Cidades

Ensino virtual é desafio para pais e alunos

Reclamações vão desde problemas de conexão à falta de habilidades com a tecnologia para entender o assunto

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 27/06/2020 08h02
Ensino virtual é desafio para pais e alunos
Reprodução - Foto: Assessoria
Por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a rotina escolar de crianças, adolescentes e adultos teve que ser mudada. No início, em Alagoas, a alternativa foi suspender as aulas. Depois, sem data para retomada das atividades presenciais, as aulas voltaram por meios remotos. No entanto, para grande parte dos alunos e pais não está sendo fácil. Maria Lúcia Ricardo, mãe de Vinícius Ricardo, 13 anos, aluno do 7° ano de uma escola particular de Maceió, conta que o filho tem algumas dificuldades. “A maioria dos segmentos teve que se reinventar. E por ser novidade, existem algumas dificuldades. As aulas remotas são desafios diários: é a aula que trava, é o barulho dos colegas ao perguntar ou responder algo para o professor, é a dificuldade de conseguir o acesso a aula - permissão para participar”, conta Maria Lúcia acrescentando que  os desafios também são enfrentados principalmente pelos pais, que devem conseguir transmitir de uma forma mais clara o conteúdo para os filhos, quando eles não conseguem assimilar na aula online. A mãe de Vinícius diz ainda que ele reclama quando a aula trava e dificulta o entendimento do conteúdo. Assim como, quando tenta falar algo para o professor e não consegue ser ouvido, por conta dos outros colegas que também estão tentando falar. Ela explica que entende que a escola vem buscando se adaptar a esse novo cenário e utiliza todas as ferramentas de comunicação possíveis. “Há professores que possuem uma facilidade maior em transmitir o conteúdo e ser entendido, mesmo em tempos de aula remota. Por outro lado, há assuntos que, por si só, são mais densos e difíceis de serem transmitidos. O que seria mais fácil, se fosse ministrado presencialmente, e o aluno pudesse questionar o professor e levantar suas dúvidas. Nós pais devemos reconhecer que existe um esforço muito grande, por muitos professores, ao preparem videoaulas, uma vez que, muitos deles não tinham familiaridade com a tecnologia’’, diz. Os pais de Víctor Silva de Oliveira, 11 anos, aluno do 6° ano de uma outra escola particular na capital, Adriana de Oliveira e Herrison Antônio de Oliveira também relatam as dificuldades. Para eles, seria a falta de disciplina de estudo e de intimidade com esse modelo de ensino-aprendizado. “São vários problemas, desde a conexão à falta de habilidades tanto dos professores quanto dos alunos com esse novo meio. Não há parâmetros pra medir a eficiência dessa forma de ensino. As aulas são cansativas, maçantes, na opinião dele. Sente-se intimidado em interagir, não consegue se entusiasmar. É o outro lado da moeda. A internet costuma ser um meio de entretenimento mais do que aprendizado formal, propedêutico. Mas ele tem correspondido aos desafios. Falta só um pouco mais de entusiasmo’’, conta o pai. Assim como Maria Lúcia, Henrisson e Adriana também avaliam que a escola e os professores estão tentando se adaptar. “Eles têm se esforçado muito. Mas há muito o que se fazer, principalmente ante a uma realidade tão inesperada. Mas estamos sossegados por acreditarmos no empenho e no compromisso da escola. Os professores parecem viver um dos maiores desafios profissionais. É o que se pode dizer: têm que se reinventar. Vivem a insegurança de produzir um trabalho para o qual não foram exatamente preparados. Mas são dedicados e comprometidos e isso é bom”. “A palavra de ordem é reinventar’’, afirma coordenadora pedagógica Para os professores,  a palavra de ordem é reinventar, disse a coordenadora pedagógica geral do Colégio Santíssimo Senhor, Polyana Alécio.  De fato,  muitos deles precisaram lidar com situações que não estavam acostumados, como gravar vídeos ou dar as aulas online. Mesmo com essa nova rotina de trabalho, estão atentos às novas tendências da educação. Polyana Alécio pontua que o momento está sendo um grande desafio e pegou todos de surpresa. “Mudou radicalmente tudo o que tínhamos planejado para 2020. O colégio buscou e busca o tempo inteiro se reinventar e acompanhar, da melhor maneira possível todas as situações que envolvem este momento. A nossa maior preocupação é sempre com o desenvolvimento e o aprendizado de nossos alunos. Temos uma equipe preparada para atender os alunos e as famílias, da melhor maneira possível’’, ressalta. Polyana diz ainda que, entre as dificuldades, a principal delas está ligada ao acesso dos alunos à tecnologia, ou mesmo à internet, mas as famílias estão dedicadas e buscando se adequar.  E relata que é extremamente importante, a parceria com as famílias, que têm tido papel fundamental em todo este processo, porque no momento, os professores se tornaram mediadores e os familiares estão em casa acompanhando cada passo dos alunos. A profissional conta que no começo as dificuldades eram maiores, tanto para alunos e familiares quanto para os professores e toda a equipe, mas agora todos estão melhor adaptados e mais tranquilos. “É uma situação atípica e precisamos, realmente, nos adaptar. Foi preciso modificarmos todo o planejamento para que as aulas remotas fossem adequadas a esta nova realidade e os alunos tivessem um melhor aproveitamento. A equipe pedagógica está sempre fazendo encontros para tratar sobre os ajustes do planejamento e esse novo formato. Os nossos alunos são tratados de maneira individualizada, quando necessário. É importante frisar que esse momento requer cuidados relacionados ao emocional e que estamos atentos aos nossos alunos, professores e familiares’’. SINPRO O Sindicato dos Professores de Alagoas (Sinpro-AL), diz que os desafios encontrados por todos os professores, instituição e alunos são inúmeros, desde a montagem da aula online até o contato direto com as plataformas utilizadas. E os profissionais estão com sobrecarga de trabalho. “É um espaço que antes não era conhecido pelos docentes. Além disso, têm as dificuldades de cobranças. Muita gente quer que seja reproduzido o que seria em sala de aula presencial, e isso é impossível. Essas aulas estão de forma remota e as instituições estão fazendo o mais parecido possível com o presencial. Muitas dessas aulas ficam gravadas porque às vezes o aluno não consegue entrar no horário. Até porque têm os casos de ter dois ou mais irmãos em casa. Ou seja, é tudo muito novo’’, comenta o professor Fernando Cedrim, presidente em exercício do Simpro/AL. Cedrim conta ainda que existe relatos de professores que estão mais ansiosos e que de fato aumentou a carga de horário. “Tem professor que está trabalhando o dobro e até o triplo do que trabalhava antes, porque o tempo para fazer o planejamento dessas aulas são maiores. Eles têm que preparar material escrito, online, vídeos - se gasta muito tempo. E muitas vezes em locais que não têm o silêncio necessário e as adequações. E muitas vezes os pais acompanham e sente as dificuldades também. Tudo foi feito de forma imediata. Algumas instituições passaram até um certo período, até conseguíamos fazer essa adequação. Os professores trabalham em seu horário, mas antes tinha professor tirando dúvidas 10h da noite, imagine? Ele tem que cumprir no horário que ele tinha na instituição, isso cessou um pouco, mas a sobrecarga ainda é grande’’. O presidente diz que teme por conta da ansiedade que pode causar as doenças ocupacionais. “Os professores estão mais tensos. Muitas instituições fazem cobranças excessivas justamente por esse momento novo. Os pais não querem pagar a mensalidade, o que acaba prejudicando as escolas - que atrasam os docentes e vem a incerteza do emprego. É muito difícil. É um momento que todos têm que se unir e vencer esse momento para quando voltarmos conseguir ter o mínimo de prejuízos”.