Cidades

Defesa Civil afirma que o afundamento de solo segue se espalhando por Maceió

Em reunião com as vítimas do crime ambiental da Braskem, o coordenador geral da instituição declarou que, futuramente, novas áreas devem ser incluídas no mapa de realocação

Por Assessoria 29/05/2021 12h07
Defesa Civil afirma que o afundamento de solo segue se espalhando por Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria

Nesta quarta-feira (26), a Associação dos Empreendedores no Pinheiro e Região Afetada, junto às demais lideranças das organizações de vítimas da Braskem, participou de uma reunião convocada pela Defesa Civil de Maceió, no Centro de Acolhimento e Triagem (CAT), localizado no bairro do Farol, onde, pela primeira vez, foram expostos à sociedade os métodos de elaboração do mapa de realocação populacional.

No encontro, o coordenador geral da instituição, Abelardo Nobre, explicou que o afundamento dos bairros Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Farol — tragédia provocada pela extração criminosa de sal-gema — segue em curso e, ao longo do tempo, tende a afetar outras regiões, espalhando-se cada vez mais rapidamente.

Ilustração do processo de afundamento de solo / FOTO: Serviço Geológico do Brasil (CPRM)

“Enquanto durar o processo de subsidência [conhecido popularmente como afundamento], as zonas de estabilidade serão temporárias. À medida que o tempo passa, essa evolução é acelerada”, afirmou o coordenador geral da Defesa Civil. Ou seja, se o afundamento não for interrompido, as áreas circunvizinhas que não apresentaram risco geológico até o momento ainda deverão ser incluídas no mapa de realocação, que já se apresenta em sua quarta versão. O profissional, no entanto, reconhece as problemáticas do método escolhido. “Isso foi definido na gestão anterior, mas o ideal é que fosse elaborado um mapa mais amplo e definitivo, em que estivessem previstas todas as áreas a serem atingidas com o passar do tempo”.

Evolução do afundamento em um ano e meio (2019 a 2020) / FOTO: Defesa Civil de Maceió

Segundo Abelardo Nobre, o afundamento já fez com que a lagoa Mundaú avançasse mais de 30 metros em área urbana, inundando imóveis em Bebedouro e Mutange, além de abrir inúmeras fissuras no solo. Ao todo, a Braskem perfurou 35 minas na capital, algumas com até 120 metros de diâmetro, isto é, mais do que o dobro do admissível. Em sua maioria, as minas foram escavadas tão perto umas das outras — arbitrariamente, é claro — que quatro delas chegaram a se fundir, formando crateras subterrâneas gigantescas.

Avanço da lagoa Mundaú em algumas residências / FOTO: Defesa Civil de Maceió

Algumas das crateras e rachaduras surgidas nos bairros afetados / FOTO: Defesa Civil de Maceió

O funcionário da Defesa Civil afirmou que, atualmente, a mineradora trabalha para interromper o processo de subsidência, mas não há comprovação sobre a efetividade das ações empreendidas. “A Braskem vem preenchendo algumas das cavidades com areia ou por meio de pressurização, mas isso ainda não passa de um teste”, declarou. Abelardo Nobre também mencionou a existência de tecnologias preventivas para esse tipo de mineração, que evitam tragédias como a que assola cerca de 67 mil maceioenses. “Eu cheguei a perguntar a alguns representantes da Braskem por que as medidas de prevenção não foram adotadas, mas não obtive resposta”.

Dentre os presentes na reunião, Mailda Farias, associada dos Empreendedores no Pinheiro, solicitou à Defesa Civil a disponibilização de informações ainda mais detalhadas para a população, como, por exemplo, a localização das minas escavadas pela Braskem. “Ao longo desses três anos, os dados sobre o caso foram ocultados das pessoas. Nós, que perdemos tudo o que era nosso, queremos e merecemos saber de todos os detalhes”, defendeu a empreendedora.

Para Mailda, a escassez de informações gera inúmeras confusões acerca da tragédia, especialmente para os moradores que permanecem nos bairros afetados. “Como as vítimas não sabem exatamente o que acontece, é comum vermos surgir uma rixa entre pessoas que desejam permanecer em suas casas e aquelas que querem sair porque se sentem ameaçadas”, afirmou. “Pessoal, precisamos nos unir ainda mais, pois as vítimas estão sendo jogadas umas contra as outras sem que a gente perceba.”