Cidades

Moradores questionam área de realocação proposta pela Braskem

Segundo a comunidade, que fica a 150 metros da mina 6, uma parcela das moradias deve ficar “ilhada” após remoção da vizinhança

Por Tribuna Independente com Evellyn Pimentel 07/12/2019 11h47
Moradores questionam área de realocação proposta pela Braskem
Reprodução - Foto: Assessoria
O imbróglio envolvendo o processo de afundamento nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto parece estar bem longe de um desfecho. Com a vigência de “dois planos” de evacuação, um da Braskem e outro da Prefeitura de Maceió, os moradores afirmam que estão confusos sobre como deve ocorrer a saída dos imóveis. Além disso, uma comunidade do Pinheiro afirma que foi “excluída” do plano da Braskem, apesar de estar situada a 150 metros da mina 6. Vanessa dos Santos mora há 8 anos na Travessa Delmiro Gouveia. A rua fica nos arredores do chamado Campo da Salgema, área onde fica situada a mina 6, ao fim da Avenida Comendador Francisco de Amorim Leão, no Pinheiro. Com a delimitação divulgada no início da semana pela Braskem, a comunidade “ficou de fora” da realocação, apesar de estar situada na área rosa classificada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). “Aqui têm algumas casas abandonadas, porque as pessoas já não tinham mais condições de saúde para permanecer e saíram para pagar aluguel. Outras que não acreditam que vá acontecer algo e não saem de jeito nenhum e as pessoas que acreditam e estão revoltadas e abismadas com esse segundo mapa. Porque o primeiro já foi absurdo e esse mais ainda. Onde existe as minas, não sei te dizer quantos metros exatamente, mas é próximo, é um quarteirão. Atravessando a rua, em frente à minha casa já é a área da Braskem, que com certeza deve estar oca por baixo, é área de minas. Está na frente da mata e eles dizem que nós estamos por conta da Defesa Civil e da Prefeitura. Mas eu pergunto, e se essas minas desabarem, não vai ter influencia aqui, tão perto? Qual distância de terra, residência, vai puxar? E mesmo que não puxe, que não seja tão profundo, abre um buraco em frente, eu vou sair como?”, questiona a moradora. Segundo ela, algumas casas da região já foram abandonadas e têm sido depredadas. Vanessa diz que a realocação deve deixar os imóveis “ilhados”. “Na verdade nós já estamos ilhados, muitas pessoas já saíram. Como no Pinheiro está tendo arrombamento, pessoal levando porta, janelas, aqui no morro também está acontecendo. E o que vai acontecer é que já não temos mais opção. Algumas pessoas ao redor vão ser indenizadas e isso aqui vai ficar isolado, vai virar um deserto. Estamos entregues a Deus”, comenta Vanessa. Geraldo Vasconcelos, do movimento SOS Pinheiro, afirma que os moradores mais uma vez têm sido excluídos das discussões. “É um arco que tem embaixo da mina, 150 metros, eles fizeram uma curva e não contemplaram aquelas casas. Quando chega nessas casas, fizeram uma curva. Qual a justificativa técnica para isso? Isso é resultado de planejamento sem a participação da população. A gente não sabe como foi resolvido e porque foi resolvido dessa forma, agora está lá o povo aflito, e poderia não ter ocorrido isso. Ali são casas mais próximas das minas, quando tirar as casas aquilo ali vai virar uma ilha. Com que propósito foi feito isso?”, questiona. A Prefeitura de Maceió foi procurada para comentar o assunto, mas segundo a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) o plano é de autoria da Braskem e a Defesa Civil atua apenas no acompanhamento. “O trabalho da Prefeitura, por meio da Defesa Civil, será de acompanhamento e supervisão das atividades para resguardar a vida e assegurar que a realocação dos moradores da área de resguardo seja feita em segurança”, informa a Prefeitura. Enquanto isso, os moradores seguem em busca de respostas. O coordenador do SOS Pinheiro avalia que é preciso mais ações pela população. “Não está havendo participação popular nessas determinações. A Prefeitura está determinando as coisas junto com a Braskem e o povo alheio. Quando a gente fica sabendo já é uma determinação, sem a participação popular. Vamos tentar contato com o MPF para que as procuradoras conversem conosco”, defende. Em resposta, a Braskem informou que as decisões foram baseadas nas conclusões dos estudos do Instituto de Geomecânica de Leipzig e que os raios de evacuação passaram pelo crivo de autoridades como Agência Nacional de Mineração (ANM) e Prefeitura de Maceió. “Todas as medidas e ações em andamento neste momento, inclusive a definição da área de resguardo, são baseadas nos estudos que o Instituto de Geomecânica de Leipzig (IFG), referência internacional em geomecânica de poços de sal, da Alemanha, vem fazendo a partir dos dados dos sonares executados nos poços de extração de sal da Braskem. Os raios foram validados pela Agência Nacional de Mineração, que é o órgão regulador. Após reuniões com a Defesa Civil, ficou definido o mapa de desocupação dos imóveis. Nas ações de realocação de moradores serão priorizadas as áreas recomendadas pelos especialistas”, explica a petroquímica.