Cidades

Mercado de trabalho dificulta vida de quem quer se tornar mãe

Economista e pesquisadora diz que dificuldades enfrentadas entre as mulheres não são sentidas por homens que se tornam pais

Por Tribuna Independente com Emanuelle Vanderlei - Colaboradora 11/05/2019 12h14
Mercado de trabalho dificulta vida de quem quer se tornar mãe
Reprodução - Foto: Assessoria
Nas relações de trabalho, os problemas são ainda maiores. Segundo a economista e pesquisadora Marilane Teixeira, a forma que o mundo do trabalho está organizado exclui as pessoas que não se comportam dentro de um padrão. “Não há dúvida que um elevado número de mulheres abre mão da carreira para se tornar mãe. Porque elas enxergam uma incompatibilidade entre ser mãe e se dedicar a uma profissão. Não é um problema das mulheres, e sim um problema do mundo do trabalho”. Marilane explica que a classe social a qual a mulher pertence interfere ainda mais, já que as mulheres mais pobres não têm como pagar uma babá e dependem de políticas públicas, como uma creche, por exemplo. Que muitas vezes não têm vagas suficientes. Mas mesmo entre as mulheres de classe média há dificuldades enfrentadas pelas mulheres, que normalmente não são sentidas por homens que se tornam pais. “Muitas mulheres adiam a maternidade para mais tarde para poder seguir a carreira. E tem o inverso, as que abrem mão da carreira para se tornarem mães. Tem  também a ideia de que as mulheres têm o dom natural da maternidade, que isso deve ser colocado em primeiro plano. Especialmente nesse momento de muitos retrocessos econômicos políticos e sociais, os direitos das mulheres são permanentemente questionados. Como se elas não tivessem legitimidade para estar nos espaços públicos”, destaca a economista. Ser mãe não deveria ser visto como um impedimento para participar do mercado de trabalho. A sociedade e o estado têm que prover políticas públicas e as mulheres que devem decidir se querem ou não ter filhos. Na prática, a maioria das empresas vê em mulheres que têm filhos um potencial menor para crescimento profissional. É muito comum ter casos de mulheres que perdem o emprego ou a chance de promoções, depois que voltam da licença maternidade. Culturalmente, a maior parte da carga recai sobre a mulher. Para além do trabalho reprodutivo, que só pode ser feito por ela, as mulheres costumam ser responsabilizadas por maior parte dos trabalhos de cuidado com os filhos. Isso é levado em conta pelo empregador, que vê de forma negativa a sua presença. Ao contrário dos homens que se tornam pais e começam a ser vistos como mais “confiáveis” e “estáveis” para a empresa. Há casos ainda mais graves, em que relações de trabalho são rompidas ainda durante a gravidez. É o caso de J. V. que diz ter sofrido com perseguição e até demissão durante sua gravidez. “Eu trabalhava 40 horas. Tive umas complicações no útero. Então o médico recomendou certos cuidados e recebi um atestado dizendo que até os 3 meses eu não poderia viajar lá pelo município”. Ela pediu ao empregador para ficar esses três meses na área urbana apenas, fazendo os atendimentos na cidade, sem ir pra área rural, mas foi negada. “Ou eu continuava indo colocando minha gravidez em risco, ou eu diminuiria minha carga horária pra eles poderem contratar outra pessoa. Decidi diminuir a carga horária, aí depois de pouco tempo fui demitida com cinco meses de gravidez. No mesmo período eles colocaram mais duas grávidas para fora”. Apesar de contar com o apoio da família, ela ficou bastante abalada. “Não consegui amamentar, precisei ser acompanhada por psiquiatra por um tempo, entrei na medicação controlada”. “É muito gratificante ver o amor sendo construído” Mesmo com toda essa “vida real”, todas são categóricas em declarar a satisfação com os resultados. “Eu acho que toda mulher deveria passar por essa experiência, porque é transformador. Você gerar uma criança dentro de você é uma coisa muito louca”, recomenda Mariana. Carolina descreve o amor que foi descobrindo ao acompanhar o crescimento da filha. “É super gratificante ver essa interação. A construção dessa relação é uma coisa que eu acho que é importante falar. Comigo quando ela nasceu, que eu olhei para ela, não existiu aquele amor materno que é maior do que tudo na vida. Na relação que vai sendo construída e que o amor também vai sendo construído mudando e crescendo, você vai se apaixonando por aquele serzinho. A gente vem criando esse laço, esse vínculo que fica cada vez mais forte melhor”. “No momento que ela chora, ela pode estar no colo de quem for, quando ela vem para o seu ela se acalma”, descreve Mariana. A recompensa afetiva é mencionada por mães de todas as idades, classes sociais. O amor materno aparentemente não tem um formato padrão. Seja com presentes caros ou demonstrações de afeto, a adesão ao dia das mães está presente para a maioria. E as imagens bonitas que enchem as páginas das mídias sociais são também a tradução de uma parte importante e cotidiana da maternidade, segundo elas.