Cidades

Pandemia dificulta diagnóstico de câncer de pele

Em Alagoas, queda nas biópsias para detecção da doença foi de 58% e está relacionada a restrições para evitar contágio de Covid-19

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 30/12/2020 08h26
Pandemia dificulta diagnóstico de câncer de pele
Reprodução - Foto: Assessoria
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), pacientes com câncer de pele se afastaram dos hospitais por conta da pandemia, comprometendo, assim, o diagnóstico e o tratamento precoce da doença. Em Alagoas, queda nos pedidos de biópsias para detecção do câncer de pele foi de 58%. Todos os estados brasileiros – menos Sergipe – registraram queda nas biópsias de câncer de pele. Os dados foram apurados pela SBD utilizando informações disponíveis do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a estimativa de novos casos de câncer de pele em Alagoas é de 1.600, sendo 840 em homens e 760 em mulheres; já na capital alagoana (Maceió) é de 360, sendo 250 em homens e 110 em mulheres (para cada ano do triênio 2020/2022 - Inca). 320 pessoas morreram em Alagoas vítimas de câncer de pele, sendo 19 homens e 13 mulheres. Em Maceió foram sete mortes, sendo seis homens e uma mulher (2018 - Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM). “A pandemia vai deixar um triste legado. Por conta da gravidade da Covid-19, que já matou 176.941 mil pessoas no país, os próprios hospitais desestimularam que pacientes sem gravidade ficassem expostos ao vírus”, destacou Sérgio Palma, presidente da SBD. “Depois, a população, por medo de contaminação pelo vírus, passou a evitar as consultas, mesmo com a retomada dos atendimentos. Os gestores não têm responsabilidade por esse cenário, mas recai sobre eles o desenvolvimento de estratégias para resolver o problema”, disse Palma. Para a membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora do curso de Medicina do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL), Maria Lamenha, essa situação é muito preocupante tendo em vista que, muitos pacientes ficaram sem diagnóstico nesse período. “Em se tratando de melanoma, é o câncer de pele mais perigoso, com risco de metástase e óbito, se não diagnosticado precocemente. Quando falamos dos carcinomas (basocelular e espinocelular), o atraso no diagnóstico torna a cirurgia mais complexa”, frisou a dermatologista. Ela alerta que é preciso identificar o câncer de pele, caso haja feridas que não cicatrizam, principalmente em áreas de exposição crônica ao sol, lesão novas pigmentadas (escurecidas) com crescimento e bordas irregulares, mudança das características de lesões antigas (coloração, tamanho, sangramento...). No ano passado, 210.032 pedidos de biópsias para detecção do câncer de pele foram solicitados no país, entre os meses de janeiro e setembro. Em 2020, no mesmo período, foram 109.525, 48% a menos. Melanoma também pode surgir de sinais antigos   A dermatologista Maria Lamenh, ressalta também que um melanoma pode surgir de uma lesão pré-existente, ou seja, daquele sinalzinho antigo que pode sofrer uma transformação maligna. “Então, devemos ficar atentos às mudanças desses sinais: crescimento, mudança de cor, prurido (coceira), sangramento”, observou. De acordo com a médica, o melanoma sempre é maligno. “Suspeita-se clinicamente pelas características citadas, mas a confirmação é através do estudo histopatológico (biópsia). O tratamento de primeira escolha é a cirurgia; por isso é fundamental evitar exposição prolongada e desprotegida às radiações solares”. Outra alerta da dermatologista diz respeito ao sol cumulativo na pele. Ela lembra que as radiações acumuladas na pele ao longo da vida predispõem a mutações e as neoplasias surgem no futuro. “Os cuidados devem começar logo cedo, já temos protetores solares liberados para uso a partir de 6 meses de vida”. Segundo a membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o fator solar mais indicado é o acima de FPS 30, com PPD de pelo menos 1/3 desse valor. “Mesmo em casa é preciso usar protetor solar, porque algumas radiações nocivas à pele, são capazes de atravessar os vidros das janelas”, completou. Recreadora dobra cuidados em atividades ao ar livre   A recreadora Maristela Borges, que trabalha num empreendimento hoteleiro localizado no litoral Norte de Alagoas, comenta que sempre tem muito cuidado com a pele, principalmente quando vai desempenhar atividades ao ar livre. Considerando que na época da alta temporada, quando o trabalho fica mais intenso, é também quando aqui no Nordeste o sol está mais forte, todo cuidado deve ser tomado, afirmou. “Além de protetor solar, uso chapéu, boné, ou outro tipo de proteção para a cabeça e roupas UV”, destacou Maristela. “Atuo na área há mais de cinco anos e faço visitas ao meu dermatologista”, explicou a recreadora, afirmando que, com os cuidados certos e seguindo as recomendações dos especialistas, é possível ter uma vida saudável ao ar livre sem nenhum risco para nossa saúde. DEZEMBRO LARANJA Com o slogan ‘Se exponha, mas não se queime’, a campanha nacional de prevenção à doença, conhecida como o Dezembro Laranja, promove desde o início do mês mutirões de atendimentos gratuitos. Os médicos avaliam os pacientes e reforçam a importância da fotoproteção diária em postos de consultas em todo o Brasil. A iniciativa é da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).