Cidades

Bairros desocupados: ONG estima 5 mil animais abandonados

Pesquisador defende necessidade de conscientização sobre posse responsável

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 29/12/2020 07h59
Bairros desocupados: ONG estima 5 mil animais abandonados
Reprodução - Foto: Assessoria
Cerca de cinco mil animais abandonados circulam pelas ruas dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, segundo estimativa do grupo SOS Pet Pinheiro. De acordo com os voluntários do grupo, os animais, na maioria gatos, acabam sendo deixados pelos moradores que saíram dos bairros, ou ainda foram abandonados por moradores de outros pontos da cidade. A advogada e criadora do grupo SOS Pet Pinheiro, Elisa de Moraes afirma que a situação tem se agravado porque os animais têm se reproduzido aumentando ainda mais a população. “A situação está cada dia mais crítica. O SOS Pet Pinheiro fez um estudo que foi entregue ao Ministério Público Estadual em julho, onde verificou-se que só no Pinheiro podem ter 1.000 animais entre cães e gatos nas ruas. E ao todo nos 4 bairros esse número pode chegar a 5.000 animais. Em sua maioria esses animais são gatos, que de forma desenfreada vêm se reproduzindo nas ruas dos bairros atingidos pela mineração da Braskem. Esses gatos são frutos do abandono. Ao longo dos dois últimos anos, milhares de pessoas deixaram os bairros. Hoje, por estarem nas ruas e vivendo livremente, estão se reproduzindo. A maioria dos gatos que temos hoje nas ruas do Pinheiro tem menos de 1 ano de idade. São gerações vítimas do abandono que se iniciou com o êxodo de moradores que deixaram os bairros”, pontua a voluntária. Na avaliação de Elisa, os bairros não são seguros também para os animais. Ela defende que ações enérgicas sejam tomadas para conter o avanço dessa problemática. “Órgãos públicos até o momento não fizeram nada. A Braskem firmou uma parceria com a Ufal por meio do Fundepes, onde visa castrar esses gatos que estão nas ruas. Porém, muito pouco efeito prático teve. Pois, para que houvesse uma redução significativa de animais nas ruas desses bairros, seria necessária uma castração em massa, porque são milhares de animais. Além da castração ser importante, vacinar esses gatos contra a raiva é fundamental”, esclarece. A protetora de animais defende uma outra estratégia: a criação de um abrigo para cuidados intensivos com estes animais. “Principalmente a criação de um abrigo. Esse abrigo tem que existir para prestar assistência aos animais desses bairros, deve ser custeado pela Braskem. Afinal, não adianta castrar e devolver os animais para um lugar onde há risco iminente de desabamento. Os bairros não são seguros para pessoas e nem para os animais”, afirma. Em nota a Braskem informou que tem realizado ações na região voltadas aos animais em situação de abandono e desde julho já atendeu mais de 2 mil animais. Além disso, a empresa afirma que tem trabalhado para conscientizar os moradores sobre a importância de mudar de bairro e levar o seu animal. “Mais de 2.200 animais já passaram pelo Programa de Apoio aos Animais desde julho, quando foi criado. A iniciativa tem o apoio da Universidade Federal de Alagoas e da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa, a Fundepes, e apoia os moradores dos quatro bairros transportando os animais durante a mudança para a nova casa.  E quando o morador não pode levar os animais, eles são abrigados temporariamente em um espaço apropriado e seguro pelo tempo que o dono precisar. Nesse período, recebem todos os cuidados de maneira gratuita, como vacinas e consultas com veterinários. O Programa também cuida dos animais dos moradores que continuam morando nos bairros, e vai estar no Bom Parto em janeiro, vacinando equinos no dia 7, e cachorros no dia 13. O morador não precisa levar comprovante de residência”, informou. “Há uma total desinformação sobre a posse responsável”, pontua professor   O professor do curso de Medicina Veterinária e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Pierre Escodro detalha que a parceria que a universidade firmou com a Braskem já realizou 10 campanhas de vacinação, mais de mil consultas aos animais e 226 castrações. Pierre chama a atenção para a necessidade de conscientização da população sobre o abandono de animais. “Há uma total desinformação sobre a posse responsável, sobre a responsabilidade criminal do abandono e maus tratos dos animais. Fazemos um acompanhamento diário de todas as mudanças através do controle da Braskem e tanta diminuir isso drasticamente. Além do problema das pessoas que estão se mudando, temos outras pessoas de outros bairros também abandonando lá na região. Inclusive identificar as pessoas que estão abandonado e as pessoas que estão saindo e deixando seus animais, é uma situação difícil, dinâmica e mutável”, avalia. Pierre Escodro afirma que o problema é delicado e envolve uma série de ações que precisam ser realizadas em etapas, considerando a necessidade de um melhor monitoramento. “Dentro desse trabalho as medidas vão sendo realizadas à medida que vamos sentindo as necessidades, como a vacinação de raiva porque a UVZ não estava conseguindo fazer pela situação e instabilidade no bairro. Mas o trabalho é difícil, porque são fases, estamos ainda na primeira para a segunda fase, e obviamente tem que trabalhar muita coisa de planejamento de animais errantes, melhor monitoramento. São pautas e resoluções que vêm acontecendo para que as coisas aconteçam da melhor forma possível, lembrando que a melhor forma não é um paraíso, isso não acontece em lugar nenhum. Um gato errante não sobrevive num abrigo. Estamos atuando de forma ética e responsável. O abandono dos animais é gritante, é uma luta, não é fácil.”