Cidades

Casa José Lopes, no Mutange, não deve ser demolida

Prédio do século XIX está entre falhas geológicas e em zona de maior afundamento

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 20/08/2020 08h10
Casa José Lopes, no Mutange, não deve ser demolida
Reprodução - Foto: Assessoria
A Casa José Lopes, prédio histórico situado no bairro do Mutange, em Maceió, não deve ser demolida pela Braskem S/A. A suposta demolição vinha sendo divulgada pelas redes sociais entre moradores, no entanto, segundo a própria Braskem o prédio deverá ser preservado.  O casarão está situado numa área de falhas geológicas e numa zona de maior subsidência entre os quatro bairros que afundam. Com a desocupação de imóveis na região e o início das operações de preenchimento das minas, a Braskem construiu um canteiro de obras no terreno do casarão histórico. As edificações ao redor do imóvel foram demolidas, apenas a casa principal ficou de pé. Durante o processo de negociação do programa de indenizações da Braskem, a área foi comprada e deve servir como passagem para caminhões e máquinas que serão operadas para preencher quatro minas com areia. “A Braskem iniciou as obras de preparação de um Canteiro Central de Operações que viabilizará a movimentação de caminhões, máquinas e equipamentos necessários para o trabalho de preenchimento de alguns dos seus 35 poços de sal, todos com operações já encerradas. O canteiro ficará entre a Avenida Major Cícero de Góes Monteiro e a Lagoa Mundaú, em um terreno adquirido pela empresa junto à Casa de Saúde José Lopes. A adequação do espaço inclui algumas demolições de anexos, autorizadas pelos órgãos públicos, mas o prédio histórico do hospital será preservado”, disse a empresa por meio de assessoria. A Defesa Civil de Maceió informou que em relação às áreas desocupadas as informações ficam a cargo da Braskem. A Casa José Lopes, originalmente denominada Vila Lilota, foi erguida pela família Leão no século XIX. Atualmente é considerada uma Unidade Especial de Preservação Cultural (UEP) de Maceió. O imponente casarão era um dos destaques de sua época, no tempo que o bairro de Bebedouro concentrava os acontecimentos sociais da capital. Casarão teve afundamento, mas não deve cair   Há cerca de um ano, o professor e mestre em Geologia Abel Galindo adiantou com exclusividade à Tribuna Independente que a área da Casa José Lopes está em cima de uma das minas que mais representam risco, a mina 7. A mina, segundo o pesquisador, tem diâmetro médio de 150 metros. Na região, a Lagoa Mundaú já avançou cerca de dois metros. “Aquele olho do furacão ali é uma coisa muito grave. Quando eu fiz aquilo ali [estudo] já havia dois metros de afundamento em 15 anos. Já há indícios de retorno no fluxo de água. Tem um poço artesiano na casa José Lopes que a água sobe. A terra desce e a água sobe. É uma movimentação muito forte. Está descendo e se espera que a casa do José Lopes e a vizinhança vai descer”, afirmou Abel Galindo em novembro do ano passado. Agora, o pesquisador afirma que apesar da movimentação e do “recalque”, isto é, afundamento do imóvel, não há risco de desmoronamento. “Aquela casa desceu também, ela recalcou uns 40, 50 cm. A parte que mais afundou foi a parte de trás, na margem da lagoa. Nos fundos daquela casa passa uma falha geológica, conforme o CPRM mostrou. No pé da encosta tem uma falha, e por trás da casa passa outra, que separa a casa do restante [que foi demolido]. Aquela parte foi a que mais afundou, mas a casa até onde eu sei está intacta, não creio que ela vai desabar não. E se realmente a Braskem preencher as minas deve aos poucos ir parando. Mas a casa realmente não vai desabar não, dentro do conhecimento atual”. Quatro poços de sal-gema deverão ser preenchidos para conter o processo de subsidência. O preenchimento foi uma das recomendações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e do Instituto de Geomecânica de Leipzig. A operação de preenchimento pode levar até dois anos para conclusão. Os vazios deverão ser preenchidos com areia. “Dos 35 poços com operações encerradas, 9 estão em condição estável sendo que em 4 destes já foi realizado o plano de fechamento da frente de lavra, e 5 estão na fase de instalação dos sensores que permitem o acompanhamento dessa estabilidade ao longo dos anos. Nos próximos meses, outros 9 poços que já têm o plano de fechamento definido passarão pelo mesmo processo. O programa de monitoramento implantado nos demais 13 poços irá definir o momento do seu fechamento definitivo. Existem ainda 4 poços que terão de ser preenchidos com areia”, informou a Braskem.