junho, junto com as prefeituras, causa um evidente impacto negativo na maioria das localidades alagoanas. Com a proibição, os setores mais afetados são o comércio e o turismo de quase todos os municípios do estado. No Nordeste, dos 1.800 municípios, 1.600 têm menos de 50 mil habitantes. Em Alagoas, 92 cidades das 102 têm menos de 50 mil moradores, desta forma, a força das festas juninas está concentrada nestes municípios. De acordo com o economista Cícero Péricles, em cidades de porte médio, a exemplo de Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema, Delmiro Gouveia, Penedo, São Miguel, Olho D´Água, União dos Palmares e Coruripe, algumas de suas prefeituras patrocinam, na semana junina, festas expressivas, com a presença de artistas reconhecidos em determinados lugares da cidade, onde ocorre a aglomeração. “Essas festas atraem visitantes, familiares e emigrados daquela localidade e turistas. Por essa força social, os festejos juninos se transformaram em manifestação cultural massiva capaz de ser aproveitada pelo comércio e turismo”, observa. Este ano, assim como no ano passado, as festas públicas que causam aglomerações estão suspensas. Por isso, de acordo com o economista, o prejuízo causado pelas determinações de isolamento social será sentido em quase todos os municípios. “As prefeituras, responsáveis por grande parte do patrocínio, saem de cena, perdendo todos os envolvidos com a manifestação da economia criativa. O setor de serviços, como transporte e hotelaria, que aproveita bem os momentos de festas é o mais prejudicado, juntamente com o setor de comércio, com suas vendas de comidas e bebidas”, ressalta. Cícero Péricles explica que os festejos dos santos populares – São Pedro, Santo Antônio e São João – fazem parte da vida social e cultural da maioria dos municípios nordestinos e, claro, dos alagoanos. “Diferentemente do Carnaval, comemorado em cidades maiores, as festas juninas estão presentes em todas as localidades, desde os bairros das grandes cidades, como Maceió e Arapiraca, até mesmo nos povoados menores e mais distantes, passando pelas pequenas e médias cidades”, lembra. “Nestes espaços, tradicionalmente, estão presentes a fogueira, as comidas típicas deste período e as manifestações culturais, como a queima de fogos, os arraiais comunitários, a dança do forró e os festivais de quadrilha”, emenda o especialista. “Como os pequenos municípios têm forte base agrícola, o mês de junho coincide com a época da colheita das suas safras, principalmente do milho, plantado em março, quando caem as primeiras grandes chuvas, principalmente a partir de 19 de março, dia de outro santo popular, São José. Por essa capilaridade, o São João mobiliza parte considerável de sua população e, naquela semana, parte de sua economia”, finaliza. Abrasel diz que faturamento não muda com cancelamento do São João Devido às restrições de isolamento social com a crise sanitária do coronavírus, que fez Alagoas voltar à fase vermelha do decreto estadual, bares e restaurantes permanecem fechados nos finais de semana, o que é muito ruim para o segmento independente do São João. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/AL), Brandão Júnior, a queda no faturamento com os estabelecimentos de portas baixas e a ausência de turistas trazem impactos muito maiores do que as datas das festas juninas em si. “Na verdade não temos um impacto quando se trata de festejos juninos. Nosso problema é a pandemia, que de forma geral cumpre o decreto. Há empresas de eventos, como, por exemplo, uma casa noturna que dispõe de um São João forte, aí sim perde, porque não vai poder fazer a programação”, diz o representante da Abrasel em Alagoas. “A perda é grande com bares e restaurantes fechados nos finais de semana e somente em delivery quem consegue colocar. O prejuízo é ainda maior em bares que não funcionam com entrega de bebidas. Neste estabelecimento a presença física é mais importante. No restaurante também se perde muito porque o cliente tem a experiência de pedir uma entrada, tomar um vinho, uma cerveja, e aí, como estão fechados perdem o faturamento todo, do cafezinho no final, da sobremesa a mais, já que o cliente fica mais à vontade presencial”, detalha. Para a Abrasel Alagoas, a estimativa de perda de faturamento para bares é de 100% e para restaurantes de 50% a 80%. A Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur/AL) disse por meio de nota que Alagoas não recebe turistas nessa época com esse foco, porque é mais um evento local, do que Caruaru, Campina Grande. O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, disse em entrevista a um site da Bahia, que muitas pessoas vivem do São João para sobreviver o resto do ano, e não ter festejos juninos gerará um prejuízo para o Nordeste em torno de R$ 1,2 bilhão. “Hotelaria não depende dos festejos da época” André Santos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Alagoas (ABIH/AL), afirma que a hotelaria de Alagoas não depende dos festejos juninos para atrair um fluxo turístico significativo e, por isso, a suspensão do São João em Maceió não terá grande impacto no setor. “Normalmente, o mês de junho é quando os hotéis registram uma das taxas de ocupação mais baixas do ano”, destaca André Santos. Para o presidente da ABIH-AL, o que preocupa a hotelaria neste momento e que, com certeza, trará prejuízos ainda maiores para as empresas e os trabalhadores do setor são as medidas restritivas prorrogadas pelo governo estadual. “O decreto que limita o horário de funcionamento dos bares e restaurantes e proíbe o acesso às praias nos fins de semana, quando a maioria das pessoas pode viajar, têm impacto direto no setor hoteleiro e no turismo como um todo”, argumenta.