Cidades

Marinha e Ibama rebatem hipótese levantada por pesquisador sobre origem de óleo

'Localização do óleo é algo muito maior que derramamento acidental', diz pesquisador

Por Reportagem: Lucas França 30/10/2019 18h54
Marinha e Ibama rebatem hipótese levantada por pesquisador sobre origem de óleo
Reprodução - Foto: Assessoria
O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), detectou na segunda-feira (28), a partir de satélites, um padrão característico de manchas de óleo no oceano que pode explicar a origem da poluição no Litoral do Nordeste. No entanto, os órgãos envolvidos nas investigações contestam a ligação da imagem com as manchas de óleo. De acordo com o laboratório, a imagem captada é padrão característico de manchas de óleo no oceano, em formato de meia lua, com 55 km de extensão e 6 km de largura, distante 54 km da costa da Bahia, nas proximidades dos municípios de Itamaraju e Prado. “Encontramos uma assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar. Com isso, levantamos a hipótese de que a poluição pode ter sido causada por um grande vazamento em minas de petróleo ou, pela sua localização, pode ter ocorrido até mesmo na região do Pré-Sal”, explica o pesquisador Humberto Barbosa do Lapis. O pesquisador ressalta que toda aquela região sedimentar, observada está nas proximidades de áreas de exploração de petróleo, conforme mapeamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Barbosa já havia encontrado em datas retroativas dos últimos sessenta dias, manchas menores de óleo no mar, a partir de imagens de satélite. Todavia, como as imagens anteriores mostravam o piche já fragmentado, não havia como identificar o padrão de vazamento. https://tribunahoje.com/noticias/cidades/2019/10/30/laboratorio-detecta-imagem-de-satelite-que-pode-explicar-origem-do-oleo-no-nordeste/ Em nota, a Marinha rebateu a hipótese e afirmou que foram feitas quatro avaliações para descartar a informação lançada pelo Lapis: consulta a especialistas do ITOF (Fundo Internacional de Poluição de Petroleiros, na sigla em inglês), monitoramento aéreo e por navios na região e satélite. “É importante frisar que a gravidade, a extensão e o ineditismo desse crime ambiental exigem constante avaliação da estrutura e dos recursos materiais e humanos empregados, no tempo e quantitativo que for necessário”. O Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais (Cenima), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), concluiu que não é plausível associar tal feição suspeita registrada na imagem de radar do Satélite Sennel 1A como feição com caracteres de derramamento oleoso. “Da análise e contextualização denota-se que, após observação da textura da feição, em conjunto a pesquisa mulespectral (radar e sensor óco), além do devido estudo das condições meteorológicas locais; concluímos que a Imagem Publicada sob responsabilidade do Professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que se apresenta destacada na Figura 3 não se trata de óleo, podendo ser uma célula meteorológica em condições de atividade intensa’’. Na explicação do especialista somente na segunda (28), encontrou uma imagem mais completa que permitiu uma maior precisão sobre o padrão característico do vazamento. A detecção foi complementada com o levantamento de informações sísmicas e de outras variáveis do local. A análise exigiu uma grande capacidade computacional, de processamento e de análise instalada no Laboratório. Foram utilizadas sofisticadas técnicas de processamento que permitiram realçar o contraste das manchas de óleo na água, separando o sinal de manchas de petróleo de qualquer outro ruído. “É como a montagem de um quebra-cabeça, com peças muito dispersas, que são as manchas muito espalhadas pelas correntezas no Litoral do Nordeste do Brasil, principalmente nas faixas costeiras. De repente, você encontra uma peça-chave, mais lógica, foi o que ocorreu ontem ao encontrar essa imagem. Foi a primeira vez que observamos, para esse caso, uma imagem de satélite que detectou uma faixa da mancha de óleo original, ainda não fragmentada e ainda não carregada pelas correntezas”, explica Barbosa. Na terça-feira (29), o Laboratório comunicou à Comissão do Senado, responsável pelo acompanhamento da poluição por óleo no Nordeste, a detecção realizada na segunda-feira (28) a partir de imagens de satélites. O pesquisador afirma que, pela localização do óleo, é algo muito maior do que um mero derramamento acidental ou proposital de óleo, a partir de um navio, é um vazamento que está abaixo da superfície do mar, consequência de perfuração. LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO NA EDIÇÃO IMPRESSA DA TRIBUNA INDEPENDENTE DESTA QUINTA-FEIRA (31)