Cidades

Número de mortes de ciclistas cresce 30% em Alagoas

Foram 20 óbitos de pessoas a bordo de bicicleta em 2017 contra 26 em 2018, segundo último levantamento realizado

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 26/11/2020 08h46
Número de mortes de ciclistas cresce 30% em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
A bicicleta é um meio de transporte alternativo, escolhido por muitas pessoas por ser sustentável, saudável e econômico. Por outro lado, necessita de cuidados redobrados para que os perigos sejam evitados ao longo do caminho. De acordo com o último levantamento feito pelo Ministério da Saúde, cresceu o número de mortes envolvendo ciclistas em Alagoas no ano de 2018, e esse crescimento ficou na casa dos 30% se comparado ao mesmo período de 2017. Foram 20 mortes com vítimas que estavam a bordo de bicicleta em 2017 contra 26 em 2018. Em 2017 foram registradas 1.306 mortes relacionados a acidentes com ciclistas em todo o Brasil. No ano seguinte foram 1.363 mortes. “Cabe ressaltar que a pasta possui dados referentes aos óbitos por acidente de transporte terrestre envolvendo ciclistas de dois anos antes do ano corrente”, frisou a nota emitida pelo órgão à Tribuna Independente. O Ministério da Saúde informou ainda que entre janeiro e agosto de 2019 foram registrados 8.697 atendimentos hospitalares, ou seja, que necessitam de internação, relacionados a acidentes com ciclistas em todo o Brasil. Este ano, no mesmo período, foram 8.815. Em Alagoas, foram realizados 26 atendimentos hospitalares, em 2019, e 38, em 2020 - também entre janeiro e agosto. FIM DE SEMANA Dados do Hospital Geral do Estado (HGE) apontam que sextas-feiras e domingos são os dias da semana com maior incidência de acidentes com ciclistas, na maioria dos casos nos horários entre 12h às 18h. A estatística mostra que 23,26% dos ciclistas acidentados que dão entrada no HGE tem faixa etária entre 35 a 59 anos, seguida das idades entre 5 a 14 anos, por situações diversas. Em 2019, o HGE realizou 491 atendimentos a vítimas ciclistas na capital e 181 oriundas do interior do Estado com uma média de 56 registros ao mês. Este ano, de janeiro a junho, de acordo com a última atualização, já se somam 301 atendimentos. As quedas são os tipos de acidentes mais comuns. Somente em 2015, o hospital atendeu 853 pacientes por este motivo. Em segundo lugar vieram às colisões entre bicicletas e motocicletas (190 ocorrências) e as colisões entre bicicletas e carros, com 68 ocorrências. Os traumas mais comuns nestes tipos de acidentes geralmente acometem os membros superiores e inferiores, a exemplo de fraturas nos braços, pernas e úmero. Nos casos mais graves, as vítimas sofrem traumatismo craniano encefálico, o chamado TCE, que pode deixar sequelas para o resto de suas vidas. Existe menosprezo com quem anda de bicicleta, afirma Associação   O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu artigo 29, parágrafo 2º, que trata do princípio da proteção do maior veículo ao menor, diz que “os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados, e juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Assim lembrou o presidente da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC), Antônio Facchinetti. “O que observamos é que os motoristas não dão o menor valor a quem anda de bicicleta, nem aqui e nem no Brasil, ao contrário dos outros países. Alegam que os ciclistas atrapalham o trânsito, existe a pouca educação e a cultura do respeito a quem precisa ou anda de bicicleta”, frisou. Usada em muitos países como meio de transporte alternativo, reduzindo a poluição e garantindo mais saúde da população, a sociedade, segundo Antônio Facchinetti, não entende a série de vantagens que a bike proporciona. Ele lembra com tristeza das mortes de ciclistas somente este ano em Maceió. “Foram cinco óbitos, até o que nós sabemos fora aquelas que não tomamos conhecimento, e temos certeza de que existem”, ressaltou. Marcos Ferreira, que utiliza sua bicicleta para trabalhar, revelou que já se acidentou várias vezes, e presenciou também. “Já cai e me machuquei bastante, mas graças a Deus nunca ao ponto de quebrar algum osso ou ter uma lesão mais grave, só ferimentos leves. A maioria dos infratores é motorista de ônibus, não respeitam o menor”, comentou. Everaldo Silva nunca se acidentou e diz que isso se deve ao cuidado e cautela no trânsito. “A gente costuma culpar somente os motoristas, mas tem muitos ciclistas que fazem barbeiragem”, opinou. O representante dos ciclistas, Antônio Facchinetti disse ainda que a maioria dos casos envolvendo acidentes e mortes de ciclistas têm como alvo os motoristas de ônibus. “Se acham grandes e muitas vezes não têm culpa também, são vitimas das empresas que, cobram horários, agilidade, e na pressa sobra para os menores, os ciclistas”, ponderou. PROTESTO Na última terça-feira, a AAC e membros de grupos de ciclistas realizaram um protesto para chamar a atenção para mais uma morte de ciclista em Maceió. No ato foi afixada uma ‘bicicleta fantasma’ pintada de branco para simbolizar mais um óbito na BR-104 próxima à entrada da Ufal – Universidade Federal de Alagoas. A iniciativa foi criada desde 2008 e de lá para cá dezenas de bicicletas foram espalhadas pelo estado no sentido de marcar o local onde houve a morte associando-a ao ciclista que perdeu a vida. O presidente da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC), Antônio Facchinetti, salientou e sugeriu veementemente que os Centros de Formação de Condutores (CFCs) durante as aulas teóricas e práticas abordem a temática dos ciclistas para que os motoristas saiam com mais consciência do artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Em matéria publicada no dia 29 de setembro deste ano, no Jornal Tribuna Independente, a SMTT - Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Maceió reconheceu a deficiência da infraestrutura viária, no entanto disse que vem buscando retrabalhar as vias da cidade para a presença de ciclistas, porém, grande parte da infraestrutura depende da execução de obras (que não está no escopo de atividades da SMTT). Lembrou que a área urbana de Maceió conta atualmente com 16 pontos dotados de infraestrutura cicloviária, com ciclovias ou ciclofaixas, somando mais de 40 km. “Elas são, entretanto, descontínuas e insuficientes para a estrutura viária existente. Não se configuram como um sistema, assim como não atendem a real necessidade dos ciclistas”, analisou. A intenção do Órgão é que à medida que se trabalha a sinalização para tráfego geral (veículos motorizados), havendo a possibilidade de inserção segura da bicicleta na via, já se trabalhe em conjunto ciclofaixas. Destacou ainda que nada impede que futuramente quando o órgão responsável pela infraestrutura urbana obtenha orçamento, execute uma infraestrutura mais permanente e segura, com ciclovias e retrabalho de calçadas e esquinas seguras.