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“Braskem previa tremores desde a década de 1980”

Segundo CPRM, documento produzido pela empresa registrou possibilidade de sismo que geraria 'onda de pânico' na população

Por Evellyn Pimentel 09/11/2019 11h58
“Braskem previa tremores desde a década de 1980”
Reprodução - Foto: Assessoria
A possibilidade de tremores nas cavidades de sal era cogitada pela Braskem desde 1988. A informação foi repassada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais). Segundo a CPRM, documentos produzidos pela própria empresa atestam que uma das minas foi fechada devido a problemas que poderiam gerar tremores e uma “onda de pânico” na população. “A ocorrência de um sismo por desmoronamento de caverna era previsto desde 1988. Dizia a empresa de extração de sal que aconteceram eventos, ‘vibrações’, na cavidade o que fatalmente iria acarretar uma onda de pânico na população. O processo é datado de 1988”, afirmou Thales Sampaio. Segundo a CPRM, o relatório descrevendo a ocorrência foi encaminhado ao Departamento Nacional de Proteção Mineral (DNPM) atual Agência Nacional de Mineração (ANM) na década de 1980, o fato teria ocorrido entre agosto e setembro de 1986. A mina em questão foi desativada. O texto do relatório afirma: “Agosto-setembro/86 - Aconteceram eventos (vibrações) na superfície e o poço (cavidade) a princípio sofreu novo desmoronamento interno (...) O único desativado em operação por recomendação da firma consultora, em virtude da existência de pouco sal no topo da caverna e o diâmetro da caverna já exceder 100m, a fim de evitar desmoronamento interno com vibrações na superfície, o que fatalmente iria ocorrer uma onda de pânico”, diz trecho do relatório. O tremor mais significativo registrado na região ocorreu em 3 de março de 2018. Mas segundo o laboratório de sismologia da Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN) que trabalha em parceria com a CPRM, outros pequenos sismos vêm sendo registrados de forma constante. Ainda de acordo com o Serviço Geológico, há outros registros de desmoronamentos nas cavidades de sal. Na mina 3, por exemplo, há a informação de uma ocorrência na década de 1970. “11-Maio-76 Entrou em operação. [...] Em Dez-76 [...] Tendo ocorrido o desmoronamento Como se pode notar no desenho anexo, o desmoronamento apenas se deu nas camadas abaixo da profundidade de 790,69m”. As informações prestadas na apresentação da CPRM contrariam o que disse o presidente da Braskem Fernando Musa e o que os estudos apresentados pela empresa apontam. “Estudos complementares estão em andamento tendo em vista algumas restrições dos métodos aplicados nos estudos já divulgados. Especialistas externos indicam que os mecanismos que causam os distúrbios nos bairros são complexos e podem ter origens diferentes que agem de forma isolada ou combinada; O gatilho mais provável é o alto teor de infiltração de água de chuva e de esgoto próximo a superfície; Inúmeras falhas na superfície que podem atuar como zonas de fraqueza, de condução de fluidos, de escorregamento ou de deformação no Bairro do Pinheiro; Estudos sísmicos mostram que os terremotos em Maceió são naturais e associados ao deslizamento de falhas e não ao colapso de poços de sal”, afirma a empresa. CPRM lista mais de 50 ocorrências de afundamentos por mineração Segundo a CPRM no plano de fechamento da mina 2 entregue à Agência Nacional de Mineração (ANM) este ano, os sonares realizados anteriormente não foram considerados pela Braskem. “A gente fez uma composição e os documentos antigos não aparecem nas análises novas. Ou seja, se fez uma análise sem levar em consideração o que você viu lá atrás, há 15, 20 anos? Então nós fomos atrás porque é nosso dever. Dados históricos de desmoronamento. Em maio de 1976 entrou em operação e em dezembro de 1976 ocorreu o desmoronamento. Como pode se notar o desmoronamento apenas se deu nas camadas abaixo de 790 metros. Ou seja, a mina está desmoronada desde 1976 e continuou desmoronando”, exemplificou. Além disso, a CPRM listou ainda mais de 50 ocorrências nos Estados Unidos e Europa envolvendo subsidência por mineração, o que também serviria como justificativa para a situação. No Brasil, o exemplo mais próximo é a cratera de Matarandiba, Ilha de Vera Cruz, na Bahia. Na ultima medição realizada pela mineradora Dow Química, em fevereiro deste ano, a cratera ultrapassava os 90 metros de comprimento, e 36 de profundidade. Quando foi descoberta, menos de um ano antes, a cratera tinha 69 metros. “Me questionaram se existe exemplo no Brasil do que está ocorrendo, e sim, existe a cratera de Matarandiba, próxima a Ilha de Itaparica na Bahia. Só que lá é uma área sem habitantes, a ilha onde ocorre a exploração é da empresa que faz a mineração, a Dow Química”, disse Thales. A exemplo da Braskem, a Dow Química passa por investigação do Ministério Público Federal (MPF) e há risco de que outras crateras surjam na região. A Dow Química emitiu posicionamento, confira abaixo: "Nota de esclarecimento São Paulo, novembro de 2019 - A formação de um novo vazio subterrâneo semelhante ao encontrado em Matarandiba em 30 de maio de 2018 é improvável. Essa é a conclusão dos mais recentes estudos sobre a segurança e a estabilidade estrutural do projeto e layout do campo da caverna para as atuais áreas de exploração e de mineração em sua operação de extração de sal-gema na ilha de Matarandiba, na Bahia. O relatório foi conduzido pelo IFG, referência mundial em estudos geomecânicos. Os resultados dos estudos mostram que o atual modelo de operação é seguro, com estabilidade a longo prazo. Os dados também concluem que as condições geológicas nas áreas operacionais e de exploração atuais, que podem resultar em formação de um sinkhole, não estão presentes. É importante destacar que o estudo do IFG utilizou dados conservadores teóricos sobre as propriedades rochosas e os resultados ainda estão sendo aprimorados e validados com novas amostras e dados essenciais, a serem retirados dos novos poços planejados para ser perfurado no início de 2020. Mesmo com os dados que comprovam que estas áreas estão fora de risco, desde a descoberta do sinkhole, a Dow vem utilizando tecnologias de monitoramento de ponta que oferecem informações em tempo real dos movimentos do solo na área e são capazes de antecipar qualquer evento que possa trazer risco à Comunidade e seus empregados. São elas: Dados de satélite de alta precisão - esta tecnologia permite monitorar e recuperar a história da movimentação do solo em toda a região da ilha com precisão milimétrica. Com este monitoramento, é possível identificar qualquer variação no solo da região. Está em operação desde 26 de junho de 2018, sem nenhuma alteração identificada. Microssísmica – microssensores instalados para monitorar continuamente qualquer movimento e qualquer possibilidade de novas ocorrências de erosões. A capacidade de cobertura de cada equipamento atinge um raio de 4 km, o que faz com que o conjunto dos equipamentos cubra toda a ilha de Matarandiba. O sistema está em operação desde 23 de agosto de 2018, sem nenhuma atividade anormal no solo identificada até o momento. A comunidade está segura A comunidade de Matarandiba está segura, assim como a atual área de exploração de sal-gema da Dow e os acessos à ilha. Além disso, a formação de um novo sinkhole é extremamente remota nessas áreas. Estas são as conclusões do estudo geomecânico, realizado entre agosto e novembro de 2018 pela Dow. A mesma conclusão foi obtida pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil e ambos os estudos foram apresentados à Agência Nacional de Mineração (ANM). Os estudos para descoberta das possíveis causas deste fenômeno geológico seguem em andamento, agora restritas às áreas próximas ao vazio subterrâneo. Os primeiros estudos concluídos até o momento – e já entregues às autoridades competentes – não mostram qualquer relação do sinkhole com as atividades da Dow na região e reafirmam a segurança da comunidade e das áreas de operação atual da empresa. Ainda para garantir a segurança de todos, o acesso segue interditado por meio de barreiras de segurança. Na mais recente medição, constatou-se que a cratera tem as medidas de 101 metros de comprimento, 45,3 metros de largura e 98 metros de profundidade. O aumento do comprimento e largura e redução da profundidade é prevista e é característica deste fenômeno geológico. Esta tendência deve seguir até a completa estabilização do terreno, uma vez que, sob o ponto de vista técnico, a tendência é de que as bordas da erosão fiquem do mesmo tamanho que o fundo dela, e hoje a parte inferior ainda possui perímetro maior do que o das bordas superiores. Em sua base mais larga, o vazio subterrâneo conta com 120 metros de comprimento. Ainda não é possível prever quando se estabilizará, uma vez que depende de uma série de fatores geológicos. Desde a descoberta do sinkhole, a Dow já investiu mais de R$ 5 milhões nos estudos e em tecnologias de monitoramento em tempo real, demonstrando o compromisso da empresa com a segurança da Comunidade, de seus funcionários e de suas atividades na Ilha de Matarandiba. Sobre a Dow Brasil A Dow está presente no Brasil desde 1956. A companhia reúne atualmente cerca de 2.700 funcionários em suas 11 instalações, incluindo 9 unidades de produção em Aratu (BA), Breu Branco (PA), Campinas (SP), Guarujá (SP), Jacareí (SP), Jundiaí (SP), Palmyra (PA), Santa Vitória (MG) e Santos Dumont (MG), atendendo a clientes nos mercados de embalagens, infraestrutura e cuidados do consumidor. A Dow opera 18 complexos de manufatura em 4 países da América Latina e entregou vendas líquidas pro forma de US $ 4,9 bilhões em 2018. Mais informações sobre a Dow e sua tese de investimento estão disponíveis em seu novo website de Relações com Investidores: investors.dow.com Sobre a Dow A Dow (NYSE: DOW) combina um dos mais amplos portfólios de tecnologia do setor com integração de ativos, inovação focada e escala global para alavancar um crescimento rentável e se tornar a empresa de ciência dos materiais mais inovadora, centrada no cliente, inclusiva e sustentável. O portfólio da Dow em materiais de desempenho, intermediários industriais e plásticos oferece uma ampla gama de produtos e soluções diferenciadas baseadas na ciência para nossos clientes em segmentos de alto crescimento, como embalagens, infraestrutura e cuidados do consumidor. A Companhia opera 113 fábricas em 31 países e emprega aproximadamente 37.000 funcionários. A Dow teve vendas pro forma de aproximadamente US$ 50 bilhões em 2018. Referências à Dow ou à Companhia significam a Dow Inc. e suas subsidiárias. Para mais informações, acesse www.dow.com ou siga @DowNewsroom no Twitter."