Cidades

Luta da mulher é contra 'governos da morte'

Neste 8 de março, mulheres alagoanas levantam a bandeira da vida contra a política de Bolsonaro, a fome e a violência

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente 06/03/2021 12h44
Luta da mulher é contra 'governos da morte'
Reprodução - Foto: Assessoria
O dia internacional da mulher tem sido marcado pela pauta do combate à violência contra a mulher e às desigualdades entre os gêneros. Em 2021, o cenário trouxe elementos diferentes e ampliou o discurso das feministas. “Estamos vivendo o que parece ser um dos piores momento da nossa história. As mulheres estão sentindo suas vidas ameaçadas por um projeto de morte comandado pelo governo Bolsonaro!”, justificou Elida Miranda, da Marcha Mundial das Mulheres. Ela faz parte da Frente Feminista que está reunindo dezenas de entidades da sociedade civil para construir a programação do 8 de março em Alagoas. O tema deste ano é “Mulheres alagoanas em defesa da vida e contra os governos da morte”. No combate à miséria e a violência, que vão além da realidade doméstica, agora elas enfrentam também gestores. A defesa do auxílio emergencial, por exemplo, é pauta. “Em um país de 14 milhões de desempregados, 65% são mulheres. São elas a maioria das chefes de família que precisam lidar com a inflação dos alimentos e a volta do Brasil para o mapa da fome. Não tem como não colocar isso no centro da nossa luta”, reforça Elida. Elas exigem vacinação imediata para toda a população, a volta do auxílio emergencial sem prejudicar direitos básicos, como saúde e educação, e o fim da concentração da riqueza e das privatizações. “Essa política de Paulo Guedes quer tirar dinheiro da saúde e educação e a gente entende que para salvar as vidas tem que distribuir a renda. O dinheiro tá controlado na mão de 1%. Nestas pautas de ataque ao povo trabalhador, as mulheres estão na linha de frente”, reforça Eliane Silva, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Alagoas (MTST). A pauta também cobra respostas dos gestores locais. “Exigimos a utilização dos recursos do Fecoep [Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza] no enfrentamento à fome e à miséria. Já existe um plano emergencial apresentado pelos movimentos de luta pela terra que o Governo do Estado subsidie a produção de alimentos para reverter para famílias que precisam”. As vítimas da tragédia do solo em Maceió também são lembradas. “Estamos cobrando a responsabilização da Braskem e a completa assistência às famílias afetadas em todos os bairros”. A programação não vai ter o tradicional ato público de rua, por conta das medidas de segurança contra a Covid-19. Mas vai acontecer em vários pontos da capital junto com uma programação virtual.  “Logo no início da manhã, espalharemos faixas pela cidade. Depois faremos jogral online e intervenções surpresa em pontos estratégicos da cidade, e finalizamos com o festival cultural Alagadiças através do Youtube”. MUDANÇA Com o avanço da pandemia e a crescente alta de casos e mortes, o Governo do Estado anunciou na última quinta-feira (4) um decreto definindo o recuro para a faixa amarela de distanciamento social. A iniciativa interferiu diretamente na programação do dia da mulher. Além da programação de luta organizada pelos movimentos feministas, também foi cancelado o evento programado pela Prefeitura de Maceió em parceria com o Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL), no final de semana. “Bolsonaro é um risco à vida das mulheres brasileiras” As mulheres são as grandes vítimas desta pandemia, acumulando ainda mais horas de trabalho doméstico, sofrendo com o aumento da violência dentro dos lares. Eliane Silva, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), explica a importância da data. “A gente sempre lutou pelos direitos. O movimento surge para que esse dia seja não como um dia de aniversário, mas de luta”. Ela relata as razões para o presidente da República estar no centro da pauta. “Ataque mais forte do governo Bolsonaro na vida das mulheres é a questão da fome”. Sofrendo com o desemprego, responsáveis pelo sustento dos filhos, ela fala que falta o básico. “Muitas vezes falta absorvente, sabonete, pasta de dente. Nós mulheres nos sentimos angustiadas, incapazes com isso. Não tem como cuidar do corpo, dar condições para os filhos. Isso não é bom para a autoestima”. No movimento organizado da luta por moradia, a predominância é feminina. “90% dos acampamentos é tocado por mulheres, porque são mulheres que saíram de relacionamentos abusivos, sonham com moradia e dignidade. A linha de frente aqui são as mulheres”, relata Eliane. Segundo ela, em muitos casos as mulheres chegam na luta porque precisaram fugir de relacionamentos abusivos, e por isso está sozinha para cuidar dos filhos e de si mesma. Ela volta a responsabilizar Bolsonaro. “Deixou as mulheres muito vulneráveis. Já sofriam muito com a violência, mas o machismo sai do armário cada dia mais. O feminicídio aumentou muito. Com esse discurso de ódio que ele reproduz, botando a culpa na mulher, aumentou também a cultura do estupro. Além de armar a população, o que deixou o machismo mais forte”. Na visão de Eliane, o presidente trata as mulheres como se não fossem seres humanos, que não tem direito nenhum. “Ele é um risco para a vida das mulheres. Elas que têm mais preocupação com a alimentação, que fazem o tostão render dentro de casa”. A indignação com o presidente é um sentimento muito conhecido por Larissa Camila. Aos 24 anos, mãe solteira, ela vive com os 4 filhos no acampamento Tereza de Benguela do MTST e sofre com a falta de condições mínimas que se agravou com a pandemia. O primeiro problema foi a falta da escola. “Tinha pelo menos o desjejum, o lanche na escola”, relembra. A escola também possibilitava a ela sair pra buscar trabalho. “Se for para a reciclagem eu vou expor meus filhos. Aí o conselho tutelar vai vir, vai me prender e levar os meninos e eu fico na situação precária”. Como a maioria das mães solteiras, Larissa não conta com a participação do genitor. “Ele diz que está passando fome, não dá nada. Nem vê, nem olha os filhos para que eu possa trabalhar. Essa é a realidade, quando a mãe pare ela fica com o filho nas costas”. Durante um curto período, o que salvou foi o auxílio emergencial, mas acabou. “Bolsonaro fez o favor de cortar o auxílio, a única coisa que tava ajudando a gente. Não tem dinheiro nem pra se prevenir com água sanitária, sabão, máscara, produtos de higiene, não tem condições. Porque ou come ou se limpa, ou come ou se trata. Não tem condições nenhuma. A vida está terrível!”.