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Bombeiros afirmam que prédio onde aconteceu incêndio não era vistoriado desde 2008

Moradores criticam centrais 190 e 193, e bombeiros afirmam que hidrante não funcionou

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Hoje 29/05/2019 19h04
Bombeiros afirmam que prédio onde aconteceu incêndio não era vistoriado desde 2008
Reprodução - Foto: Assessoria
Na madrugada desta quarta-feira (29), um incêndio de grandes proporções atingiu o Edifício Maison Paris, na Jatiúca. Com uma vítima fatal e muitos danos materiais, o acidente mobilizou a vizinhança e só foi encerrado após as 8h da manhã. Segundo o capitão Vasconcelos, do Corpo de Bombeiros teve dificuldade para combater o incêndio porque o hidrante no prédio não funcionou. “Quando a gente chega no local para fazer o combate utiliza o hidrante de recalque. Chega com a viatura e utiliza a nossa mangueira para puxar a agua. A gente fez isso, mas a água não saia com pressão”, relatou o capitão. Ele explica que precisou pegar mangueiras por dentro da edificação com isso perderam muito tempo, teve mais trabalho para combater o fogo. Ele afirma que o sistema existe o sistema, mas não estava funcionando com plenitude. “Nosso objetivo não é punitivo, mas queremos alertar para que os moradores peçam anualmente a vistoria. Muitas vezes esquecem. A última vistoria dessa edificação é de 2008”.

Capitão Vasconcelos, do Corpo de Bombeiros, alerta condomínios sobre necessidade de fazer vistoria anualmente (Foto: Edilson Omena)

O subsíndico, Paulo Nícolas, acredita que estava tudo em dia. “Temos extintores em todos os andares. E o hidrante na calçada foi usado. Água estava saindo daqui pelo que eu vi. Não posso afirmar de algo que não conheço”, respondeu. Segundo Paulo, o prédio possui seguro. Sobre a manutenção ele diz que é de responsabilidade da empresa que administra o prédio, mas lembra que periodicamente há uma troca de extintores. “É uma empresa renomada, quero crer que tudo isso está regularizado, não tem porque não estar”. Com causa ainda desconhecida pelos bombeiros, que estão aguardando o laudo da perícia, o incêndio começou no apartamento 402 e deixou danificados pelo menos outros 5 apartamentos. Os vizinhos dos dois lados, o de cima e o de baixo, segundo o subsíndico Paulo Nícolas.

Subsíndico relata momentos de terror durante a madrugada (Foto: Edilson Omena)

Marlene Lopes, de 56 anos, estava hospedada no apartamento do irmão que se recuperava de uma cirurgia e não conseguiu sair. Ela foi encontrada sem vida pelos bombeiros após as chamas serem cessadas. O bombeiro conta que a vítima foi provavelmente asfixiada. “A informação que a gente teve dos próprios familiares foi que eles chegaram a sair, mas ela voltou. A gente não sabe, se pra tentar apagar ou pegar alguma coisa. Ela ficou presa no quarto, a porta não abria. É bem provável de ela ter ficado encurralada pelo fogo, não conseguiu sair, teve asfixia. O corpo teve algumas queimaduras, mas a gente percebe que a morte não foi em decorrência da queimadura, foi da fumaça”. Moradores acusam centrais 193 e 190 de não atender a população O subsíndico do prédio, Paulo Nicolas, afirma que o pedido de socorro não foi atendido prontamente porque a central 193 (bombeiros) não estava funcionando e a central 190 (Polícia Militar) respondia que nada podia fazer, que incêndio deveria ser encaminhado para o 193. “Conversei com morador do prédio que mora em frente. Ele falou que viu o incêndio, ligou para o 190, informou que deveria ligar para o 193. Ele tentou por volta das 3h30, mas não conseguiu”, disse Paulo. https://www.youtube.com/watch?v=-UYfxGaY8E4 “Às 3h43 meu telefone tocou, era um vizinho do 5º andar. ‘Desça que o prédio está pegando fogo’. Peguei meus filhos, molhei toalhas, algumas camisas, coloquei no rosto deles e viemos descendo as escadas. À medida que descia eu via a fumaça aumentando, era impressionante a temperatura em tão pouco tempo. O grande receio era descer e não chegar até o térreo. No 4º andar percebemos que o incêndio era ali. Do 4º andar em diante não tinha tanta fumaça, notamos que íamos nos salvar”, relembra. Ao chegar embaixo, por volta das 3h53, tentou falar com os bombeiros e para a PM, e diz ter passado pela mesma situação que o vizinho de frente descreveu.

Corpo de Bombeiros ficou no local do incêndio até o final da manhã (Foto: Edilson Omena)

Segundo o subsíndico, o corpo de bombeiros chegou às 4h12. Apesar de criticar a central, ele elogiou o trabalho dos militares no local. “Não sou técnico para avaliar o trabalho, mas o que vi foram bravos guerreiros. O tenente-coronel Sandro e sua equipe trabalharam incansavelmente. Não sei avaliar as condições, não sei o que estava certo ou errado, mas posso aferir a demora das centrais 190 e 193. Houve uma falha grave”. Entre os moradores do prédio, algumas pessoas que estavam no 8º andar acordaram de forma tardia, e por isso não conseguiram descer. Eles subiram para a cobertura e ficaram na área da piscina. Os vizinhos do prédio ao lado alertaram os bombeiros, que tranquilizaram a todos depois que o fogo foi controlado. Os bombeiros relatam que combateram os focos até 8h da manhã. Depois ficaram até meio dia cuidando do rescaldo e do controle para que voltasse à temperatura normal. Depois acompanharam os moradores para que voltassem aos seus apartamentos que foram danificados ou não, para buscar algum pertence. “Pelo menos hoje, tendo em vista que os danos foram sérios no 4º pavimento, não poderão voltar”, disse o capitão Vasconcelos. Os engenheiros da construtora responsável pelo prédio estiveram no local e acreditam que não houve maiores danos, mas preferem fazer nova análise depois que o local tiver esfriado totalmente. Os moradores devem demorar entre 24 e 48 horas para voltar às suas residências, dependendo da liberação da perícia do Instituto de Criminalística. “A parte elétrica foi danificada porque há um cabo elétrico único que foi danificado. O gás foi cortado e a energia foi cortada no transformador para evitar curto-circuito”.