Cidades

Rede pública em Alagoas discute retomada de aulas

Ainda não há prazo definido; Semed de Maceió não descarta reformas nas escolas para adequação a protocolos sanitários

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 26/08/2020 08h23
Rede pública em Alagoas discute retomada de aulas
Reprodução - Foto: Assessoria
Apesar de não ter data definida para retomada das aulas presenciais em Alagoas, já há na rede pública de ensino um debate em torno do tema. As Secretarias de Educação do Estado e do Município de Maceió afirmam que as discussões ocorrem, no entanto, ainda é cedo para afirmar quais protocolos serão adotados. A Semed não descarta a necessidade de possíveis reformas para adequação dos espaços. “[O protocolo] ainda está em estudo. O que podemos dizer é que a Semed discute o protocolo de retorno, mas ainda sem previsão. Está se pensando em tudo [reformas], estamos estudando e construindo o protocolo de retorno. Está ainda em planejamento”, resumiu a Semed. Em vários estados do país as discussões já avançaram e em alguns estados, por exemplo, a retomada já foi definida, apesar da pandemia ainda não ter sido controlada e a escalada no número de casos continuar. No início do mês, a Tribuna Independente adiantou que as discussões na rede privada seguem longe de uma definição. O fato é que na rede pública também não há protocolo definido, tampouco indicativo de que a retomada ocorra por enquanto. A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) explicou que de acordo com o protocolo de reabertura determinado pelo governo estadual, as aulas presenciais estão previstas para a retomada na chamada fase verde. “A retomada das aulas presenciais nas redes pública e privada de ensino de Alagoas só acontecerá na última etapa do Plano de Distanciamento Social Controlado. A volta às aulas só ocorrerá quando houver segurança e obedecerá protocolo validado pelas autoridades sanitárias, como também a realidade de cada região, município e escola”, pontua a Seduc. A dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal) Girlene Lázaro avalia que há diversos fatores que precisam ser considerados na discussão para retomada de aulas. “Tudo isso deve ser construído de forma coletiva, democrática, não só em gabinetes. A questão da educação tem que ser vista principalmente por quem conhece a realidade das escolas. Não se define a volta às aulas sem considerar as diferenças que existem. Uma pesquisa da Undimes aponta que 53% das famílias vivem em situação de vulnerabilidade e são nestas famílias que estão os nossos alunos de escolas públicas, seja na capital, no interior, zona rural. As escolas na sua maioria já eram sem condições de funcionamento, em prédios alugados, sem ventilação, sem banheiro adequado, sem pia suficiente, sem bebedouro suficiente, imagine numa pandemia”. Girlene questiona as ações do poder público para a retomada e afirma que a entidade é contrária ao retorno das aulas considerando o cenário atual. “A gente pergunta o que tem sido feito neste período pelos governos para garantir esse retorno? A escola não é depósito de jovens e crianças, ela tem um papel a cumprir. O Sinteal só pode ser contra a volta às aulas quando ainda existe um crescimento no número de contaminados e óbitos e as escolas permanecem as mesmas. Precisamos discutir isso com as secretarias. As escolas precisam ser ouvidas, não só gestores, mas os trabalhadores, famílias, sindicato, conselho, tudo construído democraticamente é melhor.” Sinpro: carga emocional tem causado adoecimento   “A gente tem um registro enorme de professores adoecendo por conta da carga emocional desse período de mudança no trabalho, tem sido uma constante. A pressão inicial que as instituições e os pais faziam para que fosse reproduzido em sala de aula presencial, virtualmente, esse primeiro momento foi muito estressante. Agora se tem a somatização. Também começou a surgir o medo, insegurança e incertezas por conta da possibilidade de retorno as aulas”, expõe o presidente do Sindicato dos Professores de Alagoas (Sinpro-AL), Fernando Cedrim. Apesar da denúncia do sindicato, não há dados que atestem quantos profissionais estão em situação de adoecimento. A subnotificação também é admitida pela entidade.  Fernando Cedrim  afirma que outro fator que tem contribuído negativamente é a exaustão a que os profissionais estão submetidos pela intensa rotina que envolve preparação e gravação de aulas. “Muitos profissionais estão aí com dez, doze parcelas de equipamentos que tiveram de comprar pela necessidade de continuar trabalhando. Hoje quem está pagando essa conta é o professor. Na verdade os professores estão adoecendo. Recebemos ligações de professores se queixando, mas não temos como enumerar isso. Muitos professores não estão saindo para procurar ajuda médica com medo do coronavírus, mas a maioria porque não está tendo tempo de se cuidar. Porque precisa dar aulas, preparar aulas, editar, trabalhar nessa transmissão. Hoje o professor não está tendo como cuidar de si. Em tempos de pandemia, pela manhã ele dá aula, à tarde produz, à noite grava, está trabalhando dobrado. Mas ainda assim é melhor do que voltar para a sala de aula com o risco de se contaminar”, acrescenta o líder sindical. RETOMADA Cedrim diz que há escolas que já planejam como será a retomada das aulas. Alguns modelos têm sido avaliados, inclusive um modelo híbrido com transmissão de aulas simultâneas. “A insegurança é coletiva, não temos protocolo. Nós sabemos que os protocolos construídos até então em outras áreas são bastante caros, muitas instituições não vão ter condições de bancar isso aí. E de quem será a responsabilidade desses equipamentos? É uma situação complicada, os professores não se sentem seguros para a volta, os pais muito menos”, defende.