Cidades

Entidades cobram punição para caso de racismo em Alagoas

Jovem foi espancado sob a suspeita de furtar um aparelho celular no GBarbosa do Tabuleiro do Martins, em Maceió

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 24/11/2020 08h27
Entidades cobram punição para caso de racismo em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Mais um caso lamentável envolvendo racismo no Brasil foi registrado, desta vez na capital alagoana, no último sábado (21), um dia após ser celebrado o Dia da Consciência Negra. Um jovem, que trabalha como jardineiro, foi ao supermercado GBarbosa para comprar um aparelho celular sendo abordado por um homem que se dizia policial, que o levou a uma sala onde foi agredido, filmado e obrigado a confessar que havia furtado o aparelho para que não sofresse mais agressões. Por esta razão, vários órgãos ligados à Igualdade Racial estão acompanhando de perto a situação que traumatizou o rapaz de apenas 19 anos. A vítima, segundo o advogado dele, Basile Christopoulos, ainda está receosa com a experiência passada no estabelecimento comercial e prefere não ser identificada no momento. “Foi feito no mesmo dia o Boletim de Ocorrência no 5º Distrito Policial e em seguida o Exame de Corpo Delito. Hoje [ontem] entramos em contato com a OAB e a Comissão de Direitos Humanos vai acompanhar o caso, a Secretaria de Direitos Humanos do Município também entrou em contato conosco para dá um suporte. Na ocasião também foi pedido o acesso ao circuito de imagens do supermercado” frisou. Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL), por meio da Comissão de Promoção de Igualdade Social, repudiou veemente a agressão e tortura sofridas pelo jovem negro. Segundo o presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Social, Alberto Jorge, a média é de 12 denúncias por mês. Mas esse ano caiu pra sete, sendo três de intolerância e quatro de injúria racial. “Este ano houve diminuição, acreditamos, que por conta da pandemia com medidas restritivas”, mencionou. Para Marluce Remígio, presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir), falar de números é meio complicado porque muitos não são denunciados. “Temos dificuldades de quantificar números de casos no estado por falta de investimentos, formação para os servidores públicos. Com isso, as pessoas procuram o Conepir ou a Semudh”, observou. “Na realidade falta estrutura e interesse, a OAB é um grande parceiro que vem acompanhando os casos que chegam, na pessoa do Dr Alberto Jorge (Betinho)”, frisou Marluce. Maria Silva, secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos de Alagoas também manifestou seu apoio à família do jovem negro de 19 anos, vítima de racismo dentro do supermercado GBarbosa,  no bairro do Tabuleiro dos Martins, em Maceió. “No mês da Consciência Negra em todo o país há relatos de histórias brutais de violência e assassinato contra negros e negras. Os casos mostram o quanto o racismo continua enraizado na nossa sociedade e as consequências são nefastas para toda a sociedade. Um País civilizado e democrático não pode conviver com esse tipo de barbárie”, ressaltou. A Semudh não só se solidarizou com a vítima, mas também entrou em contato com o advogado de defesa do jovem e deve ouvi-lo ainda esta semana para avaliar e acompanhar as providências cabíveis para que haja justiça e punição aos responsáveis. Os contatos podem ser feitos por meio da Superintendência de Políticas para os Direitos Humanos e a Igualdade Racial - (82) 3315-3792 ou (82) 988797571, ou na sede da Secretaria na Rua Cincinato Pinto, 503 – Centro, Maceió. No mês da Consciência Negra, em todo o país há relatos de histórias brutais contra negros e negras   Dados do Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos (MMFDH) mostram que Alagoas registraram três denúncias de discriminação racial de janeiro a junho deste ano e o mesmo número relativo ao mesmo período do ano passado. O levantamento com dados dos últimos quatro anos indicou que Alagoas ficou em quinto lugar no ranking de denúncias na região nordeste. DELEGACIA O projeto de lei que cria, em Maceió, uma delegacia especial para atender populações vulneráveis foi encaminhado pelo Governo à Assembleia Legislativa (ALE), no dia 2 de outubro passado. A unidade funcionará na estrutura da Polícia Civil e investigará crimes contra negros, idosos, adeptos de religiões de matriz africana, pessoas com deficiência, quilombolas, ciganos, índios, moradores de rua e público LGBTQI+. O texto foi assinado pelo governador em exercício, Tutmés Airan. “A delegacia representa um avanço extraordinário que, somado à Defensoria Pública, ao Ministério Público e à vara especializada, fecha a rede de proteção a essas pessoas”. Ainda segundo Tutmés Airan, o Judiciário auxiliará na capacitação dos policiais que atuarão na delegacia. “O Tribunal de Justiça coloca à disposição do Executivo a estrutura da Escola da Magistratura para fazer esse treinamento. Não é qualquer policial que pode atuar na unidade, porque a população vulnerável precisa, efetivamente, de um tratamento especial. Ela precisa de uma delegacia que, antes de investigar, acolha”. “Que tão logo a Assembleia aprove a mensagem e o governador sancione passemos a ter um tratamento diferenciado para as pessoas em situação de vulnerabilidade, coisa que não ocorre nos dias atuais, não pela vontade dos que fazem a segurança pública, mas pela falta de especialização dos que estão nas delegacias”, destacou o procurador-geral de Justiça, Márcio Roberto Tenório. DENÚNCIAS O serviço de mensagens privadas (WhatsApp) agora também poderá ser utilizado como mais uma plataforma para denúncias de violações de direitos humanos e de violência contra a mulher, somando-se assim aos já tradicionais canais de atendimento (disque 100 e Ligue 180), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Para receber atendimento ou realizar denúncias por esta nova via, o cidadão deve enviar mensagem para o número (61) 99656-5008. Após resposta automática, ele será atendido por uma pessoa da equipe da central única dos serviços. Além do WhatsApp, os canais de atendimento do Disque 100 e do Ligue 180 podem ser acessados pelo site da Ouvidoria e por outros aplicativos como o Direitos Humanos Brasil. A reportagem tentou contato com a gerência do GBarbosa em Maceió, mas não obteve êxito até o fechamento desta edição.