Cidades

Pinturas de protesto se espalham pelo bairro do Pinheiro

Frases de revolta e insatisfação estampadas em vários imóveis chamam a atenção para o drama vivido por moradores da região

Por Lucas França com Tribuna Independente 22/10/2019 08h56
Pinturas de protesto se espalham pelo bairro do Pinheiro
Reprodução - Foto: Assessoria
Frases como “O sonho da casa própria, é agora um pesadelo’’, “Sonhos destruídos. Essa casa foi invadida, depredada e está rachada. Quem pagará por isso?”, “#justiça’’, “Aqui morava uma família’’, entre outras mensagens ganharam repercussão nas redes sociais e mais adesão dos moradores do bairro do Pinheiro, que estão protestando de forma silenciosa para chamar a atenção para a situação do bairro. A ideia de grafar as paredes dos muros e portões começou com Maria Auxiliadora Gaia, proprietária de um imóvel no Pinheiro. Ela conta a reportagem da Tribuna Independente que esta foi a forma de chamar a atenção para o drama enfrentado pelos moradores dos bairros afetados por afundamento. “A iniciativa além de ganhar repercussão, incentivou outros moradores a seguir com a ideia’’. Apesar de “deserto’’, quem passa pelo bairro nota um maior número de casas com várias frases que manifestam o sentimento de seu donos, devido ao descaso e falta de apoio. Gaia explica que a ideia foi fazer algo que expressasse de fato o sentimento vivido por ela e outras centenas de moradores. “Colocamos as frases e ficou muito bom. Gerou uma repercussão enorme. Está se espalhando na internet, muita gente compartilhando em várias partes do país”, contou. PROTESTO De acordo com Sebastião Vasconcelos, liderança comunitária do bairro, desde setembro os moradores se reuniram e contrataram um profissional para que outros imóveis também recebessem a pintura. “Não tenho como dizer a quantidade de imóveis que aderiu a essa manifestação, mas já são muitos. E na próxima semana outros moradores também devem aderir. Já sinalizaram isso. Foi um meio mais barato de continuar mostrando que o bairro precisa de ajuda e apoio. Essas pinturas estão sendo feitas nas casas que estão desocupadas e nos prédios. Inclusive muitas dessas já foram depredadas por vândalos. É uma forma de mostrar todo o nosso sofrimento”. Vasconcelos desabafa que atualmente está difícil sair matérias relacionadas à situação. “Foi um maneira mais econômica, já que os moradores não tem dinheiro para colocar alguma matéria na imprensa tradicional. Hoje, está difícil, a mineradora está trabalhando maciçamente a imprensa, foi à forma de mostrar nossa revolta.” Mineradora diz que já avançou com propostas do Acordo de Cooperação   A reportagem entrou em contato com a Braskem, apontada no relatório da CPRM (Serviço Geológico do Brasil) como a responsável pelo ‘afundamento’ do bairro, para saber em que etapa está à ação que a mineradora vem fazendo na região para minimizar os problemas e se tinha conhecimento do protesto. [caption id="attachment_334866" align="aligncenter" width="640"] Revolta é traduzida pelas frases de impacto que foram pintadas nos muros de casas e prédios residenciais (Foto: Adailson Calheiros)[/caption] Em relação às ações, a empresa informou que já avançou com a maioria das propostas do Acordo de Cooperação: inspeção da principal rede do sistema de drenagem pluvial do Pinheiro com câmeras semirrobotizadas de alta tecnologia; instalação de uma estação meteorológica; inspeção predial de quatro escolas e dois conjuntos habitacionais localizados em áreas críticas; e doação e montagem dos equipamentos da Central de Monitoramento da Defesa Civil, que já está pronta para operação. E disse ainda, que a petroquímica continua trabalhando nas obras de recuperação do pavimento de ruas danificadas por conta de trincas no Pinheiro e na substituição da rede de drenagem pluvial nesses locais. Os trechos das vias públicas e as soluções para cada área foram definidos juntamente com o Município de Maceió e o objetivo é garantir a segurança e a trafegabilidade, além de reduzir o risco de infiltrações de água no solo através das trincas. Além disso, ressaltou que a empresa está focada na realização de estudos para o entendimento completo do fenômeno registrado nos bairros de Maceió, considerados fundamentais para que se possa identificar as causas e propor soluções adequadas para a população. A empresa informou ainda que também segue realizando as ações de mitigação definidas em acordo de cooperação técnica firmado com os Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea-AL) e Município de Maceió. Já em relação ao protesto silencioso dos moradores, a empresa não se pronunciou.