Cidades

Escola histórica no Cepa corre risco de ser fechada

Professores da unidade estadual José Correia da Silva Titara denunciam que não houve diálogo com a comunidade escolar

Por Lucas França com Tribuna Independente 15/01/2020 08h54
Escola histórica no Cepa corre risco de ser fechada
Reprodução - Foto: Assessoria
O início de ano não começou com boa notícia para os alunos e professores da Escola Estadual José Correia da Silva Titara (antigo Instituto da Educação de Alagoas).  Professores denunciaram ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal) que a escola corre o risco de ser fechada e que não houve diálogo com a comunidade escolar. Nesta terça-feira (14), a direção do Sinteal esteve no Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa), na Avenida Fernandes Lima, onde a escola fica localizada, para apurar a denúncia e fortalecer a mobilização para a manutenção da unidade de ensino. “Ficamos sabendo do problema quando estávamos fazendo as visitas e convites das reuniões que o sindicato realiza junto aos profissionais da educação. E, informalmente, ficamos sabendo desta situação. Primeiro ficamos sabendo que a escola não teve liberação para fazer matrícula este ano, tanto esta, quanto outras escolas localizadas no Cepa. E a alegação seria o problema no bairro do Pinheiro. No entanto, só a parte que é de ensino para os alunos e a parte que a Seduc [Secretaria de Estado da Educação] ocupou provisoriamente, e não saiu mais, não sairiam do local, ou seja, a parte burocrática. A escola deixa de ter a função de atendimento público para ser aparelho burocrático da secretaria’’, reclama a professora Edna Lopes, diretora adjunta de assuntos educacionais do Sinteal e conselheira estadual do Conselho Estadual de Educação. Unidade será realocada como medida preventiva, diz Seduc   Os professores salientam que a Seduc, mesmo sem documento oficial ou diálogo com a comunidade escolar, já deu início ao processo de mudança para um prédio que está localizado em Massagueira, no município de Marechal Deodoro. “Apenas a diretora foi convocada para uma reunião sem poder levar ninguém. E desde principio ela solicitou um documento que mostre os motivos sobre o porquê à escola sairia dali. Além dela, mais ninguém foi. Os professores estão de férias, os alunos também. Tanto que, quando eles souberam disso, foram ao local para questionar. Isso é um problema porque a natureza da escola é técnica profissionalizante. Ela é uma escola certificadora, para os cursos ligados ao Profissionário, ao Pronatec, a esses cursos que funcionam para o secretariado escolar, ludotecnia (voltada para o ensino infantil). Ou seja, o governo tem que entender a natureza da escola’’, avalia Lopes. Ainda segundo a sindicalista, mesmo em férias, alunos e professores estiveram no local para entender a situação e reclamar. “Eles não querem ser remanejados para outras escolas, até porque a função da Correia Titara é diferente. Porque a parte escolar será fechada e a parte burocrática não? Se fosse de fato o problema no bairro do Pinheiro, ela toda não deveria ficar sem funcionamento?’’. Com 150 anos de história, atendendo à demanda social de formar profissionais para a educação em Alagoas a escola pode deixar de existir no Cepa e o nome ficará em um novo prédio em outro município. SEDUC A Seduc explica que a realocação da escola e de outras três unidades será feita como medida preventiva após laudo solicitado à Defesa Civil e à CPRM,  e que por isso, decidiu, como medida preventiva, realocar as quatro escolas estaduais localizadas em áreas de instabilidade. “No Cepa, a realocação ocorrerá nas escolas José Correia Titara e Vitorino da Rocha. No bairro de Bebedouro, além da Escola Bom Conselho, que já foi realocada, outras duas escolas precisarão ser desocupadas. A Escola Estadual Rosalvo Ribeiro e a Escola Estadual Alberto Torres. Vale ressaltar que apenas duas escolas do Cepa se encontram em área de instabilidade e que as demais unidades do complexo não apresentam risco. Estas são medidas preventivas para resguardar a comunidade escolar e que seguem orientações de laudos técnicos’’. Além disso, a secretaria salienta que a história da escola não se perde, até porque muitas das escolas não nasceram no Cepa, elas já vieram de outros prédios, em outros bairros. Comissão pede apoio da Defensoria Pública para impedir mudança   Esta terça, seria o início da mudança, toda a mobília seria levada para Massagueirinha. Mesmo em período de férias, alguns professores e estudantes foram à escola e, junto com o Sinteal, realizaram uma manifestação para impedir o transporte da mobília. Logo após o ato, uma comissão integrada pela própria diretora da escola, pelos diretores do Sinteal, Edna Lopes e Edilton Dantas, e por representantes dos estudantes e dos trabalhadores da unidade de ensino, foi até à sede da Defensoria Pública do Estado de Alagoas conversar sobre a situação da escola. Lá, foram atendidos pelo subdefensor público-geral Carlos Eduardo de Paula Monteiro que solicitou da professora Corina Prado (diretora) um relatório completo reforçando a importância da manutenção da Escola Estadual Correia Titara em sua função verdadeira, e não apenas no aspecto administrativo-burocrático. Para que em posse desse documento, a Defensoria Pública possa agir de modo substanciado. A diretora prometeu a entrega do relatório em menos de 24 horas a contar do término da reunião, que aconteceu no início da tarde desta terça. Preocupada com o destino dos cursos, dos estudantes e da comunidade em geral, a diretora da escola, professora, Corina Prado, diz que haverá grande prejuízo pedagógico e administrativo, caso a mudança se concretize. “A natureza da escola é preparar a comunidade, os alunos e não há muitas como ela”. Para a presidente do Sinteal, Consuelo Correia, a iniciativa é problemática. “Não é aceitável que uma decisão desse tipo aconteça sem o devido conhecimento do Conselho Escolar, sem ouvir a população e a comunidade da escola, sem nem mesmo formalizar o processo com alguma documentação. É uma total irresponsabilidade de uma gestão que não respeita a educação”. PERDAS De acordo com os dirigentes da escola, antes, a unidade comportava cerca de 450 alunos, mas no último período foi bastante reduzido porque o governo não abriu novas matrículas desde 2018 e maior parte das salas de aulas está sendo ocupadas para funcionamento da Seduc. Mas, segundo os representantes do Sinteal, tanto o quadro técnico quanto os estudantes da escola estão apreensivos e prometem manter a luta em defesa da escola. “A maior prioridade do Governo deveria ser oferecer todas as condições possíveis para a educação crescer e melhorar. Não adianta fazer live no Facebook dizendo que melhorou a educação, enquanto fecha escolas dessa forma autoritária”, disse Consuelo Correia. (Com assessoria)