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Mancha de óleo por navio no Rio Grande do Norte pode não explicar origem de vazamento

Lapis está analisando a imagem do satélite Sentinel-1A, do dia 24 de julho de 2019

Por Letras Ambientais 01/11/2019 17h55
Mancha de óleo por navio no Rio Grande do Norte pode não explicar origem de vazamento
Reprodução - Foto: Assessoria
Na manhã desta sexta-feira, dia 1º de novembro, a Polícia Federal deflagrou a “Operação Mácula”, para investigar a origem e autoria do derramamento de óleo no Litoral do Nordeste, próximo ao Rio Grande do Norte. O desastre ambiental já atingiu mais de 286 localidades, desde 30 de agosto de 2019. A Polícia Federal suspeita que o óleo tenha sido derramado de um navio petroleiro, de origem grega, em alto mar, a 700 km da Costa brasileira. Em referência à mancha divulgada pela Polícia Federal, o pesquisador Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), afirmou, em nota, que já tinha conhecimento do vazamento de óleo, próximo ao Rio Grande do Norte. Todavia, ele chama atenção que a mancha de óleo, divulgada nesta sexta-feira, pode não ser suficiente para explicar a origem do desastre ambiental no Nordeste. O Laboratório está analisando a imagem do satélite Sentinel-1A, do dia 24 de julho de 2019, que capturou a mancha nas proximidades do Rio Grande do Norte, assim como outros dados de satélites que podem fornecer novas pistas para as investigações. Na imagem de satélite abaixo, do dia 24 de julho, foi detectada uma mancha de um fluido, possivelmente associado a petróleo, seguida por dois navios (um de grande porte e um de pequeno porte). O de pequeno porte está mais próximo à mancha, podendo ser o responsável pelo possível vazamento. Imagem de satélite mostra mancha de óleo com 85 km de extensão, próximo ao RN (Fonte: Lapis) No momento em que o satélite capturou a imagem, o ponto mais próximo que a mancha estava da Costa, no Litoral Norte do Rio Grande do Norte, era cerca de 40 km. A mancha foi registrada com 85 km de extensão e 0,9 km de largura. É possível que ela seja mais extensa, pois o satélite não cobriu a mancha por completo. O pesquisador Humberto Barbosa ressalta que esta é uma das imagens que têm sido utilizadas no levantamento feito pelo Laboratório, visando “montar o quebra-cabeça” e encontrar a origem do vazamento. Mas ele chama atenção que há vários outros pontos semelhantes, localizados na bacia do Atlântico Sul (próximo ao Nordeste), também associados a manchas de óleo. É o caso da enorme mancha encontrada pelo Lapis, na última segunda-feira, dia 28 de outubro, nas proximidades da Costa da Bahia, com impressionantes 84 km de extensão, 6 km de largura e 47 metros de densidade. Outras manchas de óleo estão sendo analisadas no Litoral do Nordeste (Fonte: Lapis) Barbosa também observou que, ao longo da extensão da mancha de óleo encontrada próximo ao Rio Grande do Norte, um trecho dela está descontínuo, desapareceu, podendo já ter afundado no momento em que o satélite capturou a imagem. Mancha de óleo por navio não é contínua (Fonte: Lapis) “As várias manchas de óleo que localizamos no Oceano Atlântico Sul, próximo ao Nordeste, ora estão relacionadas a possíveis vazamentos de navios, ora a fluidos vindos do subsolo do fundo do mar. Inclusive, em alguns trechos, próximos à área portuária do Espírito Santo, foram detectadas manchas de óleo nas imagens de satélites. Porém, essas imagens ainda não foram analisadas, com o intuito de esclarecer a possível origem do vazamento”, destaca Barbosa. O pesquisador ressalta também que a enorme quantidade de resíduos coletados nas praias do Nordeste, até o momento, podem não ser explicadas apenas por um vazamento de um navio na superfície. “Possivelmente, está ocorrendo um vazamento maior abaixo da superfície do mar. Localizamos várias manchas de óleo no Oceano e o desastre ambiental talvez não seja explicado apenas por uma origem de vazamento”, completa. Dinâmica de óleo jorrando do fundo do mar (Imagem: Reprodução) Barbosa destacou ainda que é preciso comparar a capacidade de transporte de petróleo do navio-cargueiro que possivelmente vazou o óleo no Litoral do Rio Grande do Norte, com as toneladas de resíduos coletados nas praias. Além disso, a questão é mais complexa, pois pela densidade do material, muitos resíduos estão no fundo do mar. Os fatores meteorológicos, especialmente os ventos e as correntes marítimas, também tornam a análise ainda mais complexa, pois podem tanto afundar quando arrastar o material. O meteorologista Humberto Barbosa destaca que a dinâmica não é linear. Por exemplo, a grande mancha localizada no Litoral da Bahia, em imagem de satélite do último dia 28 de outubro, estava próxima ao município de Prado (BA). Porém, somente desde ontem, dia 31 de outubro, e hoje, dia 1º de novembro, chegaram resíduos às praias do município baiano. “Isso ocorre porque a Bahia está recebendo ventos vindos do Leste. A análise da dinâmica dos ventos e correntes que carregam o material explica porque o petróleo não é transportado necessariamente para o município mais próximo, onde está localizada uma grande mancha. Grande parte dos resíduos podem afundar”, completa Barbosa. O Lapis continua realizando as análises por satélites, utilizando a mesma metodologia e técnicas utilizadas na detecção de óleo divulgada na última terça-feira, dia 29 de outubro, nas proximidades da Bahia. Todos os resultados das investigações estão sendo enviadas pelo LAPIS à Comissão Externa do Senado Federal, que investiga vazamento de óleo no mar do Nordeste.