Cidades

CPRM reafirma laudo em resposta técnica à Braskem

Serviço Geológico do Brasil destaca, mais uma vez, atividade de mineração como responsável por afundamento de bairros

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 13/07/2019 10h29
CPRM reafirma laudo em resposta técnica à Braskem
Reprodução - Foto: Assessoria
Em resposta a questionamentos feitos pela Braskem sobre os estudos desenvolvidos ao longo de um ano, o Serviço Geológico do Brasil disponibilizou em seu site oficial um novo documento com 41 páginas onde reafirma que a atividade de mineração causou o afundamento, tremores e instabilidade no solo dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. “O estudo da CPRM é definitivo quanto à causa-gatilho (nexo causal) do fenômeno que ocorre nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. É importante lembrar que foram levantadas nove causas a serem investigadas quando a sua possibilidade de representarem a causa-gatilho do fenômeno observado inicialmente no Pinheiro. Elas foram reunidas em quatro grupos. Dezenas de profissionais debruçaram-se na investigação de cada uma delas para avaliar a possibilidade que tinham de representar a causa-gatilho. Concluíram TODOS que os estudos apontam apenas a desestabilização das cavidades da extração de sal-gema como causa-gatilho”, reforçou o CPRM. De acordo com a publicação, os questionamentos foram feitos no dia 3 de junho pela empresa e respondidos dia 17 de junho – data constante no documento. Entre outros pontos, a Braskem questiona se resultados, como a avaliação das minas 30 e 31 precisam ser “reavaliados” pelo órgão federal. “O Serviço Geológico do Brasil entende que não foram apresentados, pela Braskem, dados que justifiquem a reavaliação das análises apresentadas no Quadro Síntese de Análise dos Sonares para as Minas 30D e 31D. Consideramos, também, que não tem respaldo a afirmação de ‘conclusão – por parte do Serviço Geológico do Brasil - sobre o desabamento das mesmas’, visto que essa análise foi apresentada como alternativa para explicar a elevação do fundo da mina proporcional a subida do topo da mina considerando, também, a ocorrência do sismo registrado pela rede sismográfica com epicentro coincidente em planta, com a projeção da Mina 30D”. Ainda de acordo com o CPRM, os sismos registrados pela Rede Sismográfica Brasileira registrados em fevereiro deste ano coincidem com as plantas das minas o que caracteriza “liberação gradual de energia” e atividade diferente dos eventos sísmicos tectônicos “tradicionais” do Nordeste Brasileiro. Além disso, o evento de 3 de março do ano passado é confirmado como atividade incomum às movimentações tectônicas características da região Nordeste. Em outras palavras, a Companhia reafirma que os tremores percebidos pela população, ou ainda os que são apenas registrados pelos equipamentos, têm relação com movimentação nas minas de sal. “A ocorrência de sismos, mostra o epicentro (projeção na superfície do hipocentro) de seis microterremotos observados entre os dias 1º a 11 de fevereiro de 2019. Segundo os dados sismológicos eles são caracterizados por liberação gradual de energia e, algumas vezes, existência de múltiplos eventos com duração de até 20 segundos, e assinatura não típica de eventos sísmicos tectônicos tradicionais geralmente observados no NE do Brasil. Tanto a mina M30 como a M31 estão localizadas nas zonas de afundamentos mostradas pela interferometria. Um dos epicentros ocorreu na posição da mina M30. A mina M31, por sua vez, encontra-se entre as minas M30 e M28-M2, estas três com registro de tremores este ano”, esclarece o texto. “Mineradora ‘já sabia’ da existência de falhas” A partir do método de gravimetria, o CPRM identificou que há uma zona de falha alinhada as minas “existe uma forte correlação entre a área de mineração e um alinhamento gravimétrico expressivo que foi interpretado como uma falha”. A Braskem também questionou o processo de identificação da “Falha do Mutange” por métodos indiretos. A falha geológica é descrita pelo CPRM como relacionada à atividade de mineração. “Esta zona de falha está localizada na área de mineração de sal e tem correlação com a região de subsidência observada nos dados de interferometria”, pontua o órgão federal. Para o CPRM a Braskem “já havia interpretado” as falhas existentes na região. [caption id="attachment_313233" align="aligncenter" width="300"] Técnicos investigaram evidências de risco geológico em bairro de Maceió por extração de sal-gema (Foto: CPRM)[/caption] “Antes mesmo da apresentação do relatório da CPRM em maio/2019, a Braskem já havia interpretado falhas na área de mineração de sal. Na apresentação denominada ‘INFORMAÇÕES DA BRASKEM’ de abril/2019, os dados de poços indicaram a existência de falha entre os poços M08 e M22, e outra entre os poços M31 e M28. Os dados de poços sugeriram a ocorrência de falhas entre os poços M32 e M09, M09 e M12 e, M22 e M23. Foi também identificada a ‘Falha Riacho do Silva’, com mesma direção de falhas interpretadas pela gravimetria”. O CPRM também afirma que as informações prestadas pela Braskem em audiência com o Ministério Público Federal (MPF) são “exageradas” e geraram modelo geológico “deformado”. “[Na figura 19] Seção geológica sem falhas apresentada pela Braskem no MPF de Alagoas. Observe que a Braskem exagerou a escala horizontal em relação à escala vertical, gerando um modelo geológico deformado”. Órgão federal reforça necessidade de continuidade Apesar de não conter informações “novas” em relação aos estudos realizados, o documento do Serviço Geológico do Brasil propõe a realização de novas etapas de estudo a fim de compreender os efeitos do fenômeno na região. “O Serviço Geológico do Brasil dará continuidade aos estudos dos processos de subsidência no bairro do Pinheiro e adjacências considerando que os estudos da CPRM são definitivos quanto à causa-gatilho (nexo causal) do fenômeno que ocorre nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Assim, não há possibilidade de revisão das conclusões, pois entende-se que ainda que possam surgir novos dados, estes não invalidariam as conclusões da instabilidade já anunciadas”. Monitoramentos interferométrico no período de 2019 e 2020, dos sistemas aquíferos, da Rede Sismógráfica, além da análise dos sonares, apoio às Defesas Civis e levantamentos sismológicos são elencados pelo Serviço como algumas das atividades necessárias. A reportagem da Tribuna Independente fez contato com a assessoria de comunicação do CPRM solicitando informações a respeito do cronograma das ações previstas para os bairros, no entanto, até o fechamento da edição não houve retorno. Sobre o assunto, a Braskem emitiu uma nota de esclarecimento, leia na íntegra: "A Braskem segue empenhada na busca das soluções que garantam segurança aos moradores dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange e, neste sentido, reafirma a importância da identificação das causas dos eventos que geraram instabilidade em tais bairros.  A empresa tem buscado a integração de esforços com todos os setores que podem contribuir para a compreensão da situação e segue empenhada na realização de exames adicionais dos poços e da região com apoio de empresas internacionais especializadas nesse tipo de questão. A Braskem continuará atuando na instalação de infraestrutura de segurança e em obras de mitigação que compõem o conjunto de ações acordado com a Defesa Civil, o Crea-AL e os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Essas ações têm como base o compromisso de mais de 40 anos que a Braskem mantém com a sociedade alagoana.", diz a empresa.