Cidades

Imóveis no bairro do Mutange estariam sendo negociados

Segundo relato de moradores, suposta prática ocorre mesmo com a necessidade de desocupação da área de encosta

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 18/02/2020 10h14
Imóveis no bairro do Mutange estariam sendo negociados
Reprodução - Foto: Assessoria
Mesmo com a desocupação em curso, imóveis no bairro do Mutange, em Maceió, estariam sendo comercializados. Segundo informações repassadas por moradores, alguns teriam sido vendidos a R$ 3 mil. A reportagem da Tribuna Independente esteve na região conhecida como Ladeira do Verde e fez o registro de um dos imóveis selados e com placa de venda. O bairro do Mutange é um dos quatro afetados pelo processo de afundamento e está incluído na zona de desocupação custeada pela Braskem S/A. Cada proprietário tem a opção de receber R$ 81 mil pelo imóvel. Mas segundo a moradora Carla Kelly, algumas pessoas estariam  aproveitando o momento para comercializar imóveis que deveriam ser desocupados. “Com essa situação toda a gente vê todo dia mudança, as pessoas saindo e as pessoas chegando. Muita gente ‘tá’ vendendo a casa, mesmo sabendo que tem que sair. O pessoal está ficando, mesmo sabendo que tem que sair faz isso”, diz. Também moradora do Mutange, Vanessa dos Santos é representante do movimento SOS Pinheiro. Ela explica que desde o anúncio das desocupações, alguns moradores começaram a negociar. Vanessa diz que um determinado morador teria negociado 22 imóveis a R$ 3 mil cada. “Eu não sei se continua acontecendo, eu acredito que agora esteja mais difícil, porque mesmo que venda ninguém vai querer dar R$ 81 mil. O que vinha acontecendo é que estava sendo vendido barato, por R$ 2 mil, R$ 3 mil. Tem um cara aqui que tinha cinco casas, hoje está com 22. Compradas assim, a preço de banana. Quando é fechado o acordo, as pessoas têm que sair, e a Braskem já vem selar”, conta. Com a ampliação da área inicial de resguardo das minas da Braskem, regiões como a encosta do Mutange foram as primeiras a ser visitadas e desocupadas pelo nível de criticidade. Para o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a área de encosta do Mutange é uma das mais instáveis devido as construções irregulares e falta de drenagem. Desde o dia 20 de janeiro a região começou a ser visitada e cadastrada por técnicos da Braskem para a remoção de moradores. Defensoria vai pedir investigação para apurar irregularidades   O subdefensor público geral, Carlos Eduardo Monteiro, afirma que vai solicitar investigações para confirmar se as irregularidades vêm sendo cometidas. Ele explica que as supostas “vendas” são consideradas nulas e os envolvidos podem responder por estelionato. “Não recebemos nenhuma informação. Isso é novidade para mim. Qualquer venda que haja é totalmente nula a partir do momento que já foram identificados os imóveis, isso pode gerar futuramente uma demanda. A gente vai até apurar e tem a questão do crime, se você está vendendo um imóvel, sabendo que não haverá indenização você está cometendo no mínimo estelionato. Cometendo fraude para se beneficiar. Vamos enviar um ofício para investigar se a prática está ocorrendo. Ainda de acordo com o defensor público, os imóveis da área de encosta já foram cadastrados e inclusive a Defensoria Pública do Estado (DPE) já recebeu relatórios e a lista com os nomes dos beneficiários. “Inclusive todos os imóveis da área de encosta já foram identificados, já sabemos quem são os proprietários, os inquilinos. Recebemos relatórios da Braskem de todas as pessoas identificadas. Se futuramente vier alguém que não está no cadastro como proprietário ou inquilino provavelmente vai ficar sem nada. E se pagou por isso para receber benefício, também vai sair perdendo por isso”, detalha. Segundo a Braskem, todos os imóveis das áreas relacionadas serão desocupados sem possibilidade de retorno. “O acordo firmado entre os órgãos públicos e a Braskem determina que os imóveis nas áreas de risco serão desocupados de forma definitiva, sem a possibilidade de retorno do proprietário ou morador. Após a desocupação os imóveis são lacrados e seu destino será definido em conjunto com as autoridades. As situações excepcionais também serão avaliadas junto com as autoridades competentes.